Anatoliy aponta os poucos painéis blindados que o protegem quando pilota um velho helicóptero soviético em missões de combate contra a Rússia.
“Isso é uma piada, não é uma armadura”, disse o combatente de 39 anos, que voou em cerca de 300 missões no ano passado.
Em um momento em que o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, está buscando armas modernas de seus aliados ocidentais, no leste da Ucrânia, pilotos que usam helicópteros muito antigos da era soviética admitem que a Rússia é tecnologicamente superior a eles.
Anatoliy pilota um helicóptero construído em 1986 na União Soviética. Esta nave era, principalmente, um veículo de transporte, mas na Ucrânia é usada em missões de combate, apesar da falta de blindagem.
A dele é decorada com um desenho feito à mão de um guarda montado em um dragão e a mensagem: “Lute e reivindique a vitória. Deus o ajudará”.
Nas operações, os Mi-8 voam acompanhados de um Mi-24, modelo menor, manobrável e blindado.
“É aterrorizante porque eles (os russos) inventaram novas maneiras de nos atacar, de destruir nossos helicópteros”, disse em inglês o piloto do Mi-24, Vladyslav.
Helicópteros ucranianos voam baixo para se esconder dos russos, mas as forças de Moscou podem atacá-los com seus caças a uma distância de 140 quilômetros, explicou.
“Só precisam de um míssil”
Os encarregados do reconhecimento iluminam esses aparelhos com lasers. “É por isso que seus misseis podem nos atingir”, disse ele. Sua única proteção são os sinalizadores que lançam para confundir os detectores de calor dos misseis.
Vladyslav olhou para seu caça Mi-24 e afirmou: “Esse helicóptero tem 35 anos e posso dizer que é um helicóptero ‘jovem’, porque os Mi-8 têm 45 anos”. Uma nave tão antiga sofre de fadiga dos metais, e a Ucrânia não tem capacidade para produzir novas peças. Além disso, a fuselagem é muito vulnerável.
“Eles só precisam de um foguete para chegar até nós, e o helicóptero é derrubado”, contou. Para ele, é preciso ter Black Hawks e Apaches americanos. “Estes helicópteros são muito semelhantes aos nossos Mi-24 e Mi-8 (…) e têm novos tipos de mísseis”, explicou.
Andriy, que pilota um velho Mi-8, concorda. “É melhor ter o que os Estados Unidos e a Europa têm”, disse ele. O problema não são apenas os helicópteros, mas também os sistemas de reconhecimento usados para detectar posições inimigas, disseram os combatentes.
“Um verdadeiro inferno”
“O primeiro mês foi um verdadeiro inferno. Não sabíamos onde estavam as defesas aéreas inimigas”, lembrou Andriy.
Mesmo agora, a Rússia “pode ver metade da Ucrânia”, disse Anatoliy, que acredita que as forças ucranianas veem apenas “o mínimo possível”.
Vladyslav contou que cobre o rosto para esconder sua identidade, já que garante que os russos estão à procura dos pilotos do helicóptero.
“Somos como um tesouro no Exército”, afirmou, explicando que o treinamento de um piloto de caça implica um investimento de US$ 8,1 milhões (cerca de R$ 42,8 milhões).
“Perdemos muitos colegas e muitos helicópteros. Não posso dizer quantos, porque é segredo”, disse ele.
Algumas autoridades ocidentais questionam a ideia de fornecer à Ucrânia os caças mais modernos reivindicados por Kiev, porque seus pilotos terão de ser treinados.
“É apenas por seis meses”, disse Vladyslav, destacando as semelhanças entre os helicópteros Black Hawk e Apache, e os que eles utilizam.
Para Anatoliy, o argumento é simples: “Quando você quer viver, aprende rápido”.