O vice-chanceler do Irã para as Américas, Behrouz Kamalvandi, disse que o voto do Brasil contra seu país no Conselho de Direitos Humanos da ONU, na quinta-feira passada, "mostra o início de uma política de ziguezague", com impacto negativo nas relações bilaterais.
O voto foi o primeiro do Brasil contra o Irã num órgão na ONU em oito anos e permitiu a imposição ao país de um relator especial que deverá investigar supostas violações dos direitos humanos.
Na entrevista, concedida no mesmo dia da votação à agência oficial iraniana, a Irna, e reproduzida pela Agência Brasil no dia seguinte, o iraniano diz que o ex-presidente Lula resistiu a "pressões internas dos tecnocratas pró-Ocidente e às ameaças externas" e fortaleceu "políticas independentes".
Diz ainda que essas pressões teriam aumentado desde a posse de Dilma Rousseff e que a mudança na votação do Brasil ocorreu logo após a visita de Barack Obama, "embora a situação dos direitos humanos naquele período tenha se mantido".
Para o iraniano, existe "enfrentamento entre tecnocratas e líderes independentes" no Brasil.
Kamalvandi disse que, sob Lula, "líderes do Brasil sempre se opuseram ao uso instrumental e trato seletivo e político dos direitos humanos e, por isso, não ficavam na mesma linha dos EUA e países ocidentais".
Para ele, essa atitude, "independente e justa", mostrava que o país não estava "disposto a sacrificar seus princípios e valores" para se tornar um membro permanente do Conselho de Segurança.
"O Brasil, desde a chegada do [ex-] presidente Lula, está trabalhando seriamente para concretização deste objetivo. Mas, sempre paralelamente, criticava de forma consistente a estrutura do sistema internacional. Ele acreditava na necessidade de reforma."
Kamalvandi, além de Lula, elogiou Cuba e Equador, que votaram contra a investigação, e Uruguai, que se absteve. Para ele, esses são países que "resistiram contra pressões das potências".