A polícia sob ataque: ofensivas na dimensão informacional

ERICH NELSON CARDOSO HOFFMANN[1]

A afirmação de que a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) tem sofrido ataques, denunciada em recentes reportagens da revista Oeste,[2] do Jornal da Jovem Pan,[3] e por outras plataformas, levanta questionamentos importantes sobre a existência de ofensivas informacionais. Ao analisar tais fatos sob uma perspectiva bibliográfica, este artigo busca responder inicialmente às seguintes perguntas: existem evidências que sustentem a tese de que a polícia militar está sob ataque? Que tipo de agressões estão sendo perpetradas? Quais são os danos que esse tipo de ofensiva, repetida por figuras públicas e disseminada exaustivamente, pode causar à sociedade?

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma síntese crítica de estudos sobre ofensivas informacionais, confrontando o conteúdo acadêmico com a realidade prática – boots on the ground.[4] A análise se concentrará na relação entre a velha mídia, ideologias políticas, a Polícia Militar e seus impactos na segurança pública brasileira, visando contribuir para um debate mais profundo sobre o tema.

Ao pensarmos em ataques contra as polícias, geralmente imaginamos ações violentas na dimensão física,[5] como agressões por parte de criminosos violentos ou manifestantes agressivos. No entanto, a era da informação[6] impôs às polícias um desafio crescente, as chamadas ofensivas informacionais.[7] Esse fenômeno, comum na história das guerras ou dos grandes conflitos, ganha cada vez mais força no contexto da segurança pública atual, impondo uma grande ameaça às forças policiais. No caso da polícia militar paulista, por exemplo, esses ataques têm o potencial de sabotar resultados positivos, comprometer o combate ao crime, minar a confiança da população e desmotivar os policiais.

É nesse contexto que se constata que os desafios enfrentados pela polícia transcendem o confronto com criminosos comuns. Atualmente, as forças policiais são alvo de ofensivas simultâneas e complexas. A vitória, antes associada exclusivamente ao domínio físico das ruas, tornou-se mais elusiva. A PMESP, apesar de ter obtido resultados expressivos na redução dos índices criminais,[8] com grandes e frequentes apreensões,[9] aprimoramento de suas equipes e adoção do Modelo de Excelência da Gestão® (MEG), atingindo resultados espetaculares, com comprovado avanço significativo, ainda enfrenta dificuldades em garantir a percepção de segurança positiva da população.

Como ponto de partida para uma análise detalhada do tema, elencamos três características que singularizam as ofensivas informacionais em relação aos desafios convencionais enfrentados pela polícia:

•        O tomador de decisão é o alvo estratégico: a tomada de decisão eficaz depende de informações precisas e confiáveis. Ao inundar o ambiente informacional com fake news, rumores e opiniões polarizadas, atores mal-intencionados criam cenários de incertezas e dúvidas, dificultando a análise crítica da situação e a escolha da melhor alternativa. O ser humano, incluindo tomadores de decisão, é suscetível a diversas distorções cognitivas, entre as quais a “confirmação de vieses” – tendência a buscar informações que confirmem suas crenças – e o “efeito manada” – tendência a seguir a opinião da maioria. Ofensivas informacionais exploram desvios cognitivos para manipular a percepção e controlar decisões e julgamentos. Com isso, proporciona uma vantagem estratégica aos atacantes, que não necessariamente pretendem destruir seus alvos, mas controlá-los.  

•        É desafiador, senão impossível, atribuir com precisão a autoria de ataques informacionais: embora o primeiro parágrafo deste texto traga citações jornalísticas que apontem possíveis autores, não significa que eles sejam os mentores. Estudiosos sobre o tema indicam que é muito complexo determinar quem está na coordenação ou quem é o responsável intelectual por uma ameaça híbrida. O uso de proxies,[10] ou seja, intermediários que ocultam a identidade dos atacantes, é muito comum nesses casos.

•        A natureza difusa das ofensivas informacionais dificulta a sua clara identificação como um ataque: a camuflagem do próprio ataque é outra característica de uma ofensiva informacional. Ao disfarçar suas ações e simular atividades legítimas, os atacantes conseguem operar fora do radar, evitando a detecção e a resposta dos alvos. Essa estratégia permite que eles maximizem o impacto de seus ataques, prolonguem suas operações e minimizem ou eliminem o risco de retaliação.

Nas próximas seções, apresentaremos uma breve exposição sobre ofensivas informacionais. A revisão da literatura revelou uma ampla gama de termos e conceitos utilizados para descrever esse fenômeno, impossibilitando uma delimitação precisa. Entre os principais, destacam-se a guerra informacional, a guerra de 5ª geração e a guerra cognitiva, além de outros como guerra de informações[11] e guerra neocortical,[12] cada qual com suas nuances e especificidades. No entanto, todos convergem para a ideia central da utilização da informação como instrumento de poder.

A guerra informacional e a era da informação

Embora o termo “guerra informacional” apresente diversas nuances e seja interpretado de forma distinta por diferentes autores, suas raízes remontam aos primórdios dos conflitos humanos, muito antes da era da informação. É inegável, no entanto, que esse fenômeno ganhou proeminência nos dias atuais e constitui o foco central deste estudo. Para fins deste trabalho, consideraremos a guerra informacional como o uso estratégico da informação como arma, com o objetivo de alcançar vantagens políticas, econômicas, militares ou criminosas. Esse conceito engloba a coleta, análise, disseminação de informações e desinformação,[13] a manipulação[14] de opiniões públicas, e outros tipos de ataques na dimensão informacional.

O Cel EB Visacro, em seu livro “A Guerra na Era da Informação” (2018), apresenta um conteúdo único no Brasil, em que destaca as atividades ilícitas e práticas criminosas nesse contexto. A partir dessa perspectiva, o autor levanta questionamentos cruciais: como interpretar a crescente desordem e barbárie retratadas diariamente nos noticiários? A estrutura conceitual que orienta as políticas de segurança e defesa do Estado atende de forma satisfatória às demandas da sociedade? Os tradicionais preceitos teóricos e doutrinários que orientam as instituições policiais ainda são capazes de oferecer respostas eficazes aos novos tipos de ameaça?

Ao analisar a descrição feita por Visacro, é fácil constatar que o fenômeno também atingiu o cenário de atuação do policial. Percebemos que a polícia está exposta negativamente pela velha mídia e grupos políticos que submetem os policiais a um escrutínio público intenso e ofensivo. A disseminação rápida e ampla de informações, muitas vezes distorcidas ou falsas, gera uma imagem enviesada da polícia, e destrói, subsidiariamente, a percepção de segurança.

A opinião pública (ou melhor, a opinião publicada), moldada por narrativas sensacionalistas e pela disseminação de ódio à polícia, exerce uma pressão cada vez maior sobre os policiais. A missão primordial da imprensa de informar a população cedeu lugar às divulgações de conteúdos afastados da verdade em alguns casos.

Por conseguinte, a constante ofensiva informacional impõe uma carga excessiva aos policiais, que veem-se obrigados a dedicar cada vez mais tempo e recursos à defesa, em detrimento de suas atividades de proteção da população e combate à criminalidade. E o mesmo acontece com comandantes e governantes, não conseguem focar e decidir priorizando a ciência policial e a busca pela excelência dos resultados. São compelidos a arcar com uma série de consequências políticas e jurídicas negativas gestadas na dimensão informacional. A incerteza sobre o impacto de suas ações e decisões, no chamado “dia seguinte da ocorrência polícia”, moldado pela mídia e por grupos políticos, cria um ambiente de trabalho instável e vulnerável.

Citando o escritor venezuelano Moisés Naím,[15] Visacro ainda destaca que sempre houve revoluções tecnológicas, mas a que se vive atualmente tem uma “dimensão sem precedentes, e afeta com uma velocidade espantosa quase todas as atividades humanas”. Trazendo ainda P. Michael Phillips, “nosso maior perigo não é o ambiente mundial em mutação, mas a nossa relação com ele”, de modo que concepções reducionistas e simplistas são incompatíveis com o mundo pós-industrial. Isso tudo ainda aliado ao crescimento de atores armados não estatais levou o Departamento de Defesa americano a declarar em 2008 que a guerra irregular era agora tão importante quanto as formas tradicionais de beligerância protagonizadas pelos “grandes exércitos de aço”.[16]

Visacro acerta ao afirmar que “para a perplexidade dos soldados mais ortodoxos, não há frentes, flancos ou retaguarda”. Se antes, quando os conflitos ocorriam primariamente na dimensão física, havia delimitações geográficas claras do teatro de operações, agora essa possibilidade não existe mais: as fronteiras de atuação do policial tornaram-se difusas, permitindo ameaças cada vez mais furtivas. E quanto mais avançada a tecnologia da informação, mais o front aumenta, ou seja, não há um limite propriamente dito. A dimensão física, conquanto importantíssima, perdeu a hegemonia e agora divide espaço no planejamento estratégico com as demais ameaças. Os conflitos contemporâneos são caracterizados por sua volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, como bem definiu o Army War College dos Estados Unidos. Essa natureza caótica dos conflitos modernos tem evoluído e se manifestado em cenários ainda mais complexos: não lineares, em constante mutação e incertos.

A era da informação afetou os marcos temporais do início e do fim dos conflitos, tornando-os obscuros. Dir-se-ia zonas cinzentas,[17] ou seja, a aparente ausência formal de guerras não significa que uma sociedade esteja em paz. Consequentemente, um estado de “não paz” permanente é mantido na sociedade, e o simples uso do poder bélico não é mais capaz de fazer frente às questões culturais e psicossociais latentes. Na era da informação, num contexto de guerra informacional a ocorrência policial não mais se encerra quando é lavrado o boletim de ocorrência ou nas peças burocráticas do flagrante. O desfecho acontece fora da dimensão física, no ambiente que engloba a percepção da população e dos tomadores de decisões. Diante de ofensivas informacionais, a compreensão e as capacidades cognitivas são moldadas por técnicas cada vez mais refinadas.  

Nesse contexto, anotamos algumas consequências:

  •  Efeito ferguson:[18]  Termo que surgiu de estudos cujos resultados apontaram que, quando a polícia sofre esse tipo de ofensiva, a criminalidade tende a aumentar vertiginosamente.
  •  Perda de credibilidade: A disseminação de informações falsas e a manipulação da narrativa contra a polícia vão minar a confiança da população na instituição. Isso dificulta o trabalho policial, pois a cooperação da comunidade é fundamental para a manutenção da ordem pública e para a resolução de crimes.
  •  Dificuldade de recrutamento e retenção de policiais: A imagem negativa da polícia, construída pela guerra informacional, desencoraja bons profissionais a ingressar na carreira policial e leva à saída de policiais experientes.
  •  Racha social: A guerra informacional exacerba as divisões sociais e incita o ódio contra as polícias. Esse cenário alimenta o preconceito contra policiais, gerando um clima de hostilidade que dificulta o diálogo e a busca por soluções para os problemas de segurança pública.
  •  Obstáculos para ações técnicas: Uma guerra informacional dificulta a adoção de novas práticas e estratégias policiais baseadas nas ciências policiais. Ficando refém das narrativas formatadas na dimensão informacional, criando um ambiente de conflito que impede a melhoria dos serviços prestados pela polícia.
  • Interferência em investigações: A disseminação de informações falsas ou “julgamentos” antecipados sobre investigações em andamento pode prejudicar o trabalho da polícia, contaminar testemunhas e comprometer a coleta de provas.

Guerra de 5ª geração

A “guerra de 5ª geração” (5GW), referente a fifth-generation warfare, engloba uma ampla gama de táticas.[19] A 5GW ou 4GW ampliada, caracterizada por conflitos de baixa intensidade, tem como objetivo enfraquecer a vontade política do inimigo e colapsar a ordem social interna. Trata-se de um conflito que mantém uma linha tênue entre combatentes e não combatentes, pelo uso de táticas não convencionais.

Nesse tipo de conflito, observa-se a proliferação de atores não-estatais, diluindo o monopólio estatal da guerra, transformando as forças policiais em um alvo estratégico. Explica Lind (2014): “É fácil entender por que as entidades da 4ª Geração iriam caçar policiais: a polícia não é apenas a primeira linha de defesa na tentativa do Estado de manter a ordem (lembre-se de que manter a ordem era a razão de ser original do Estado), ela é uma linha insubstituível”. A depreciação da polícia representa uma falha grave do Estado e um sinal de fragilidade. Atacar a polícia é uma forma de alienar a população, minando ainda mais a legitimidade do Estado. Essa dinâmica é um dos pilares da 4GW e visa desestabilizar as sociedades. O caso do Iraque pós-invasão dos aliados exemplifica essa situação: a dependência contínua de tropas estrangeiras para manter a ordem demonstra a fragilidade do governo local e a dificuldade de conquistar a confiança da população.

Krishnan (2022) é um dos autores que sugere que a evolução da guerra não parou na 4GW. Ele aponta que em 2008 Donald Reed já buscava uma evolução na definição da classificação dos conflitos, afirmando que a 5GW seria um produto da era da informação e que “transcenderia a 4GW, expandindo ainda mais os domínios do conflito, para incluir os domínios físico (terra, ar e mar), informacional (incluindo o âmbito cibernético), cognitivo e social (incluindo o âmbito político)”. No livro The 5GW Handbook de 2010, Daniel Abbott apresenta uma análise aprofundada do tema, afirmando que a 5GW é caracterizada pela manipulação de percepções e pela alteração da realidade, visando a influenciar o comportamento dos adversários de forma sutil e indireta. A violência, quando presente, é dissimulada e os confrontos são travados em múltiplos fronts, dificultando a identificação de um inimigo claro e definido. O sucesso da 5GW depende da capacidade de enganar e desorientar o adversário, fazendo com que ele aja em seu próprio prejuízo, sem perceber a manipulação à qual está sendo submetido. Em outras palavras, na 5GW “a violência é tão dispersa que o lado perdedor pode nunca perceber que foi conquistado. O sigilo da 5GW a torna a geração de guerra mais difícil de se estudar”. Abbott (2010) sugere que a 5GW equivaleria à guerra moral e cultural, travada por meio da manipulação de percepções e da alteração do contexto pelo qual o mundo é percebido. O êxito na 5GW é baseado no engano e na confusão, não na violência física, já que os intermediários são persuadidos ou manipulados para agir em favor de um patrocinador, mesmo desconhecendo tal fato. Uma 5GW brilhantemente executada pode envolver atores ignorantes de que está em curso uma guerra.

Ainda segundo Krishnan (2022), a 5GW surpreende o adversário, que, por não identificar a fonte dos ataques, fica em desvantagem estratégica – tomando o terrorismo como exemplo, em seu livro Lone Wolf Terror and the Rise of Leaderless Resistance, George Michael afirma que, nos atos aleatórios de terror, ou a liderança não existe, ou é difícil de se identificar, ou seja, proporciona-se “uma insurgência mais avançada e extremamente difícil de derrotar por ser altamente individualizada e dispersa”. Outra característica importante da 5GW, apontada por Krishnan, é a ação no ambiente cultural: Krishnan cita Brent Grace, que usou como exemplo as autoridades da cidade de Chicago, nos EUA, as quais derrotaram a gangue Black Kings, na década de 1990, alterando radicalmente o ambiente cultural em que vivia a população local.

Um estudo realizado pela Comissão de Análise da Vitimização Policial, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), chegou à conclusão de que o Rio de Janeiro passa por uma “guerra de causa socioeconômica, irregular, de 4ª geração, assimétrica, de guerrilha, psicológica e local”.[20] Assim, concluíram que as polícias estão inseridas numa provável guerra cognitiva, na qual se almeja criar divisão e conflito entre a polícia e a comunidade, ou entre as instituições. São ofensivas que não visam tirar propriamente a vida do policial ou feri-lo, mas manipular e controlar a polícia, sobretudo sua liderança e conduzir políticas públicas de segurança pública contrárias à população.

Em recente artigo, Robert Malone descreve a 5GW como fifth-gen (information) warfare,[21]a qual consiste em distorcer a percepção das massas, manipulando a sua visão de mundo e da política. Ele também considera uma evolução da 4GW, transcende o âmbito militar, adentrando em territórios morais e culturais. Ao fomentar a indignação popular e explorar a “racionalidade do Estado”, essas novas formas de conflito visam minar a efetividade das forças bélicas tradicionais.Não se trata do simples uso das informações – que sempre existiu – mas de ações tecnologicamente projetadas para evitar o envolvimento físico direto dos agressores.

A eficácia das 5GW depende da disparidade. Ela não requer nenhuma unidade em seu esforço. Ao contrário, quanto mais um conflito for disperso, mais imunes e eficazes serão os seus agressores. O objetivo é moldar a vontade do adversário: busca-se a manipulação da cultura no nível inconsciente, tornando muito difícil para a mente do alvo detectá-la. E mesmo que o alvo perceba as mudanças causadas, muitas vezes confundirá a verdadeira motivação política do agressor, com registro distorcido e informações manipuladas. Na 5GW efetiva, a influência construída da perspectiva é harmonizada com diversas formas de violência. É uma guerra de influências, de ideias, invulnerável fisicamente, intangível, sem frente nem verso, flutuando como um gás. Uma espécie de conflito silencioso, com combatentes e estratégias invisíveis.

Malone conclui que, anteriormente, a guerra visava a obter maior visibilidade da violência, mas agora o resultado desejado é que o alvo seja derrotado sem saber que está sendo atacado e sem saber que o inimigo existe, transformando assim pessoas comuns em insurgentes contra a própria sociedade, por meio de propaganda e desinformação. Composta por uma estrutura de célula fantasma sem qualquer sede ou ordem hierárquica. As pessoas dentro do movimento podem ter visões e ideologias distintas, mas suas reações são frequentemente semelhantes. Essa dinâmica confusa pode subverter democracias e legitimar regimes autoritários, invertendo papéis e usurpando identidades.

Em suma, o perigo está na destruição silenciosa, como um câncer assintomático, que distorce a percepção das massas, fornecendo uma visão manipulada da realidade, usando meios assimétricos e atores não-estatais. Uma vez que as armas da 5GW têm a capacidade de despertar sentimentos de raiva, desprezo e distorções variadas na população, a polícia acaba sendo atacada por quem ela tem o dever de proteger, gerando assim a confusão e a desestabilização pretendidas.

Como já dizia Sun Tzu[22], “O ápice da habilidade é uma vitória sem luta”. As 5GWs exemplificam essa máxima, empregando táticas de manipulação sutil para influenciar as massas e alcançar objetivos estratégicos sem recorrer à violência física direta.  A eficácia dessas ações depende da disparidade e da falta de unidade nas ofensivas, tornando a prática policial ainda mais complexa. O policial que já sofre com a violência na dimensão física em sua rotina convencional, agora, inserido numa 5GW, enfrentará forças capazes de moldar a vontade das massas, dos juízes, do governo e dos próprios policiais.

De acordo com The Radio Research Group (2023),[23] apesar das guerras convencionais terem um longo histórico de operações psicológicas e propaganda, o “conflito on-line” otimizou a guerra psicológica, reduzindo os ciclos de feedback a milissegundos. Como exemplo, são apontados os dopamine loops, termo usado pelas equipes de produto da rede social Facebook. Hoje é possível criar, testar e implantar ações de ofensiva informacional em questão de minutos. Com isso “militares, publicitários ou estrategistas políticos estão pensando em como poder alavancar mais de cem anos de ensinamentos em guerra psicológica e combinar esse conhecimento com ciclos de feedback psicológico orientados por dados para influenciar o comportamento”. As criações de vieses cognitivos baseados em dados já definiram a última década, desde as eleições até os roteiros da Netflix.

Guerra cognitiva

A guerra cognitiva constitui uma ameaça híbrida que combina elementos da guerra psicológica e da guerra informacional, visando manipular a percepção e a cognição humana para influenciar decisões e comportamentos. Ao contrário da simples distorção de informações, a guerra cognitiva busca alterar a forma como as pessoas pensam e agem, fragmentando a sociedade, minando a confiança nas instituições e polarizando a opinião pública. Por meio de técnicas como propaganda, desinformação e criação de narrativas falsas, essa estratégia explora as vulnerabilidades cognitivas humanas, tornando os indivíduos mais suscetíveis à manipulação e à tomada de decisões equivocadas, com sérias consequências para a democracia e a segurança pública.

O professor de ciência política John Arquilla, em seu livro The Advent of Netwar (1996), afirma que a guerra cognitiva é uma forma de conflito não linear que se concentra na manipulação da informação e da opinião pública. Martin Libicki, oficial de reserva do exército americano, em seu livro Cyberwar: The Next Threat to National Security and What to Do About It, aponta a guerra cognitiva como uma das principais ameaças aos EUA. E Thomas Rid, professor de ciência política, em sua obra Cyber War Will Not Take Place, considera o conflito cognitivo uma das principais ameaças da guerra cibernética.

Dahl (1996) identificou a guerra cognitiva como uma estratégia que visa manipular o processo decisório adversário, seja diminuindo sua velocidade, seja comprometendo sua precisão. Corroborando essa visão, Thomas (1998) alertou sobre a vulnerabilidade da mente humana a manipulações cognitivas. Mais recentemente, Harbulot, Moinet e Lucas (2022) destacaram a manipulação de símbolos e conhecimentos como uma nova forma de guerra, que transcende as esferas econômicas e se manifesta na arena cognitiva.

Du Cluzel (2020) destaca que a guerra cognitiva se aproveita das vulnerabilidades do cérebro humano, explorando nossa incapacidade de verificar a veracidade de informações sem uma análise aprofundada. Sob pressão de um excesso de informações, tendemos a aceitar como verdadeiras mensagens que tratam de um mesmo assunto, mesmo que sejam falsas. Além disso, a mente humana tem a propensão a acreditar em dados, desde que sejam apresentados como evidências, sem necessariamente questionar sua autenticidade.

E nesse contexto, o site Treadstone 71 (2024) enumera alguns objetivos estratégicos desse tipo de ofensiva: intensificar a polarização social e política, incitar movimentos caóticos, deslegitimar instituições e lideranças, isolar grupos e indivíduos, sabotar atividades econômicas e infraestruturas críticas, e disseminar a desinformação. Essa lista demonstra a amplitude e a complexidade das ameaças representadas pela guerra cognitiva e mais uma vez coloca as polícias como personagens centrais.

Igualmente, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO) afirma que nos dias atuais existe uma série de desafios emergentes[24] por conta das novas tecnologias, do ciberespaço e do uso cada vez mais difundido de redes sociais e tecnologias de dispositivos móveis que agora possibilitam o que se chama de guerra cognitiva:

  • Na guerra cognitiva, a mente humana se torna o campo de batalha. O objetivo é mudar não apenas o que as pessoas pensam, mas como elas pensam e agem. Travada com sucesso, ela molda e influência crenças e comportamentos individuais e grupais para favorecer os objetivos táticos ou estratégicos de um agressor. Em sua forma extrema, tem o potencial de fraturar e fragmentar toda uma sociedade, de modo que ela não tenha mais vontade coletiva de resistir às intenções de um adversário. Um oponente poderia concebivelmente subjugar uma sociedade sem recorrer à força ou coerção direta.
    Os objetivos da guerra cognitiva podem ser limitados, com horizontes de tempo curtos. Ou podem ser estratégicos, com campanhas lançadas ao longo de décadas. Uma única campanha poderia ter como objetivo limitado impedir que uma manobra militar ocorresse conforme planejado, ou forçar a alteração de uma determinada política pública. Várias campanhas sucessivas poderiam ser lançadas com o objetivo a longo prazo de desorganizar sociedades ou alianças inteiras, semeando dúvidas sobre a governança, subvertendo processos democráticos, provocando distúrbios civis ou instigando movimentos separatistas. (NATO REVIEW, 2021).[25]

Essas fragilidades indicam que a guerra cognitiva também pode influenciar e desestabilizar a polícia. Isso afeta não só o âmbito operacional, mas também aspectos jurídicos, políticos, econômicos, culturais e psicossociais da segurança pública.

Quando a mente é o alvo

Como a polícia deve agir em um cenário onde a luta ocorre na mente das pessoas, visando manipular a sociedade de maneira sutil e anônima? Quando as ofensivas são orquestradas de maneira invisível, sem líderes conhecidos ou estruturas físicas identificáveis, quais são as estratégias de defesa mais eficazes? Preparados para confrontar ameaças na dimensão física, como podem os policiais detectar e neutralizar ataques na dimensão informacional? Diante de um inimigo intangível que busca minar a própria vontade de combater o crime, as tradicionais ferramentas de proteção se mostram insuficientes.

Embora este artigo não pretenda se aprofundar nas nuances teóricas da mente humana, é fundamental ressaltar a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para enfrentar as ofensivas informacionais. A substituição das ameaças físicas pela manipulação da mente humana configura um desafio complexo que exige a colaboração de filósofos, psicólogos, linguistas e outras áreas do conhecimento.

Para nos protegermos das ofensivas informacionais, é crucial compreendermos os processos psicológicos que nos tornam suscetíveis a elas. Desenvolver um pensamento crítico, que nos permita questionar a veracidade e a imparcialidade das informações recebidas, identificar falácias lógicas e tomar decisões baseadas em evidências sólidas é fundamental.

Também é fundamental destacar dois componentes básicos da experiência humana: as emoções e a razão. Embora as emoções sejam parte intrínseca de nossa natureza, não são guias confiáveis para a tomada de decisões complexas. A razão, por sua vez, é a capacidade de pensar de forma lógica e analítica e deve ser priorizada como ferramenta para avaliar informações e tomar decisões conscientes. No entanto, a capacidade de pensar logicamente é apenas um de seus aspectos.

A razão é antes de tudo o senso da unidade do real, que se traduz na busca da coesão entre experiência e memória, percepções e pensamentos, atos e palavras, etc. A capacidade lógica é uma expressão parcial e limitada desse senso, como expõe Carvalho (2001):

  • A abertura para a razão é educação. Educação vem de ex ducere, que significa levar para fora. Pela educação a alma se liberta da prisão subjetiva, do egocentrismo cognitivo próprio da infância, e se abre para a grandeza e a complexidade do real. A meta da educação é a conquista da maturidade. O homem maduro – o spoudaios de que fala Aristóteles – é aquele que tornou sua alma dócil à razão, fazendo da aceitação da realidade o seu estado de ânimo habitual, e capacitando-se, por esse meio, a orientar sua comunidade para o bem. Este ponto é crucial: ninguém pode guiar a comunidade no caminho do bem antes de tornar-se maduro no sentido de Aristóteles. Líderes revolucionários e intelectuais ativistas são apenas homens imaturos que projetam sobre a comunidade seus desejos subjetivos, seus temores e suas ilusões pueris, produzindo o mal com o nome de bem.
    […]
    O espírito e a razão educam os sentimentos. Os sentimentos do homem amadurecido pelo espírito e pela razão são diferentes dos do homem imaturo, porque aquele ama o que deve amar e odeia o que deve odiar, enquanto o segundo ama ou odeia às tontas, segundo as inclinações arbitrárias da sua subjetividade moldada pelas pressões e atrativos do meio social.
    […]
    O culto idolátrico dos sentimentos é um egocentrismo cognitivo, um complexo de Peter Pan que recusa a maturidade. Quanto mais o homem busca afirmar sua liberdade por meio da adesão cega a seus sentimentos e desejos, mais se torna escravo da tagarelice ambiente. O caminho da liberdade é para cima, não para baixo. Libertar-se não é afirmar-se: é transcender-se
    […]
    Igualdade, liberdade, direito, ordem, segurança e milhares de outras palavras foram também incutidas na mente das massas como programas de computador para acionar nelas automaticamente as emoções desejadas pelo programador, fazendo com que amem o que deveriam odiar e odeiem o que deveriam amar.[26]

Nesse contexto percebemos que a tomada de decisão é um processo intrincado, influenciado por uma multiplicidade de fatores. Sistemas de conhecimento, baseados em evidências, fornecem uma estrutura para nossas escolhas, mas não são os únicos a moldar nossas ações. Crenças, valores, experiências pessoais, influências culturais e até mesmo elementos do inconsciente, como medos, fobias e intuições, contribuem para a complexidade desse processo, tornando cada decisão única e individual.

As táticas de ataque podem abranger desde a manipulação de indivíduos específicos até a influência de grandes grupos, como as populações urbanas altamente suscetíveis à desinformação disseminada pelos velhos meios de comunicação. O objetivo comum é subverter decisões cruciais e minar a vontade de lutar dos policiais, seja atacando diretamente suas capacidades cognitivas ou indiretamente, manipulando aqueles que exercem influência sobre eles, como eleitores ou juízes. O êxito de uma campanha de desinformação é avaliado pela capacidade de induzir o adversário a tomar decisões que enfraqueçam sua posição, seja por ação ou por omissão.

Uma ofensiva informacional bem-sucedida no nível operacional atua como um suporte direto aos objetivos estratégicos, ao sabotar a capacidade do adversário de tomar decisões oportunas e eficazes. Ao semear, por exemplo, uma desinformação, a dúvida, ou mesmo a confusão, essa ofensiva fragiliza a tomada de decisão adversária, levando a ações incoerentes que beneficiam o atacante.

A segurança pública é uma atividade intrinsecamente social; o policial trabalha nos espaços onde as pessoas vivem e interagem. Consequentemente, apenas a imprevisibilidade das ações humanas já torna o serviço policial complexo e desafiador. No entanto, os obstáculos criados por ofensivas informacionais dificultam ainda mais a implementação de políticas públicas eficazes.

Conclusão

A reportagem da Revista Oeste e demais publicações citadas evidencia um padrão alarmante: a exploração sistemática de casos isolados de erro policial, a desqualificação generalizada da instituição, a manipulação de dados e a disseminação de narrativas fantasiosas por supostos especialistas configuram possíveis ofensivas informacionais, e que, por isso mesmo, merecem atenção.

São ações que têm promovido ataques à polícia por meio de ações hostis na dimensão informacional, e exercem um impacto devastador na segurança pública. Essa dinâmica é evidente, por exemplo, na dificuldade de implementar políticas na segurança pública brasileira baseadas em evidências científicas e na técnica policial. Em decorrência disso, tomadores de decisão, juízes ou gestores em geral – alvos estratégicos desses ataques – frequentemente abandonam soluções eficazes ou julgamentos pautados na realidade dos fatos, mesmo diante de dados concretos. Esse cenário instaura um ciclo vicioso: quanto mais as decisões são influenciadas por ofensivas informacionais, mais a criminalidade se fortalece e o Estado de Direito se enfraquece, criando um efeito dominó que torna a sociedade cada vez mais vulnerável à manipulação. Esse ambiente propício, por sua vez, alimenta a disseminação de novas ofensivas informacionais.

Em outras palavras, as ofensivas informacionais corrompem decisões cruciais na segurança pública e no poder judiciário, gerando uma desconexão perigosa com a realidade. Elas criam um impasse que enfraquece a capacidade de atuação policial, favorecendo a criminalidade e expondo a população a um risco ainda maior. Essa dinâmica viciosa alimenta um ambiente hostil que dificulta o trabalho policial e aumenta a probabilidade de erros, comprometendo a própria justiça.

Ao atacarem as instituições, em particular a polícia, como evidenciado no artigo, os agentes promotores das ofensivas informacionais minam a base da confiança pública e fragilizam o tecido social. Podem até gerar ganhos políticos momentâneos para determinados espectros ideológicos manterem sua agenda de poder. No entanto, os efeitos colaterais são altamente prejudiciais para a sociedade, especialmente para os mais vulneráveis que dependem das instituições públicas.

Ao distorcer a percepção da realidade, as ofensivas informacionais causam um dano profundo e duradouro. Elas podem ser tão prejudiciais quanto qualquer outra forma de violência, pois subvertem a capacidade das pessoas de tomar decisões. A destruição da verdade é uma arma tão perversa, prejudicial e desumana quanto as ofensivas físicas de uma guerra convencional – por exemplo, a destruição de plantações ou habitações. Ofensivas informacionais são uma forma de opressão que impede o desenvolvimento pleno das pessoas e das comunidades.

Essa prática acirra o clima de insegurança, dificulta o combate à criminalidade e deteriora a relação entre polícia e comunidade. A postura hostil e desinformativa praticada por determinados grupos midiáticos e políticos enfraquece o sistema de segurança pública em sua totalidade, colocando em risco a vida e o patrimônio de todos os cidadãos.

Para ilustrar com mais um exemplo os efeitos nocivos das ofensivas informacionais, podemos citar a estratégia de desmobilização da polícia, frequentemente disseminada através da acusação de excessos de força. Essa narrativa, que busca enfraquecer a instituição, é equivocada e perigosa, considerando o poder de fogo dos criminosos brasileiros. Assim como erros médicos não justificam a descredibilização da medicina, os erros policiais, quando ocorrem, devem ser investigados e punidos, mas não podem servir como justificativa para ataques generalizados à instituição. É fundamental adotar uma postura mais responsável, baseada em fatos, evidências e punição do erro individualizado.

As ofensivas informacionais buscam minar a força da polícia, impondo barreiras e dificultando suas ações. Consequentemente, os criminosos encontram mais oportunidades para agir, aumentando a ocorrência de confrontos. Perversamente, esses mesmos confrontos são utilizados como munição para novas ofensivas informacionais contra a polícia, alimentando um ciclo de violência e insegurança. É importante ressaltar que uma polícia forte e atuante opera como um fator de dissuasão, amortizando os conflitos armados e, principalmente, reduzindo a criminalidade.

Insistimos na imperiosa necessidade de responsabilização dos policiais culpados. Fomentar uma polícia robusta e eficiente não significa promover abusos, mas sim combatê-los ativamente. O primeiro passo para isso é a identificação e responsabilização individual de cada conduta irregular. Acusar um secretário de Estado ou um comandante de ser responsável por crimes cometidos por policiais, simplesmente porque estão oferecendo à sociedade uma polícia forte e altamente produtiva, evidencia uma típica ofensiva informacional. Por isso, a crescente disseminação de desinformação, fake news e outras ofensivas informacionais exige dos tomadores de decisão o conhecimento, as habilidades e as atitudes para identificar e refutar esse tipo de ataque.

A polícia militar, tradicionalmente vitoriosa na dimensão física, precisa urgentemente expandir suas capacidades para atuar na dimensão informacional. As consequências da negligência nessa área são significativas, como vimos ao longo deste artigo. Ao dominar as ferramentas e técnicas para se defender desse tipo de ataques, a polícia não apenas protege a si mesma, mas também fortalece a defesa de toda a sociedade contra esse mal.

É preciso investir em treinamento e capacitação de todos os policiais, para que possam atuar de forma proativa e preventiva nessa nova frente de combate. Além disso, é fundamental contar com um efetivo designado e preparado para dar respostas especializadas. Afinal, a segurança pública exige uma abordagem multifacetada, que combine a força física com capacidades de atuação na dimensão informacional. Esse cuidado, sempre vital na história dos conflitos, não tem recebido o tratamento adequado em nossa geração, fragilizando o processo decisório na área da segurança pública e da justiça.

Um vírus de software afeta principalmente aqueles que dependem de sistemas informáticos. Ataques radioeletrônicos visam especificamente às forças que utilizem rádio ou eletrônicos. Da mesma forma, as ofensivas informacionais têm maior impacto sobre aqueles que dependem do complexo sistema informacional de hoje em dia. Como, na era da informação, é praticamente impossível ser independente desse sistema, o primeiro passo para mitigar os riscos é investir em capacitação para atuar de forma eficaz na dimensão informacional.

Portanto, o estudo das ofensivas informacionais, bem como o aprendizado sobre como combater na era da informação, são fundamentais. Ao analisar as possíveis ofensivas informacionais perpetradas pela velha mídia e grupos políticos, este estudo busca contribuir para a construção de um escudo eficaz contra esses ataques e promover um diálogo público mais informado e crítico. Ao fortalecer a segurança pública com o conhecimento da dimensão informacional, com transparência, com a verdadeira ciência policial, e o cumprimento das leis, podemos construir as bases necessárias para garantir um ambiente mais seguro para todos.

Por fim, as ofensivas informacionais, tal qual uma devastadora carga de artilharia, alvejam os alicerces da segurança e da ordem pública. Essa ameaça híbrida, que distorce a própria realidade, exige uma resposta estratégica multifacetada e especializada. Para enfrentar esse desafio, é imperativo construir uma defesa robusta, ancorada na busca incansável pela verdade.

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[1] Oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, Subcomandante do 21º BPMI/I

[2]Disponível em: https://revistaoeste.com/politica/esquerda-usa-episodios-isolados-para-atacar-a-pm-de-sp/ Acesso em: 08 dez 24

[3] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fNNr8BTNad0, acesso em: 08 dez 24

[4] “Botas no chão” indica a presença física de tropas ou pessoal em um determinado local, no serviço operacional das ruas na zona de conflito. Aquele que trabalha diretamente em situações de crise ou em ambientes desafiadores.

[5] Dimensão física: refere-se aos aspectos tangíveis do combate, envolvendo uso de arma de fogo, ocupação de território e uso da força física em geral; Dimensão informacional: aborda o uso da informação como arma estratégica, incluindo propaganda, desinformação, ciberataques e a manipulação da opinião pública para atingir seus objetivos. Dimensão humana: engloba os aspectos psicológicos, sociais, jurídicos e culturais de um conflito, como a motivação dos combatentes e o impacto na população civil.

[6] Era da Informação: Período que se iniciou na segunda metade do século XX, caracterizado pela transição de uma economia industrial para uma economia baseada no conhecimento e na informação. A invenção do transistor, o desenvolvimento da microeletrônica e a popularização da internet foram marcos cruciais desse período, que transformou radicalmente a forma como as pessoas trabalham, se comunicam e acessam informações, além da crescente interconexão global.

[7] Termo que caracteriza o uso de informações para influenciar o comportamento do adversário; pode ser usado para descrever as atividades de propaganda, desinformação ou operações psicológicas, entre outras ações da dimensão informacional. Usada para influenciar a opinião pública, a percepção e o comportamento das pessoas, ou conspurcar a imagem de um alvo. Em suma, uma ofensiva informacional é um conjunto amplo de atividades voltadas para a mente e a vontade do alvo.

[8] Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/sao-paulo/recorde-historico-reducao-de-crimes-sao-paulo/ acesso em: 08 dez 24

Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sp-registra-menor-indice-de-assaltos-para-agosto-desde-2001/ acesso em: 20 dez 24

Disponível em: https://revistaoeste.com/politica/roubos-atingem-menor-marca-em-24-anos-no-estado-de-sp/ acesso em: 02 jan 25

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[9] Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/ultimas-noticias/pm-faz-maior-apreensao-de-cocaina-da-historia-de-sp/ acesso em: 08 dez 24

[10] Em 2011, o Army Doctrine Publication (ADP) 3-0 consolidou o termo “ameaças híbridas” e citou o uso de proxy forces. Outros nomes são: forças de “substituição” ou, o mais usual, forças por “procuração”. São aquelas ações que empenham um terceiro elemento/ator contra o alvo, para conduzir operações subversivas sem que os patrocinadores e os reais interessados apareçam. O uso de proxies também não é novo: a Guerra Fria proporcionou incontáveis exemplos por parte das superpotências, que empregaram tais forças a fim de atingir os seus objetivos estratégicos, sem se envolver diretamente em conflitos. Proxy é um termo que, na informática, tem o significado de “intermediário”: seria uma espécie de servidor que atua como intermediário entre o cliente e o serviço desejado, permitindo ao cliente ocultar a sua identidade, de modo que os proxies dão a oportunidade para que usuários possam navegar anonimamente numa rede de computadores. Preservando a identidade do real promotor das ameaças, essa é uma característica valiosa nos atuais conflitos.

[11] A guerra de informação pode ter um sentindo mais restrito “é definida pelo conjunto de ações destinadas a obter a superioridade das informações, afetando as redes de comunicação de um oponente e as informações que servem de base aos processos decisórios do adversário, bem como retirando-lhe a liberdade de ação, ao mesmo tempo em que garante as informações, os processos e a liberdade de ação amigos” (BRASIL, 2020, p.197, v1).

[12] A guerra neocortical se esforça para controlar ou moldar o comportamento de organismos, mas sem destruir o sistema neocortical do inimigo. Ele consegue isso ao influenciar e, em alguns casos, controlar a consciência, as percepções e a vontade do adversário. De maneiras simples, a ela tenta penetrar nos ciclos recorrentes e simultâneos de “observação, orientação, decisão e ação” dos adversários. Ele faz isso influenciando, até mesmo ao ponto de regular, a consciência, as percepções e a vontade do adversário. (Richard Szafranski – Neocortical Warfare.)

[13] Em resumidas contas, desinformação é a disseminação de informações falsas ou imprecisas para confundir ou enganar o público; essencialmente, é uma excelente arma na guerra cognitiva. PACEPA, 2015.

[14] A manipulação é o uso de técnicas psicológicas para influenciar as opiniões, crenças e comportamentos de um alvo. Trata-se de uma ferramenta essencial à guerra cognitiva. A manipulação pode ser usada para uma variedade de propósitos, incluindo: gerar apoio para uma causa ou agenda; desacreditar um alvo, ou induzir o medo, ou a insegurança; entre outros objetivos.

[15] Jornalista e escritor venezuelano, ex-editor chefe da revista Foreign Policy, e autor de diversos livros, entre os quais El fin del poder (2013) e Illicit (2005).

[16] “Estão em franco aumento os conflitos militares não ligados à defesa de um território particular, mas motivados por metas em princípio não relacionadas a fronteiras, e sim ideológicas, criminosas, religiosas e econômicas”. (NAÍM apud VISACRO, 2019, p. 107).

[17] A zona cinzenta é o obscurecimento dos limites entre guerra e paz. A perspectiva cartesiana binária, em assuntos militares, apoia-se sobretudo numa dicotomia entre guerra e paz, segundo a qual um suposto “estado de paz” implicaria a ausência de lutas ou graves perturbações. Tal entendimento se tornou obsoleto devido às ameaças híbridas. Entre os aspectos típicos que podem estar presentes nas chamadas atividades de “zona cinzenta” estão: ameaças que se estendem gradualmente no tempo, abaixo do limite que justificaria uma resposta bélica; dificuldade ou incapacidade de se identificar o autor das ameaças; ataques cibernéticos, campanhas de desinformação, polarizações políticas, desestabilização econômica, etc.

[18] Termo cunhado por Doyle Sam Dotson, chefe de polícia de St. Louis, Missouri, EUA, após constatar um aumento nas taxas de criminalidade violenta em cidades americanas, causado pela redução do policiamento proativo, devido à hostilidade promovida pela mídia, por políticos e grupos ideológicos contrários à polícia. O fenômeno ocorreu após intensos protestos insuflados por uma narrativa criada e difundida sobretudo pelo movimento Black Lives Matter, a saber: que a polícia era racista, violenta e mal preparada. Com a pressão social e midiática, verificou-se que os policiais foram desestimulados a trabalhar, evitando ações discricionárias, como as abordagens, enquanto os criminosos passaram a se sentir à vontade para o cometimento de mais delitos.

[19] A literatura carece de coesão sobre a existência da 5GW, já que alguns pesquisadores sustentam que a 4GW ainda não se concretizou totalmente, referindo-se a ela como “guerra de 4ª geração ampliada”. Por outro lado, aqueles que defendem que já estamos na era da 5GW apontam que os eventos atuais às vezes desviam do modelo originalmente estabelecido para a 4GW. A título de exemplificação, seguem resumidamente os apontamentos de William Lind, de 1989, nas publicações das revistas Marine Corps Gazette e Military Review:

• 1GW: A primeira geração da guerra se constituiu em táticas e estratégias predominantes até o século XIX. Caracterizadas por formações lineares de soldados que se enfrentavam diretamente no front, como as batalhas napoleônicas. O armamento que se destaca é o mosquete.

• 2GW: A segunda geração foi a da chamada “guerra de trincheiras”, que caracterizou a Primeira Guerra Mundial. A tecnologia começou a desempenhar um papel mais importante, fornecendo armas de fogo mais avançadas e artilharia pesada. São caracterizadas por batalhas organizadas e poder de fogo.

• 3GW: A terceira geração foi a das guerras de manobra, usando a mobilidade, a blitzkrieg – guerra relâmpago. Com destaque para os blindados usados na Segunda Guerra Mundial. Caracterizadas pela surpresa e flexibilidade, além de forte mecanização e velocidade.

• 4GW: Na quarta geração surgem as guerras assimétricas, híbridas, conflitos não convencionais e os usos de táticas terroristas e guerrilhas. Englobam as guerras modernas e os conflitos irregulares que se desdobraram desde a segunda metade do século XX. Caracterizadas pela descentralização, pela presença de atores não estatais, pelo emprego da manipulação da vontade, da guerra informacional, dos ciberataques e das insurgências.

[20] PMERJ, ANÁLISE DA VITIMIZAÇÃO POLICIAL. Disponível em: https://www.academia.edu/38931600/Cel_PM_Cajueiro. Acesso em: 14 out. 2023.

[21] Guerra (informacional) de quinta geração – Welcome to Fifth Gen (Information) Warfare. Disponível em: https://rwmalonemd.substack.com/p/welcome-to-fifth-gen-information. Acesso em: 02 jan. 2024.

[22] General chinês a quem é atribuído o livro “A Arte da Guerra”, um influente tratado militar, escrito por volta do século V a.C.

[23] An Introduction to Fifth-generation Warfare. Grey Dynamics, 31 mar. 2022. Disponível em: https://greydynamics.com/an-introduction-to-fifth-generation-warfare/. Acesso em: 26 out. 2023.

[24] Countering cognitive warfare: awareness and resilience. NATO Review, 20 maio 2021. Disponível em: https://www.nato.int/docu/review/articles/2021/05/20/countering-cognitive-warfare-awareness-and-resilience/index.html. Acesso em: 12 out. 2023.

[25] Citação extraída da internet sem paginação.

[26] Jesus e a pomba de Stálin. O Globo, 20 out. 2001. Disponível em: https://olavodecarvalho.org/jesus-e-a-pomba-de-stalin/. Acesso em: 16 nov. 2023.

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