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Violência política deixa quase meio milhão de refugiados na Costa do Marfim

Centenas de milhares de pessoas estão fugindo na Costa do Marfim devido aos confrontos de militantes de Alassane Ouattara, presidente eleito reconhecido pela comunidade internacional, e do presidente Laurent Gbagbo, que foi derrotado nas eleições de 28 de novembro do ano passado.

A ONU mantém um efetivo de 11 mil soldados e  policiais no país, porém a tropa de paz parece incapaz de garantir a segurança. Somente na semana passada, foram mortas 370 pessoas, conforme as Nações Unidas. A União Africana convidou Ouattara e Gbagbo para uma reunião nesta quinta-feira (10/03) em Adis Abeba, quando tentará convencer Gbagbo a deixar o poder.

Em novembro, após a apuração dos votos acompanhada por observadores internacionais, a Comissão Eleitoral da Costa do Marfim declarou o candidato da oposição, Alassane Ouattara, vencedor do segundo turno das eleições. No entanto, o presidente do Conselho Constitucional, Paul Yao N'dré, parente do presidente, desconsiderou os resultados e declarou Gbagbo vencedor.

Marfinenses fogem para Gana e Libéria
No último sábado, os dois candidatos realizaram cerimônias para assumir a presidência e nomear ministros. O efeito do impasse foi o isolamento internacional de Gbagbo, que, garantido por seus militantes e pelo aparato militar do país, não aceita deixar o poder, apesar da pressão de governos vizinhos e do Ocidente. A intensificação da violência em Abidjan, onde fica a sede do governo, no leste do país, eleva o temor de uma nova guerra civil na Costa do Marfim.

O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) estima que mais 400 mil pessoas estejam deixando suas casas, muitas em direção a Gana e Libéria, país que também enfrentou longos anos de guerra civil. "A situação em Abobo (ao norte de Abidjan) é insuportável. Vive-se em constante ameaça e se ouve muitos tiros", disse um fugitivo em direção a Gana.

Conhecendo a violenta disputa política que marca seu país há anos, os marfinenses iniciaram um deslocamento em massa. O porta-voz da ACNUR, Adrian Edwards, explicou que, nas primeiras semanas da crise, foram registradas fugas apenas de mulheres com crianças. "Agora, no entanto, são famílias inteiras, é uma fuga em massa", acrescentou. Ele vê nisso um sinal de que "os refugiados sabem que ficarão longo tempo sem voltar para casa".

ONG alemã deixa região
A ONU instalou um centro de ajuda humanitária na Libéria, a 50 quilômetros da fronteira com a Costa do Marfim, para receber os refugiados. Para fugir dos conflitos, as pessoas procuram prédios públicos, igrejas e mesquitas em Abidjan para se proteger. "Algumas instalações não têm estrutura para sanitários, dormitórios ou mesmo para preparar refeições. Mulheres, crianças e idosos precisam de ajuda urgente", alerta Edwards.

A antiga organização rebelde Novas Forças (Forces Nouvelles) assumiu o controle de pelo menos três cidades antes consideradas centros de apoio a Gbagbo. Também durante a crise política entre 2002 e 2007, centenas de milhares haviam fugido do país. Edwards lembra que estes refugiados depositavam grande esperança nas eleições de 2010.

A ONG alemã SOS Kinderdorf teve que abandonar Abobo, área em que instalou o seu primeiro escritório na África em 1971. Conforme o diretor da ONG, Paul Gbato, não há como garantir a segurança das crianças no local. "A situação é insuportável. Somos ameaçados, se ouve tiros constantemente. […] Os tiros dos canhões estavam traumatizando as crianças. Decidimos transferir as crianças para Aboisso", explica Gbato, referindo-se a uma cidade a 120 quilômetros de Abidjan.

Autores: Dirke Köpp/Marcio Pessôa
Revisão: Roselaine Wandscheer

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