Luiz Guilherme Gerbelli, G1
A greve dos caminhoneiros frustrou a expectativa de aceleração do crescimento econômico no segundo trimestre. Antes da paralisação, os analistas eram unânimes ao apontar que haveria uma melhora da economia entre abril e junho na comparação com os três primeiros meses do ano. Agora, as projeções estão cada vez mais baixas e consolidam um cenário mais pessimista.
Com os efeitos do movimento de maio, as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre recuaram do patamar de 1% para em torno de 0,2% diante dos números mais recentes da economia. E há até quem projete uma retração da atividade no período. Nos três primeiros meses do ano, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,4%, um resultado que foi considerado bastante fraco.
Os números do segundo trimestre ainda estão sendo divulgados. Os resultados de abril até surpreenderam positivamente e sinalizaram a possibilidade de a economia entrar em um caminho de crescimento mais robusto, mas os primeiros números de maio e junho mostram que a atividade foi bastante afetada pela greve e que a retomada deve ser mais lenta do que o esperado. A produção industrial de maio, por exemplo, recuou 10,9%. Foi a maior queda desde dezembro de 2008.
"A greve provocou uma grande desorganização do setor de transporte e em vários segmentos da economia", afirma o economista da consultoria GO Associados Luiz Castelli. "Além disso, houve um abalo na confiança de empresários e consumidores. Tudo isso se reflete em um impacto direto na economia."
Na projeção da GO Associados, o PIB do segundo trimestre deve ter recuado entre 0,2% e 0,3%.
Junho é incógnita
Entre os economistas, a principal dúvida é como foi o desempenho da economia em junho. Por ora, só há indicadores antecedentes para avaliar o mês. A grande questão é se os resultados de junho conseguiram de alguma forma compensar os estragos da greve em maio.
"Uma parte do impacto até pode ser recuperada em junho e julho, mas há uma outra parte que não. Cadeias de produção do setor de suínos e frangos, por exemplo, foram fortemente abaladas", afirma a economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro. Ela espera crescimento de 0,2% no segundo trimestre.
Confiança indica desaceleração
Os índices de confiança são um dos mais importantes indicadores antecedentes. Por ora, eles confirmam que, de fato, a retomada deve ser lenta e que os prejuízos não foram todos recuperados.
Em junho, a confiança do consumidor medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV) recuou 4,8 pontos, para 82,1 pontos, no menor nível desde agosto de 2017. A do empresário caiu 1,9 ponto, para 90,5, patamar mais baixo desde outubro de 2017.
Os indicadores de confiança conseguem dar uma previsibilidade do humor de empresários e consumidores. Se os índices revelam uma piora, é sinal de que empresários estão poucos dispostos a investir e os consumidores com menos vontade de gastar.
"Houve uma contaminação da atividade econômica pelo canal da confiança", afirma o economista do banco Santander Rodolfo Margato.
Uma simulação feita pelo banco revela que a queda dos índices de confiança deve ter um impacto maior do que os estragos diretos na atividade. Ao todo, a greve dos caminhoneiros provocou um impacto de 0,7 ponto percentual no crescimento deste ano. Nessa conta, 0,3 ponto é resultado do impacto direto na atividade e 0,4 ponto é explicado pela queda da confiança.
O Santander espera um crescimento de 0,2% no segundo trimestre e de 2% no ano.
Previsão para o ano em queda
Com a piora esperada na atividade do segundo trimestre e o abalo na confiança que deve se perpetuar ao longo do ano, as projeções para o PIB de 2018 também estão recuando.
Hoje os economistas esperam um crescimento mais próximo de 1,5% em 2018. No início do ano, a expectativa era de alta de quase 3%.
"Mais do que o tamanho do evento, houve uma percepção da fraqueza do governo e de que ele pode ficar suscetível a esse tipo de movimento", afirma Alessandra, da Tendências. "Todo esse quadro e a incerteza eleitoral dificultam a retomada da confiança."