Perto da meia-noite, na escuridão deliberada do porto de Misrata, a tripulação do rebocador afrouxou suas amarras do cais e puxou-as a bordo.
O timoneiro ligou os dois motores do Al Iradah 6 e girou dentro da bacia, ganhou velocidade e se dirigiu para a abertura no cais. Poucos quilômetros além, fora do alcance da artilharia de Muamar Kadafi, estava a segurança do mar aberto.
Lá, o timoneiro virou o barco para o leste, na direção de Benghazi, a capital rebelde da Líbia localizada a cerca de 300 quilômetros de distância. A trajetória de um navio de contrabando estava completa.
Há muitas razões para o sucesso dos rebeldes em Misrata, onde recentemente expulsaram as forças de Kadafi da cidade e tomaram o aeroporto. Uma delas é o transporte marítimo determinado e oculto, realizado por uma pequena frota de embarcações da Líbia.
Combinando as necessidades de uma cidade em guerra com o talento dos marinheiros mercantes e pescadores, os rebeldes organizaram cerca de duas dezenas de embarcações de pesca e ex-rebocadores antes controlados por Kadafi em uma frota improvisada que deu a Misrata um veio para a entrada de provisões.
A frota navega com a aprovação e apoio da Otan.
Em um nível básico, a frota tem assumido missões tanto de misericórdia quanto de guerra. A carga mista – leite em pó e remédios são transportados ao lado de caixas de munição – ajuda os civis a sobreviver e equipa Misrata para a sua luta.
A importância estratégica de Misrata é clara para a equipe da embarcação Al Iradah 6. Durante meses, os rebeldes presos na cidade, a apenas 130 quilômetros de Trípoli, serviram ao movimento de oposição um argumento poderoso contra qualquer discussão sobre o fim da guerra que signifique a partição nacional.
Enquanto os homens armados de Misrata defenderem a sua cidade, a terceira maior do país, o governo de Kadafi nunca poderia dizer com credibilidade que a guerra foi uma disputa entre leste e oeste, e propor que o país seja dividido. Essas são algumas das motivações políticas e humanas para muitos dos marinheiros que optaram por unir esforços aos rebeldes da guerra.
Fora do porto, o capitão do Al Iradah 6, Saif Nasser, disse que outra coisa também o levou a entrar para a resistência – a sensação crescente de autorrespeito e autodeterminação.
"Kadafi achava que o povo não era forte", disse o capitão. "Por mais de 40 anos, o povo foi seu prisioneiro, e ele pensava que nós éramos como os animais. Mas agora ele descobriu que somos um povo muito forte".
*Por C. J. Chivers