Em uma nova ofensiva contra o programa nuclear iraniano, os países da União Europeia aprovaram ontem, em Bruxelas, um bloqueio contra as importações de petróleo do Irã. O acordo preliminar não define quando o embargo entrará em vigor, mas foi suficiente para elevar a cotação do barril, em Londres, para US$113,70, o maior patamar desde 11 de novembro. Nos últimos dois dias, o preço do petróleo subiu 5,89%, impulsionado pelas ameaças de Teerã de fechar o estreito de Hormuz, por onde passa mais de um sexto da produção mundial, e de retaliar os EUA se um de seus porta-aviões retornasse ao Golfo Pérsico.
As discussões sobre o veto ao petróleo iraniano pelos países da UE começaram em dezembro, após a divulgação de um relatório pela Agência Internacional de Energia Atômica, que apontava indícios de uso do programa nuclear para o desenvolvimento de armas atômicas. O principal entrave para o acordo era o grau elevado de dependência do produto entre os membros mais endividados do bloco.
O petróleo iraniano representa 14% do consumo na Grécia e 14,6% da Espanha. Após discussões diplomáticas com Teerã, os membros da UE abandonaram as objeções ao embargo, e agora, mergulhados em uma crise de dívida, terão que buscar fornecedores substitutos.
– Progredimos muito – disse um diplomata europeu, sob condição de anonimato. – O princípio de um embargo ao petróleo foi acordado. Não foi debatido mais do que isso.
O primeiro-ministro italiano, Mario Monti, disse que a Itália está pronta para aderir ao embargo desde que seja imposto gradualmente. A próxima reunião do bloco está marcada para o dia 30, e a França tem feito pressão para que o veto entre em vigor rapidamente.
EUA elogiam decisão e defendem sanções
A decisão da UE representa uma nova dimensão para as sucessivas sanções impostas ao país. Em conjunto, os europeus são o segundo maior comprador de petróleo iraniano, atrás apenas da China. A indústria petrolífera corresponde a 60% da economia iraniana. A medida pode forçar Teerã a oferecer descontos a outros países dispostos a manter negócios. Ontem, o diretor da Companhia Nacional de Petróleo Iraniana, S. M. Qamsari, minimizou o impacto:
– Poderíamos facilmente substituir estes clientes.
Os EUA, que não compram petróleo do Irã e aprovaram no fim do ano sanções mais duras contra o país, elogiaram a decisão. A porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, disse que "é o tipo de medida que esperamos não apenas de nossos aliados próximos como também de outros países".
As sanções ao país estão na agenda do secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, em uma viagem para China e Japão na próxima semana.
O cerco à economia iraniana ocorre dois meses antes das eleições parlamentares no país, a primeira votação desde a polêmica eleição presidencial de 2009 que resultou em manifestação nas ruas. As autoridades do país tentam evitar qualquer levante popular nos moldes da derrubada de ditadores na Primavera Árabe. Nas ruas de Teerã, no entanto, as sanções já mostram efeitos com o aumento dos preços de alimentos e a desvalorização da moeda local.