(Reuters) – A Ucrânia quer ver uma decisão “forte” tomada na cúpula da Otan em Washington no próximo mês, enquanto Kiev tenta avançar em seu objetivo estratégico de se juntar à aliança militar, disse à Reuters o conselheiro de política externa do presidente Volodymyr Zelenskiy.
Ihor Zhovkva, que falou em uma entrevista antes de viajar para Luxemburgo para uma reunião da União Europeia que lançará formalmente as negociações de adesão para a Ucrânia, afirmou que Kiev quer que a cúpula da Otan termine com resultados concretos.
“Acho que essa cúpula merece uma decisão forte, inclusive sobre a Ucrânia. Porque, quero dizer, se não houver decisões fortes sobre a Ucrânia, a cúpula será inútil”, disse ele em Kiev no final da segunda-feira.
Ele não especificou o que achava que essa decisão implicaria.
Zelenskiy, que fez lobby, sem sucesso, por um convite político para participar da cúpula de Vilnius no verão passado, disse que a cúpula deste ano deve resolver a questão de convidar Kiev.
Embora o chefe da Otan, Jens Stoltenberg, e Washington tenham dito que não esperam que os 32 membros da aliança, na cúpula de 9 a 11 de julho, convidem Kiev para participar, Stoltenberg disse que espera mostrar que a Ucrânia está se aproximando da adesão.
Os aliados têm discutido possíveis textos na declaração da cúpula que poderiam enviar esse sinal, como declarar que o caminho da Ucrânia para a Otan é “irreversível”.
“Nós merecemos uma decisão forte. Qualquer decisão (da) Otan requer consenso. E todos nós sabemos disso, e entendemos que talvez desta vez o consenso seja formado novamente (no) último dia antes da cúpula”, declarou Zhovkva.
Até o momento, não houve resposta oficial do governo ucraniano a uma reportagem da Reuters na terça-feira, segundo a qual assessores do candidato à Presidência dos EUA Donald Trump estão considerando dizer a Kiev que ela só receberá mais armas dos EUA se entrar em negociações de paz.
Trump recebeu plano para encerrar ajuda à Ucrânia caso Kiev não negocie com Moscou
Dois importantes assessores do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentaram a ele um plano para acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia — caso ele vença a eleição presidencial — que envolve dizer à Ucrânia que ela só receberá mais armas dos EUA se entrar em negociações de paz com Moscou.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos alertariam Moscou de que qualquer recusa em negociar resultaria no aumento do apoio dos EUA à Ucrânia, disse em uma entrevista o tenente-general aposentado Keith Kellogg, um dos assessores de segurança nacional de Trump.
De acordo com o plano elaborado por Kellogg e Fred Fleitz, que atuaram como chefes de gabinete no Conselho de Segurança Nacional de Trump durante seu mandato na Presidência entre 2017 e 2021, haveria um cessar-fogo com base nas linhas de batalha prevalecentes durante as negociações de paz.
Eles apresentaram sua estratégia a Trump, e o ex-presidente respondeu favoravelmente, disse Fleitz. “Não estou afirmando que ele concordou ou que concordou com cada palavra, mas ficamos satisfeitos com a resposta que recebemos”, disse ele.
No entanto, o porta-voz de Trump, Steven Cheung, disse que somente as declarações feitas por Trump ou por membros autorizados de sua campanha devem ser consideradas oficiais.
A estratégia delineada por Kellogg e Fleitz é o plano mais detalhado até agora por associados de Trump, que disse que poderia resolver rapidamente a guerra na Ucrânia se derrotar o presidente Joe Biden na eleição de 5 de novembro, embora não tenha discutido detalhes específicos.
A proposta marcaria uma grande mudança na posição dos EUA sobre a guerra e enfrentaria a oposição de aliados europeus e do próprio Partido Republicano de Trump.
O Kremlin disse que qualquer plano de paz proposto por um possível futuro governo Trump teria que refletir a realidade local, mas que o presidente russo, Vladimir Putin, continua aberto a conversações.
“O valor de qualquer plano está nas nuances e em levar em conta a situação real das coisas no terreno”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à Reuters.
“O presidente Putin tem dito repetidamente que a Rússia tem estado e permanece aberta a negociações, levando em conta a situação real das coisas no terreno”, disse ele. “Continuamos abertos a negociações.”
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia não respondeu aos pedidos de comentários sobre o plano.
ADESÃO À OTAN EM ESPERA
Os elementos centrais do plano foram delineados em um documento disponível publicamente, publicado pelo “America First Policy Institute”, um think tank favorável a Trump, onde Kellogg e Fleitz ocupam cargos de liderança.
Kellogg disse que seria crucial levar a Rússia e a Ucrânia à mesa de negociações rapidamente se Trump vencer a eleição.
“Dizemos aos ucranianos: ‘Vocês precisam se sentar à mesa de negociações e, se não o fizerem, o apoio dos Estados Unidos acabará'”, disse ele. “E você diz a Putin: ‘Ele tem que se sentar à mesa e, se você não se sentar à mesa, daremos aos ucranianos tudo o que eles precisam para matá-lo em campo’.”
De acordo com o documento, Moscou também seria persuadida a sentar-se à mesa de negociações devido a uma promessa de que a adesão da Ucrânia à aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) seria adiada por um longo período.
A Rússia invadiu a vizinha Ucrânia em fevereiro de 2022. Até alguns ganhos da Rússia nos últimos meses, as linhas de frente mal se moveram desde o final daquele ano, apesar de dezenas de milhares de mortos em ambos os lados em uma guerra de trincheiras implacável, a luta mais sangrenta na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Fleitz disse que a Ucrânia não precisa ceder formalmente o território à Rússia de acordo com seu plano. Ainda assim, segundo ele, é improvável que a Ucrânia recupere o controle efetivo de todo o seu território no curto prazo.
“Nossa preocupação é que isso tenha se tornado uma guerra de desgaste que matará uma geração inteira de jovens”, disse ele.
Uma paz duradoura na Ucrânia exigiria garantias adicionais de segurança para a Ucrânia, disseram Kellogg e Fleitz. Fleitz acrescentou que “armar a Ucrânia até os dentes” provavelmente seria um elemento-chave para isso.
“O presidente Trump declarou repetidamente que uma das principais prioridades em seu segundo mandato será negociar rapidamente o fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia”, disse o porta-voz de Trump, Cheung. “A guerra entre a Rússia e a Ucrânia nunca teria acontecido se Donald J. Trump fosse presidente. É muito triste.”
A campanha de Biden disse que Trump não está interessado em enfrentar Putin.
“Donald Trump elogia Vladimir Putin sempre que pode, e deixou claro que não vai se opor a Putin nem defender a democracia”, disse o porta-voz da campanha do presidente democrata, James Singer.