Num dia marcado por intensas trocas diplomáticas, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, deu nesta terça-feira (10/06) um importante passo para desescalar o conflito com os rebeldes pró-Rússia ao autorizar a criação de corredores humanitários no leste do país. A medida foi aplaudida por Moscou.
Na sexta-feira passada, na Normandia, Poroshenko apresentou ao presidente russo, Vladimir Putin, um plano de paz. E uma das condições impostas pelo Kremlin para sua aplicação era a criação dos corredores humanitários. Porém, ainda não há sinais de que seja declarado qualquer cessar-fogo por Kiev – o líder ucraniano havia acenado com a possibilidade na semana passada.
Numa tentativa de abrir caminho para um cessar-fogo, ministros do Exterior de Rússia, Alemanha e Polônia, maior aliado de Kiev, se reuniram nesta terça-feira em São Petersburgo. O russo Serguei Lavrov disse estar convencido de que, quando as forças ucranianas declararem trégua, os rebeldes também deixarão as armas. "Ninguém está interessado em perpetuar a guerra", afirmou.
Presente no encontro na Rússia, o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, disse que a reunião "permite ver luz no fim do túnel". "Não posso dizer que já encontramos uma solução política para essa crise, mas a escalada que até agora contemplamos, dia a dia, deu lugar a uma nova atmosfera", avaliou.
Em tom menos conciliador, o chanceler polonês, Radoslaw Sikorski, assegurou que, se Moscou quer se mostrar a favor da paz, a melhor maneira de fazê-lo é "freando a entrada de separatistas e armas através da fronteira." Os confrontos no leste ucraniano continuam. Nesta terça-feira, os separatistas anunciaram a destituição do prefeito de Slaviansk, bastião pró-Rússia na região de Donetsk.
Disputa por gás
Após as conversações do início da semana, não houve progressos na disputa pelo fornecimento de gás entre a Ucrânia e a Rússia. As negociações entre Kiev e Moscou deverão continuar nos próximos dias.
A Rússia ameaçou com uma suspensão do fornecimento, caso não se chegasse a uma solução até esta terça. Participaram das negociações os ministros da Energia Alexander Novak (Rússia) e Yuri Prodan (Ucrânia), como também os chefes das empresas de gás de ambos os países, Alexey Miller (Gazprom) e Andrey Kobolev (Naftogas).
Em discussão está o pagamento de dívidas acumuladas da Ucrânia e o futuro preço do gás. Em conversas anteriores, em 2 de junho último, ambas as partes não puderam chegar a um consenso. Se não houver acordo, a Gazprom ameaça interromper o fornecimento.
Mesmo após o pagamento parcial de cerca de 577 milhões de euros, a Ucrânia ainda tem uma dívida de 1,05 bilhão de euros com a Gazprom. Kiev condicionou o pagamento do restante da dívida a um acordo sobre o preço do gás a partir de junho. A Rússia pede 485 dólares por mil metros cúbicos de gás, em vez dos atuais 268,5 dólares.
A União Europeia (UE) está interessada num acordo entre a Rússia e a Ucrânia, entre outros motivos, porque uma suspensão de fornecimento pela Rússia também pode implicar uma interrupção do abastecimento à UE, devido aos gasodutos que atravessam a Ucrânia. A União Europeia importa um terço de seu consumo total de gás natural da Rússia, e boa parte do que importa passa por território ucraniano.