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Terror – EUA apuram uso de São Paulo como rota para militantes islâmicos

ÁLVARO FAGUNDES
MARIO CESAR CARVALHO

O governo dos EUA sabe há dois anos que um somali suspeito de ter ligações com grupos terroristas do norte da África operou uma rede de tráfico de pessoas a partir de São Paulo e não avisou as autoridades brasileiras, segundo a Polícia Federal.

A Folha checou a informação obtida nos EUA com dois setores da PF: os que combatem tráfico de pessoas e terrorismo. Não havia nada sobre Ahmed Muhammed Dhakane. Se houvesse, a rede poderia ter sido desmontada, avaliam dois delegados ouvidos sob anonimato.

Foi o somali quem confessou ao FBI (polícia federal dos EUA) e à Justiça do Texas que de 2006 a 2008 enviou pessoas a partir de São Paulo para EUA e Inglaterra.

Ele diz que chegava a ganhar US$ 75 mil (o equivalente hoje a R$ 120 mil). Cobrava no mínimo US$ 3.000 (R$ 4.800) por pessoa. Para não ter problemas, Dhakane diz que pagava propinas a funcionários do aeroporto.

O somali diz que enviava africanos que buscavam trabalho nos EUA e militantes islâmicos de grupos que os EUA classificam de terroristas, como as Cortes Islâmicas e Al-Itthihad Al-Islami.

Os EUA têm um programa de asilo a somalis por conta da guerra civil que desde 1991 matou entre 300 mil e 500 mil pessoas -a estimativa não tem confiabilidade porque o país não tem governo, praticamente, nos últimos 20 anos. É também uma tentativa de conter o avanço islâmico na África e suas possíveis ligações com grupos terroristas, como a Al Qaeda.

Era esse programa que o somali usava para traficar pessoas. Os africanos eram enviados de São Paulo até Guatemala ou México, iam de carro até a fronteira com o Texas e pediam asilo como perseguidos políticos.

O próprio somali tentou entrar nos EUA. Entregou-se em Brownsville, no Texas, em 28 de março de 2008. Pediu asilo e, ao preencher o formulário, começou a se complicar. Respondeu "não" ao ser indagado se pertencera a um grupo terrorista.

Para tentar facilitar a entrada, ele estava com uma garota grávida que diz ter sofrido abusos dele em SP.

Enquanto aguardava na prisão a concessão de asilo, a sua negativa foi desmontada em interrogatórios. Dhakane disse que trabalhou para a organização al-Barrakat como diretor de remessa de dinheiro, de 1997 a 2002.

A al-Barrakat é um conglomerado que cuida da transferência de dinheiro de somalis no exterior, de modo similar aos doleiros brasileiros -ou seja, de recursos que não têm origem legal provada. Os EUA classificam o negócio como terrorista.

Num dos interrogatórios, o somali diz que antes do 11 de Setembro a al-Barrakat enviava quantias superiores a US$ 10 mil. Depois o valor foi reduzido para evitar os mecanismos que tentam barrar a circulação de verba que financia terrorismo.

Pesam sobre ele acusações de ligação com terrorismo, falso testemunho, uso de menor e tentativa de obstruir a Justiça. Se for condenado por todas elas, pode pegar 41 anos de prisão.

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