O Assessor Especial da Presidência da República Celso Amorim e Nicolas Maduro, 08MAR2023
(Título original) Relatório Otálvora: Revelados negócios escusos da família Maduro e Petro
Edgar C. Otálvora
11 Março 2023
Diario las Américas
@ecotalvora
O governo de Gustavo Petro rapidamente se cobriu de indícios de corrupção e ligações com o narcotráfico que teriam começado ainda na própria campanha eleitoral.
Informações divulgadas por sua ex-mulher revelam que o filho do presidente da Colômbia , Nicolas Petro Burgos, recebeu grandes somas de dinheiro de conhecidos narcotraficantes para financiar a campanha eleitoral de seu pai.
Além disso, depois de seu pai ter vencido as eleições de 19JUN2022, Nicolas Petro Burgos disse a sua ex-esposa Day Vásquez que faria grandes negócios com a petroquímica Monomeros, propriedade do Estado venezuelano e localizada em Barranquilla, Colômbia. “Isto é para um grande caixa que vamos manusear”, teria dito Nicolas Petro à mulher, segundo a revista Semana.
Conforme relatado neste Relatório, Petro e seu embaixador em Caracas, Armando Benedetti, mostraram especial interesse para Maduro em acelerar o retorno de Monómeros à ditadura chavista, uma vez que a empresa permaneceu sob o controle de representantes da oposição venezuelana.
A diretoria nomeada por Maduro, registrada na Câmara de Comércio de Barranquilla em 09SET2022, integrava dois cidadãos colombianos, Rodrigo Ramírez Salazar e Cristóbal Padilla Tejeda, ligados ao governo Petro. Em 19SET22022, o embaixador de Maduro em Bogotá, Félix Plasencia, assinou um acordo com o superintendente de Empresas da Colômbia, Billy Escobar, por meio do qual a Colômbia devolveu Monómeros ao regime chavista e reconheceu a diretoria indicada por Maduro. Três dias depois, o embaixador Benedetti já anunciava o primeiro grande negócio entre o governo Petro e Monomeros com a compra de 16 mil toneladas de ureia da Venezuela.
Hoje se sabe que Rodrigo Ramírez, diretor da empresa Monómeros nomeado por Maduro, é amigo, sócio e sócio político do filho de Gustavo Petro. Além disso, o embaixador Benedetti e Nicolás Petro são aliados políticos na costa colombiana. Benedetti era o gerente de campanha de Gustavo Petro, que teria recebido dinheiro do tráfico de drogas por meio de Nicolas Petro. Muito tecido para cortar…
Na noite de 11MAR2023, circulavam em Bogotá rumores sobre a renúncia ou virtual demissão de Benedetti. Gustavo Petro ligou com urgência para seu embaixador em Bogotá e o recebeu no dia 09MAR202 na Casa de Nariño. A questão de Nicolas Petro teria sido a questão que motivou a convocação do embaixador e assessor do Palácio.
*****
E se não bastasse. A esposa de Gustavo Petro, Verónica Alcocer, incluía um empresário amigo da família chamado Manuel Grau, que ele apresentou como funcionário público assessor do gabinete da primeira-dama. Grau faz parte de um grupo de espanhóis que receberam a nacionalidade colombiana poucas semanas após a posse de Petro, alguns deles relacionados ao grupo terrorista Terra Lliure. Verónica Alcocer visitou o Palácio de Miraflores sem estar acompanhada de funcionários do Itamaraty da Colômbia.
*****
Por certo. O chanceler colombiano, Álvaro Leyva Durán, viajou à Venezuela, no dia 07MAR2023, com o único objetivo de manter um encontro privado com Nicolás Maduro. A reunião aconteceu em um momento em que os detalhes finais de um acordo entre Petro e a narcoguerrilha do ELN eram discutidos na Cidade do México. Como já havia acontecido durante a visita da primeira-dama colombiana a Miraflores, Leyva Durán não estava acompanhada do embaixador Benedetti ou de nenhum dos funcionários diplomáticos credenciados pela Colômbia em Caracas. Muitos segredos aparentemente correm entre Gustavo Petro e Maduro.
*****
A propósito dos dez anos desde o anúncio da morte de Hugo Chávez, no dia 05MAR2003 realizou-se em Caracas uma concentração dos principais chefes do castrochavismo continental. No evento central com Nicolás Maduro como mestre de cerimônia, o nicaraguense Daniel Ortega, os ex-presidentes da Bolívia, Equador e Honduras, Evo Morales, Rafael Correa e Manuel Zelaya, o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas Ralph Gonsalves apresentados por Maduro como “o leão do Caribe“, o presidente da Bolívia Luis Arce e o fechamento foi com Raúl Castro. No presidium, na segunda fila apareceu entre outros ativistas estrangeiros, o brasileiro João Pedro Stédile, chefe do violento “Movimento dos Trabalhadores Sem Terra” (MST),
O ato fez parte de um conjunto de eventos para a exaltação de Chávez e a comemoração dos dez anos de permanência de Maduro no poder. O chavismo se sente confortável, a pressão internacional foi reduzida, a oposição interna está focada em uma luta interna pela candidatura a hipotéticas eleições e, como na época de Chávez, mais uma vez o regime organiza eventos festivos de fusão política em Caracas com seus aliados estrangeiros . A presença de Castro, pouco dado a viajar para fora de Cuba, revelou a continuidade do eixo Havana-Caracas como epicentro da agenda política castro-chavista, que por sua vez estende um manto protetor à ditadura de Daniel Ortega. O colombiano Gustavo Petro não compareceu ao evento para homenagear seu velho amigo Chávez, mas foi representado por seu embaixador em Maduro, Alberto Benedetti. A ausência de Cristina Kirchner, Dilma Rousseff e Lula da Silva deixou claro que nem tudo está em harmonia entre as diferentes alas da esquerda continental.
A posição crítica do chileno Gabriel Boric com as ditaduras da Venezuela e da Nicarágua, o distanciamento preventivo de Lula e Petro com a ditadura da Nicarágua, os confrontos entre Evo Morales e o presidente Luis Arce na Bolívia e Cristina Kirchner contra Alberto Fernández na Argentina, sustentam fontes de perturbação dentro da esquerda continental aparentemente homogênea.
*****
Lula da Silva se propõe como intermediário no conflito político venezuelano. Celso Amorim, braço direito de Lula em matéria de diplomacia paralela, após visita a Caracas afirmou que “o Brasil certamente será um ator importante e reconhecido” (…) “Ouvi palavras de agradecimento pela visita de todos com quem conversei .” Ao que tudo indica, Amorim se referia ao processo de negociação que Maduro e alguns setores da oposição mantêm no México sob os auspícios dos EUA e que está paralisado desde novembro passado por decisão do regime chavista.
Para uma primeira aproximação direta com Nicolás Maduro após a posse de 01JAN2023, Lula da Silva não enviou a Caracas seu chanceler Mauro Vieira, mas sim seu assessor presidencial, ex-chanceler, fundador do Grupo Puebla e hoje encarregado da presidência pela diplomacia direta de Celso Amorim. A escolha de Amorim para esta missão revelou o caráter estritamente político da agenda. A viagem do enviado de Lula foi mantida em total sigilo em Brasília e só veio a público quando Amorim já estava, no dia 08MAR2023, reunido com Maduro no Palácio de Miraflores, local bem conhecido do brasileiro que no passado atuou como emissário direto entre Lula e Hugo Chávez. O atual cargo oficial de Amorim é “Assessor Especial da Presidência da República“, mas na prática ele está atuando como chanceler em paralelo.
Segundo a versão de Maduro, o objetivo da visita era reativar as relações entre os dois países. Em Brasília, entretanto, porta-vozes do governo deixaram escapar a versão segundo a qual o objetivo principal da conversa era confirmar a posição de Maduro Lula quanto à necessidade de realizar eleições presidenciais “competitivas” em 2024, já que, segundo Amorim, o Brasil “dá grande importância para o processo democrático que está sendo desenhado” na Venezuela. Não está muito claro a que “processo democrático” o brasileiro se refere, mas nos meios diplomáticos e na imprensa de Brasília foi dado como certo que esta mensagem a Maduro corresponde à oferta de Lula ao governo dos Estados Unidos para atuar como moderador no crise venezuelana. De todo modo, Amorim fez saber à jornalista Janaina Figueiredo, da OGlobo, que quando tocou na questão eleitoral do ditador venezuelano o fez com delicadeza, “não de maneira que parecesse que eu estava questionando se [as eleições] iriam acontecer.” Já em Brasília, Amorim disse à imprensa ter visto na Venezuela “um clima muito grande de incentivo à democracia“.
O enviado de Lula também manteve um encontro com vários representantes da oposição, que não foi divulgado pelos participantes em Caracas. Amorim apenas especificou ter se reunido com membros do grupo de partidos denominado G4, especificamente com Henrique Capriles Radonski, do partido Primero Justicia, arquirrival de Juan Guaidó, no atual processo de candidatura da oposição às hipotéticas eleições de 2024. Em 2012 e 2013, o então candidato \ presidente Capriles Radonski teria recebido apoio financeiro de empresas brasileiras que simultaneamente fizeram doações ao PSUV.
Amorim também teria se encontrado com Gerardo Blyde, chefe da delegação da oposição nas negociações paralisadas no México, e com outros representantes do partido, como o líder governista Timóteo Zambrano.
A oposicionista María Corina Machado não estava na lista de visitados pelo enviado de Lula.
*****
Segundo Amorim, entrevistado por Figueiredo em 10MAR2023, Maduro reconheceu que o governo venezuelano deve ao Brasil cerca de um bilhão de dólares e se ofereceu para pagar “quando puder“. Este ponto refutou a versão exposta em 23JAN2023 por Lula em Buenos Aires, onde afirmou que Maduro estava em atraso com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil, porque o governo de Jair Bolsonaro não queria receber os pagamentos. Segundo dados oficiais, até 30 de setembro de 2022, os pagamentos devidos e não cumpridos pela Venezuela somavam US$ 682 milhões, além de US$ 120 milhões prestes a expirar. Essa dívida corresponde a desembolsos de mais de 1,5 bilhão que o BNDES, nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, fez especialmente em favor de construtoras brasileiras que mantinham contratos com o regime chavista e que, simultáneamente, financiavam a Lula e seu partido.
Após a passagem de Amorim por Caracas, a Chancelaria de Maduro enviou a Brasília, no dia 10MAR2023, um terceiro-ministro, vice-ministro para a América Latina, a fim de manter reuniões de coordenação com o Itamaraty para traçar uma agenda de trabalho bilateral.
*****
Apenas dois dias depois que o enviado de Lula passou por Caracas pedindo eleições “competitivas”, o regime chavista confirmou o que não é segredo. Jorge Rodríguez, alto dirigente do regime e negociador em nome de Maduro, fez saber que “não vai assinar nenhum acordo, com esse sector da oposição venezuelana até que esteja cem por cento livre de sanções, até que as 765 medidas coercitivas unilaterais sejam levantadas”.
Os setores da oposição que participam das conversações chamadas de negociações no México têm argumentado que buscam com justiça acordos para eleições gerais “competitivas”. Quando as negociações foram retomadas em 26NOV2022, a oposição, pressionada pelo governo dos Estados Unidos, assinou um acordo para buscar a liberação de recursos financeiros do Estado venezuelano congelados por governos e bancos estrangeiros. O governo de Joe Biden, aceitando esse acordo, procedeu naquele mesmo dia a liberalização de algumas sanções contra o regime, incluindo a permissão para a petroleira Chevron reiniciar a exploração e exportação de petróleo bruto da Venezuela e fornecer à estatal PDVSA insumos dos EUA.
Desde então o governo Maduro tem se negado a retomar las conversações com a oposição a qual havía prometido que a partir de uma segunda rodada, que ocorreria em dezembro de 2022, começaaría a negociação “a fundo” sobre los aspectos políticos, quer dizer, condiçõs eleitorais entre outras questões.
O regime chavista voltou a fazer saber que não negociará as condições eleitorais, condicionando possíveis acordos a que os EUA e a União Europeia anulem as sanções que pesam sobre centenas de altos dirigentes do chavismo e sobre empresas estatais.