Os testes nucleares realizados pela Coreia do Norte em 2006 e 2009 utilizaram plutônio. Mas, desde que o governo norte-coreano revelou, em 2010, que possui uma usina de enriquecimento de urânio, observadores internacionais já tinham a expectativa de que o país fosse realizar um teste de um dispositivo com essa substância – cuja produção é mais difícil de ser monitorada pela comunidade internacional.
Bombas nucleares podem usar tanto plutônio como urânio, mas a fabricação de armas de plutônio é mais facilmente detectada, mesmo do exterior, uma vez que ela requer a operação de um reator nuclear. Já o urânio é enriquecido em centrífugas que podem estar escondidas em qualquer uma da instalações militares subterrâneas da Coreia do Norte – estimadas em 8 mil, disse um especialista sul-coreano ao jornal The New York Times na semana passada.
A capacidade de produzir material físsil por enriquecimento de urânio tornaria muito mais difícil o exercício da pressão diplomática sobre o isolado regime norte-coreano e poderia aumentar tensões na região, avaliou o New York Times.
Material usado ainda não foi identificado
Mas é difícil dizer qual tipo de material foi usado para realizar a explosão desta terça-feira, de acordo com comentários de especialistas. Explosões de urânio e plutônio emitem diferentes compostos de gás xenônio, em diferentes proporções. Mas é quase impossível detectar essa diferença 20 horas após a explosão, especialmente se ela foi feita em algum local subterrâneo, disse um especialista ao New York Times.
Siegfried Hecker, um ex-diretor do Laboratório Nacional Los Álamos, localizado no Novo México, Estados Unidos, visitou a Coreia do Norte em novembro de 2010 e informou haver evidências de novas instalações de enriquecimento de urânio, disse ele ao jornal.
O arsenal da Coreia do Norte é estimado entre duas e nove ogivas armadas com plutônio, de acordo com o Instituto de Ciência e Segurança Internacional, com sede nos Estados Unidos. Já a organização britânica de relações internacionais Chatham House calcula que esse número seja maior: entre seis e 12 ogivas. O cálculo é baseado em estimativas das reservas de plutônio enriquecido no reator de Yongbyon, a 80 quilômetros ao norte da capital Pyongyang, antes da instalação ser parcialmente desmantelada em 2008.
Miniaturização
O anúncio de que o dispositivo testado nesta terça-feira foi miniaturizado fez soar um alarme entre especialistas, pois sugere que o governo norte-coreano tenha dominado o complexo processo técnico de produzir uma ogiva pequena o suficiente para caber num míssil de longo alcance ou num submarino. Mas essa informação ainda não foi confirmada por observadores internacionais.
A capacidade de miniaturização teria um significado adicional na esteira do lançamento, em dezembro, de um foguete – que marcou um grande passo adiante para a destreza balística norte-coreana.
A Coreia do Norte está também pensando em melhorar sua capacidade de lançamento. Apenas seu último teste de míssil, em dezembro, colocou um objeto em órbita, embora o governo norte-coreano afirme que lançamentos entre 1998 e 2009 também foram bem-sucedidos.
FC/dpa/afp
Revisão: Alexandre Schossler