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Xi Jinping buscará se posicionar como artífice da paz em visita à Rússia

Depois de conseguir uma aproximação entre Irã e Arábia Saudita, o presidente chinês, Xi Jinping, buscará repetir a façanha no conflito ucraniano durante sua visita à Rússia esta semana.

(AFP) Xi, que busca reforçar a posição de seu país no cenário mundial após ser recentemente empossado para um terceiro mandato, foi elogiado inclusive pelos Estados Unidos por seu papel de mediador no surpreendente restabelecimento das relações entre os dois grandes rivais do Oriente Médio, em 10 de março.

A intenção da China é “desempenhar um papel construtivo na promoção das conversas de paz”, disse o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Wang Wenbin, na sexta-feira (17).

O americano The Wall Street Journal disse que Xi pretendia conversar em breve com seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelensky, iniciativa que a Casa Branca também chamou de “muito boa”.

Enquanto isso, governos ocidentais esperam que ele aproveite sua visita a Moscou para pedir a seu “velho amigo” Vladimir Putin que acabe com o conflito que já dura mais de um ano.

“Todos desejam o fim da guerra, dado que a Europa tem muito a perder e, talvez, os Estados Unidos podem não conseguir continuar apoiando a Ucrânia por muito tempo”, afirmou Wang Yiwei, diretor do Instituto de Assuntos Internacionais da Universidade do Povo da China, em Pequim.

Importante aliada de Moscou, a China se apresenta como parte neutra no conflito da Ucrânia. Até o momento, no entanto, recusou-se a condenar a invasão russa e criticou a ajuda dos Estados Unidos a Kiev.

– Sem soluções concretas –

Para Elizabeth Wishnick, especialista em política chinesa da Universidade de Montclair, nos Estados Unidos, “a China fez pouco para promover a paz na Ucrânia, já que qualquer esforço seu equivaleria a pressionar a Rússia, ou, pelo menos, a apontar o dedo diretamente para ela”.

A visita de Xi Jinping, que acontecerá depois de o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir um mandado de prisão contra Vladimir Putin na sexta-feira, por crimes de guerra, pretende “mostrar apoio a seu aliado estratégico, sem ir tão longe a ponto de ajudá-lo, o que desencadearia sanções”, estima a especialista.

Pequim criticou os “padrões duplos” do TPI nesta segunda-feira e pediu ao tribunal que respeite a imunidade dos chefes de Estado.

Em fevereiro, a China publicou um documento de 12 pontos, no qual pedia diálogo e respeito à soberania territorial de cada país no conflito ucraniano. Também apresentou a Iniciativa de Segurança Global (GSI, na sigla em inglês), desenhada para “promover a paz e o desenvolvimento sustentável”.

Em ambos os casos, os ocidentais criticaram a falta de soluções concretas.

Para Ja Ian Chong, professor associado da Universidade Nacional de Singapura, as posições recentes da China parecem ser “uma tentativa de destacar” seu GSI e “criar impulso para sua política externa e seu novo compromisso global”.

Mas, no final, diz ele, será o “conteúdo de suas propostas durante as reuniões com os líderes ucranianos e russos” que dirá se a China está “intensificando efetivamente seus esforços” pela paz.

– “Armistício” –

A capacidade de mediação da China ficou evidente no caso de Irã e Arábia Saudita. Chegar a um acordo sobre a Ucrânia será, no entanto, “muito mais difícil”, avalia Wang Yiwei, citando a influência “limitada” da China sobre a Rússia e o apoio dos EUA a Kiev.

Mas Pequim poderia, disse ele, contribuir para um “armistício no estilo da Guerra da Coreia”. Acabaria com os combates, mas não com as questões de soberania territorial.

Segundo Elizabeth Wishnick, é “improvável” que a Ucrânia “aceite a mediação da China, porque não a considera neutra, ou imparcial”.

“Xi pode estar ansioso por outro êxito diplomático, mas não vejo isso no horizonte”, completou, acrescentando que “nenhuma das partes está pronta para desistir de suas esperanças de conquistar territórios no campo de batalha”.

Principais datas das relações entre Rússia e China

Embora as relações entre Pequim e Moscou tenham sido tumultuadas durante a Guerra Fria, os dois países se aproximaram nas últimas décadas para fazer uma frente comum aos Estados Unidos e desenvolver sua cooperação econômica.

Confira abaixo as datas mais marcantes nas relações sino-russas desde 1950:

– Aliados durante a Guerra da Coreia –

Após a Segunda Guerra Mundial, China e União Soviética assinaram, em fevereiro de 1950, um tratado de “amizade, aliança e assistência mútua”.

Durante a Guerra da Coreia (1950-1953), as forças chinesas lutaram ao lado do Norte, apoiadas pela União Soviética, contra as tropas da coalizão internacional, principalmente americanas, aliadas do Sul.

– Revolta em 1960 –

A China de Mao Tsé-Tung rompe, no entanto, com a URSS de Nikita Khrushchev, devido ao “relatório secreto” do sucessor de Stalin em 1956, condenando o culto à personalidade e os crimes de Stalin.

A ruptura ideológica e estratégica se concretiza em abril de 1960, depois que Khrushchev anulou um acordo nuclear bilateral.

Em julho de 1963, incidentes na fronteira, divergências sobre a crise cubana e o conflito sino-indiano levaram os partidos comunistas chinês e soviético a romperem seus contatos.

Em agosto de 1963, Pequim denunciou o Tratado de Moscou entre Estados Unidos, Grã-Bretanha e URSS sobre a proibição parcial de testes nucleares.

– Disputas fronteiriças em 1969 –

Em novembro de 1965, a China desencadeia a Revolução Cultural “antirrevisionista”, que critica o “hegemonismo soviético”.

Em 1969, um contencioso pelo traçado da parte oriental de sua fronteira, ao longo do rio Amur, sobre a jurisdição da ilha de Damanski, termina em confrontos armados que deixaram várias centenas de mortos.

Dez anos depois, a China anula o tratado de aliança com a URSS de 1950.

As negociações para normalizar as relações são congeladas em janeiro de 1980, após a invasão do Afeganistão pela URSS.

– Normalização em 1989 –

Passadas três décadas, uma cúpula entre Deng Xiaoping e Mikhail Gorbachev em Pequim, em maio de 1989, sela a normalização das relações bilaterais.

Pequim e Moscou se comprometem, em dezembro de 1992, a não aderir a uma aliança político-militar dirigida contra a outra parte.

Em setembro de 1994, os dois países encerram o confronto nuclear e aceitam retirar seus respectivos mísseis.

– Parceiros frente aos EUA em 1996 –

Em abril de 1996, em Pequim, o presidente Jiang Zemin e seu homólogo russo, Boris Yeltsin, estabelecem uma “parceria estratégica para o século XXI” para contrabalançar o domínio internacional dos Estados Unidos.

Em 2001, em Xangai, China, Rússia e três ex-Estados soviéticos da Ásia Central (Quirguistão, Tadjiquistão e Cazaquistão) assinam um acordo de segurança que dá origem à Organização para a Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês).

– Tratado de Amizade em 2001 –

O primeiro tratado de amizade sino-russo em 50 anos é assinado no Kremlin, em julho de 2001.

Em junho de 2005, é firmado um acordo definitivo sobre o traçado da parte oriental da fronteira sino-russa, após 40 anos de negociações.

O novo presidente chinês, Xi Jinping, reserva sua primeira visita oficial estrangeira a Moscou, em 2013, quando assina cerca de 30 acordos de petróleo e gás.

– Frente comum sobre a Síria –

Durante a guerra na Síria, iniciada em 2011, Rússia e China bloquearam, repetidamente, os projetos de resolução do Conselho de Segurança da ONU para condenando o governo de Bashar al-Assad.

Pequim mostra indulgência para com Moscou, quando as forças russas assumem o controle da Crimeia em 2014.

– Maior cooperação energética –

Em 21 de maio de 2014, China e Rússia concluem um mega-contrato de fornecimento de gás no valor de US$ 400 bilhões ao longo de 30 anos, após uma década de negociações.

Em dezembro de 2019 é inaugurado um gasoduto comum que transportará gás da Sibéria Oriental para a China.

Em 28 de junho de 2021, os dois países prorrogam por cinco anos seu tratado de amizade de 2001.

– Amizade “sem limites” –

No início de fevereiro de 2022, em Pequim, os líderes russo e chinês proclamam sua amizade “sem limites”.

Dias depois, Vladimir Putin ataca a Ucrânia. Em setembro de 2022, em meio à crise com governos ocidentais, Xi Jinping e Putin afirmam que desejam estreitar seus laços.

Pequim não condena, nem apoia, explicitamente, a ofensiva russa, ao mesmo tempo em que dá apoio diplomático a Moscou e pede uma resolução do conflito.

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