Anders Behring Breivik, autor confesso dos atentados que mataram 76 pessoas na Noruega, deve ser interrogado novamente pela polícia nesta sexta-feira (29/07). As autoridades ainda investigam se os ataques teriam alguma ligação com movimentos de extrema direita na Europa.
Sabe-se que Breivik foi membro do Partido Progressista norueguês, que segue uma linha populista de direita – ele chegou a ocupar posições de liderança na ala jovem da agremiação. O presidente do partido, Siv Jensen, no entanto, distanciou-se de Breivik logo depois dos atentados.
Para a polícia norueguesa, o mais provável é que Breivik agiu sozinho, apesar de ele ter dito que contava com cúmplices. De qualquer forma, a tragédia reacendeu na Europa o debate sobre o extremismo de direita, a xenofobia e o anti-islamismo, que fazem parte do programa ou do discurso de diversos partidos políticos no continente.
Cenário na Noruega
Na Noruega, o Partido Progressita, que defende ideias xenófobas e nacionalistas, é desde 2005 a segunda maior bancada no Parlamento, mas não faz parte do governo. O partido é contra a imigração, mas não se trata de um partido neonazista. Estima-se que o núcleo duro do neonazismo norueguês seja formado por apenas 150 pessoas.
Por esse motivo, o pesquisador Hajo Funke, da Universidade Livre de Berlim, diz-se surpreso pelo fato de um ataque de extrema direita ter ocorrido na Noruega – na Suécia, país vizinho, a cena é consideravelmente mais forte e violenta, argumenta.
O sucesso dos partidos populistas de direita não pode ser automaticamente responsabilizado pelos atos de indivíduos, diz Funke, mas ajuda a "esquentar o clima". Em entrevista à agência de notícias DAPD, Funke acrescenta que a situação é diferente em cada país da Europa.
Extremismo na Escandinávia
Na Suécia, O Democratas Suecos – de extrema direita, apesar do nome – tem 20 assentos no Parlamento do país. Em 2010, obteve 5,7% dos votos. O partido defende uma drástica redução da imigração e o retorno do controle nas fronteiras. Jimmie Akesson, presidente do partido, criticou duramente os ataques ocorridos na Noruega.
Já na Finlândia, o Partido dos Verdadeiros Finlandeses conseguiu, em 2010, 19% dos votos na eleição parlamentar e, com isso, quadruplicou o seu número de assentos. Ainda assim, a terceira maior força política no país não tem representantes no governo. Isso porque os "Verdadeiros Finlandeses", com sua linha xenófoba e eurocética, recusam-se a apoiar o pacote de ajuda financeira ao euro. O partido também tem dois representantes no Parlamento Europeu.
Na Dinamarca, o Partido Popular Dinamarquês não integra a coalizão governamental minoritária entre liberais e conservadores, mas garante maioria parlamentar ao governo. Em troca, este precisa ceder em pontos importantes para a extrema direita, como o recente retorno do controle de fronteiras. A Dinamarca é signatária do Acordo Schengen, que prevê a livre circulação de pessoas entre os países-membros.
O Partido Popular Dinamarquês é considerado a quarta maior força no cenário político do país, é contra a imigração e trabalha por leis de imigração e asilo mais severas em comparação com a Europa. O partido também têm dois assentos no Parlamento Europeu.
Holanda e França
De forma semelhante aos grupos do norte da Europa, o Partido para a Liberdade (PVV) atua na Holanda. Fundado em 2005 pelo anti-islâmico de direita Geert Wilders, o partido obteve grande sucesso nas eleições parlamentares de 2010 e tornou-se a terceira maior força da casa e, mesmo sem integrar o governo, garante maioria parlamentar à coalizão.
Wilders classificou o autor dos atentados na Noruega como psicopata violento e doente e expressou profundo pesar pelas vítimas. Num texto publicado na internet, Breivik havia elogiado o PVV, chamando-o de "conservador verdadeiro".
O movimento francês contra o racismo e pela amizade entre os povos responsabilizou os partidos de extrema direita pelos atentados na Noruega. A acusação foi energicamente rejeitada principalmente pela Frente Nacional. Sob a liderança de Marine Le Pen, o partido foi bem-sucedido nas eleições regionais, ficando apenas um ponto abaixo do partido do presidente, Nikolas Sarkozy.
Marine Le Pen deverá concorrer nas eleições presidenciais de 2012. Algumas pesquisas de opinião a colocam na frente na corrida eleitoral. A Frente Nacional é contra o Islã, a imigração e a União Europeia. Marine Le Pen é a filha do fundador do partido, Jean-Marie Le Pen. Ele deixou a presidência do Frente Nacional neste ano, depois de quase 30 anos à frente do grupo.
Onda da islamofobia
Há também partidos de extrema direita ativos na Bélgica, na Suíça, na Áustria e na Itália e, em alguns casos, eles chegam a compor o governo. Na Alemanha, os extremistas de direita não têm sucesso em nível nacional e possuem representação apenas nos parlamentos da Saxônia e de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.
Como em toda a Europa, eles se apoiam principalmente no discurso contra o Islã. Os muçulmanos são considerados os principais inimigos pelo movimento de extrema direita alemã, como diz a cientista política Britta Schellenberg. Por meio da internet, extremistas de outros países, como a Bélgica e a Áustria, criaram uma rede com grupos alemães como o Pro-Köln e o Pro-NRW.
Na Alemanha, a tragédia norueguesa trouxe de volta, ainda, o debate sobre a proibição do partido NPD, de tendência neonazista.
A Hungria é o único país da União Europeia governada por um partido nacionalista O Fidesz, do primeiro-ministro Viktor Orban, tem maioria no Parlamento, onde também tem representatividade o partido de extrema direita Jobbik, visto como neonazista por muitos cientistas políticos.
Nas eleições de 2009, a presença dos radicais de extrema direita cresceu no Parlamento Europeu. No total, eles têm 39 assentos, mas não estão organizados numa bancada por falta de acordo.
NP/dpa/afp/dapd
Revisão: Alexandre Schossler