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VENEZUELA – Charadas Mortais Bolivarianas

No mais recente acontecimento surreal deste ano numa campanha eleitoral, o venezuelano Neptali Segovia, um veterano autor de palavras cruzadas, foi acusado de esconder, numa mensagem codificada, um plano para assassinar o irmão do presidente Hugo Chávez, Adán Chávez.

Segovia negou qualquer intenção subversiva, mas segundo o jornal onde trabalha, o "Últimas Notícias", foi alvo de interrogatório de agentes de inteligência. Um canal de TV estatal acusou o autor de palavras cruzadas de esconder uma mensagem que incentivava um ataque contra Adán Chávez, governador do estado de Barinas. Nas respostas do jogo de conhecimento, haveria várias pistas para atirar em Adán, como o seu próprio nome, e as palavras "assassinem" e "rajadas".

– Eu sou o primeiro a querer esclarecer isso. Eu não tenho nada a esconder, porque o trabalho que tenho feito há 17 anos envolve apenas cultura e educação, além de ser transparente – defendeu-se Segovia. – Eu fui tratado com respeito. Ouviram minha declaração formal e fizeram um boletim de rotina. Depois, me trouxeram em casa.

O caso, que causou risos em alguns círculos, também revelou um ambiente perigosamente polarizado no país, onde Hugo Chávez vem acusando líderes da oposição de planejar atos de violência na corrida para a eleição presidencial, em outubro. O mistério sobre a condição de saúde do presidente – que anunciou ontem sua volta de Cuba, onde trata um câncer, à Venezuela – só tem aumentado a atmosfera de tensão.

O polêmico Perez Pirela, que usa um programa de TV no início da noite para criticar os adversários de Chávez, contou que um grupo de matemáticos, psicólogos e outros especialistas havia estudado as palavras cruzadas em espanhol e concluíra que se tratava de uma trama de assassinato codificada. "Esses tipos de mensagens foram usados bastante na Segunda Guerra Mundial", disse o comentarista, ao vivo na televisão, no início da semana.

– É uma mensagem. Estou falando em nome da verdade – adicionou Pirela.

O "Últimas Noticias" afirmou que seis oficiais dos serviços de inteligência tinham visitado a redação do jornal anteontem, pedindo informações sobre Segovia. Mais tarde, o autor das palavras cruzadas teria ido voluntariamente à sede dos serviços de inteligência para prestar depoimento. O jornal "Tal Cual", militante da oposição, satirizou o governo de Chávez ontem. Na primeira página, publicou um jogo de palavras cruzadas destacando os males da nação. As pistas foram: "O que os funcionários fazem quando negligenciam os fundos públicos?" (corrupção); "Talvez a lei que sofre mais abusos?" (Constituição) e "Nome do líder supremo que governa o nosso destino? Barbudo" (Fidel Castro).

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