Relatório especial do Global Engajement Center Exportando desinformação em favor do Kremlin: o caso da Nova Resistência no Brasil
State Department
Global Engagement Center
19 de Outubro de 2023
O Kremlin usa tanto redes abertas como ocultas a fim de manipular informação e disseminar ideologias antidemocráticas e autoritárias ao redor do mundo. Um exemplo é a Rede de Sincrética de Desinformação (SDN), que inclui o movimento New Resistance (Nova Resistência no Brasil), o portal de notícias Fort Russ News (FRN) e o Centro para Estudos Sincréticos (CSS).
A New Resistance, o FRN e o CSS tentam parecer organizações autênticas e locais, mas na verdade elas têm e cultivam laços estreitos com atores russos conhecidos por suas influências malignas.
Todas elas promovem ideologias neofascistas do filósofo russo Aleksandr Dugin, cuja Quarta Teoria Política (4PT) busca unir grupos de extrema direita e extrema esquerda ao redor do mundo visando desestabilizar a democracia e derrubar a ordem internacional baseada em regras.
As conexões das organizações com atores malignos conhecidos no ecossistema de desinformação e propaganda da Rússia, seu histórico de destacar combatentes para ajudar na invasão da Rússia na Ucrânia e seus esforços para formar um grupo de toda a América Latina de organizações revolucionárias nacionalistas pró-Rússia devem ser um importante motivo de preocupação.
Sumário executivo
A New Resistance é uma organização neofascista quase paramilitar que opera na América do Sul, na Europa e na América do Norte com profundas conexões com pessoas físicas e jurídicas no âmbito do ecossistema de desinformação e propaganda da Rússia. Juntamente com o site de propaganda em inglês Fort Russ News (FRN) e o pseudo think tank autoritário Centro para Estudos Sincréticos (CSS) – ambos inativos desde fevereiro de 2022 – a New Resistance foi formada por uma rede de desinformação e propaganda pró-Kremlin e foi inspirada por Aleksandr Dugin, “filósofo” russo alvo de sanções pelos EUA e principal proponente de um movimento imperialista eurasiano antiocidental liderado pela Rússia.
A rede, doravante denominada Rede Sincrética de Desinformação (SDN), promove agressivamente a Quarta Teoria Política (4PT) de Dugin, que procura unir os movimentos de extrema-direita e de extrema-esquerda, com o objetivo de destruir a ordem pós-Segunda Guerra Mundial.
A New Resistance apoia ativamente regimes autoritários tanto à esquerda como à direita na esfera mundial e promove os objetivos geopolíticos do Kremlin de desestabilizar democracias e minar a ordem internacional baseada em regras.
A Nova Resistência, divisão brasileira da New Resistance, é particularmente ativa e trabalha para ampliar a influência maligna da New Resistance em toda a América Latina. A Nova Resistência coorganiza eventos com Dugin, que incluem autoridades russas de alto escalão e seminários e cursos de capacitação “acadêmicos” em seu canal do YouTube e em seu site com professores, historiadores e filósofos locais e internacionais.
O site da Nova Resistência – registrado em Moscou – publica regularmente desinformação pró-Kremlin e pró-autoritária, comparável, em termos de conteúdo e tempo, a meios de comunicação com vínculos conhecidos com a inteligência russa. Membros do grupo têm se reunido repetidamente com representantes de Belarus, Coreia do Norte, Síria e Venezuela, e têm expressado abertamente seu apoio pelo Hezbollah, organização terrorista apoiada pelo Irã.
Regionalmente, a Nova Resistência foi fundamental para a criação de um grupo de “organizações nacionalistas e revolucionárias” com ideais semelhantes em toda a América Latina. Os esforços da organização não se limitam à coordenação política e à filosofia, estendendo-se também ao apoio a atividades paramilitares.
Além da propaganda aberta e da desinformação da Nova Resistência em apoio à guerra da Rússia contra a Ucrânia, a organização tem se envolvido em esforços visando mobilizar brasileiros a fim de lutar ao lado da Rússia e de seus representantes na região de Donbass, no leste da Ucrânia.
A FRN, componente midiático agora inativo da Rede Sincrética de Desinformação, disseminou desinformação e propaganda pró-Kremlin sobre tópicos que vão desde as operações militares da Rússia na Ucrânia e na Síria até à desinformação sobre a Covid-19, questões sobre a legitimidade eleitoral e propaganda sobre as mudanças climáticas.
Quando começou a operar em 2014, a FRN se concentrou principalmente em traduzir e amplificar a desinformação e a propaganda do Kremlin dirigidas ao público estrangeiro, bem como em promover sites ligados ao Kremlin — incluindo aqueles identificados pelo governo dos EUA como sendo controlados, dirigidos, encarregados ou influenciados pelos serviços de inteligência ou militares da Rússia.
A mídia pró-Kremlin de língua russa, por sua vez, tentou retratar a FRN como um meio de comunicação ocidental confiável e citou seu conteúdo para fins de propaganda dentro do país. A FRN foi encerrada, por razões desconhecidas, em fevereiro de 2022, poucos dias antes de a Rússia lançar a sua invasão em grande escala contra a Ucrânia.
Fundado em 2013, o Centro de Estudos Sincréticos (CSS) serviu como um verniz pseudo-acadêmico para as atividades de desinformação e propaganda da FRN, até que também entrou em um aparente hiato poucos dias após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022 — novamente por razões desconhecidas.
O CSS também foi usado para traduzir muitos dos escritos de Aleksandr Dugin e ajudou a divulgar suas ideias por meio de artigos, workshops e seminários.
Pessoas físicas por trás da Rede Sincrética de Desinformação têm cooperado regularmente com pessoas jurídicas ligadas a intervenientes que sofreram sanções dos EUA e ligadas ao governo russo, conhecidas por servirem como representantes das operações globais de influência maligna de Moscou, incluindo Aleksandr Dugin, Konstantin Malofeyev e Yevgeniy Prigozhin. Pessoas físicas da SDN e CSS também contribuíram para sites atribuídos aos serviços de inteligência da Rússia pelo governo dos EUA. Essa Rede utiliza a desinformação e a propaganda do Kremlin com o objetivo de tentar desestabilizar as democracias, se envolver no apoio a atividades militares revanchistas através de grupos quase paramilitares e subverter a ordem internacional baseada em regras.