O ultimato dado pelo governo interino da Ucrânia a grupos pró-Rússia expirou nesta segunda-feira (14/04) sem que qualquer reação contra eles viesse de Kiev – ao contrário, o presidente interino Olexandr Turtchinov até deu sinais de recuo ao afirmar que aceitaria um referendo sobre a federalização do país. Se vitoriosa, a proposta significaria que as regiões teriam mais autonomia, em detrimento da administração central.
Além disso, Turtchinov ainda pediu apoio às Nações Unidas. Em conversa telefônica com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o chefe de Estado sugeriu que uma "operação antiterrorismo" seja realizada em conjunto pelas forças de segurança ucranianas e as da organização internacional. Uma dificuldade dessa proposta, entretanto, é que uma mobilização de tropas de paz dependeria da autorização do Conselho de Segurança, onde a Rússia detém poder de veto.
Forças pró-Rússia seguem assumindo o controle em regiões do leste da Ucrânia, já tendo invadido instalações das administrações locais, delegacias de polícia e um pequeno aeroporto.
UE amplia sanções a mais pessoas
Paralelamente, os ministros do Exterior da União Europeia (UE) se reuniram em Luxemburgo para debater a crise na Ucrânia. Segundo a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, a UE responsabiliza o Kremlin pelos incidentes recentes no leste ucraniano e vai ampliar o rol das personalidades russas e ucranianas atingidas por sanções.
"Diante dos eventos, decidimos expandir a lista daqueles sujeitos a congelamento de bens e interdição de vistos", declarou Ashton após o encontro. No momento, são atingidos por tais medidas 33 altos empresários e autoridades, inclusive colaboradores próximos do presidente da Rússia, Vladimir Putin. O número de novos afetados e os nomes deles ainda serão definidos.
A UE optou por não endurecer as medidas contra os implicados na crise ucraniana, possivelmente em consideração ao próximo encontro multilateral em Genebra. Também sanções econômicas à Rússia estão descartadas por enquanto. Nesta quinta-feira, diplomatas da Rússia, da Ucrânia, dos Estados Unidos e da UE deverão se reunir naquela cidade para uma tentativa de reduzir as tensões no leste da Ucrânia.
Os ministros reunidos em Luxemburgo também aprovaram a disponibilização de 1 bilhão de euros em créditos para a Ucrânia, com a condição de que Kiev ponha em marcha reformas políticas e econômicas. O montante se soma aos 610 milhões já aprovados para estabilizar o orçamento da combalida Ucrânia. Além disso, os ministros aprovaram eliminar quase todas as taxas alfandegárias para os produtos procedentes do país. Com essa decisão, a UE põe em prática uma parte do acordo de associação com a Ucrânia.
Avanço pró-russo prossegue no leste
O governo interino em Kiev tem se mostrado impotente para conter a crise no sul e no leste ucraniano, onde as milícias separatistas já tomaram ou isolaram prédios administrativos em pelo menos nove cidades. O governo de Turtchinov e autoridades ocidentais acusam Moscou de instigar a insurgência, mobilizando agentes russos em trajes civis para esse fim.
O presidente ucraniano dera prazo até esta manhã para que os militantes entregassem suas armas e abandonassem as barricadas em que se entrincheiraram, caso contrário autorizaria uma intervenção militar. No entanto, o ultimato transcorreu sem qualquer alteração visível. Em vez disso, a violência prossegue.
Em Horlivka, próximo à fronteira com a Rússia, uma multidão pró-russa invadiu uma delegacia policial. Mais tarde, homens armados e mascarados assumiram o controle de um pequeno aeroporto fora da cidade de Slaviansk, na região oriental de Donetsk.
No site da presidência, Turtchinov declarou que "a Federação Russa está enviando unidades especiais para o leste de nosso país, que ocupam prédios administrativos com uso de armas e que estão colocando em perigo as vidas de centenas de milhares de nossos cidadãos".
O ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, por sua vez, voltou a rebater que agentes de seu país estejam operando na Ucrânia, alegando que isso contrariaria os interesses do Kremlin. Ele desafiou a Ucrânia a fundamentar suas acusações com fatos.
Já a presidência russa divulgou que recebe "numerosos pedidos" de ajuda originários da região leste da Ucrânia e que acompanha com "grande preocupação" a evolução da situação.
As ocorrências no leste e sul ucranianos recordam fortemente os eventos recentes na Crimeia. A república autônoma foi gradualmente ocupada por forças pró-russas, antes que um referendo determinasse sua independência em relação à Ucrânia e subsequente anexação à Federação Russa.