Laura Diniz
No Brasil, um estrangeiro leva, em média, 45 dias para obter uma autorização para viver e trabalhar no país pelo tempo que quiser. Isso considerando que ele tem a ficha limpa e está com todos os documentos em ordem. Não é, evidentemente, o caso do terrorista italiano Cesare Battisti. Condenado à prisão perpétua na Itália pelo assassinato de quatro homens na década de 70, ele fugiu para a França nos anos 80 e viveu lá até que o governo Jacques Chirac o pusesse para correr. Também como foragido, ingressou no Brasil em 2004 usando um passaporte falso.
Passou três anos sem que ninguém o incomodasse – só foi preso em 2007. Estava na Penitenciária da Papuda até duas semanas atrás, quando foi solto por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), que, endossando a decisão do ex-presidente Lula, resolveu não extraditá-lo para o seu país natal, como queria (e continua querendo) a Itália. Na quarta-feira, o Ministério do Trabalho concedeu-lhe autorização para que se estabeleça no Brasil. O processo todo durou não mais do que treze dias. Termina assim a saga do terrorista que, depois de passar trinta anos como fugitivo, encontrou um país para chamar de seu – o nosso.
Nada disso teria ocorrido não fosse a simpatia petista para com a “causa" de Battisti. Em 2009, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, usando de prerrogativa do cargo – e contrariando parecer técnico elaborado por um órgão da sua própria pasta – , concedeu refúgio político ao assassino. Foi o primeiro sinal de que as portas estavam abertas e escancaradas para Battisti. Na semana passada, as facilidades continuaram.
Diante da impossibilidade de ele apresentar documentos provando que entrou legalmente no Brasil, o Conselho Nacional de Imigração, que analisou seu pedido de permanência, decidiu simplesmente pular a exigência. Agora, o italiano terá "todos os direitos reconhecidos aos brasileiros", como diz o Estatuto do Estrangeiro. Poderá trabalhar, comprar carro, casa e fazer empréstimos. Se sua vida financeira desmoronar, nada o impedirá de receber o Bolsa Família, por exemplo. Quando completar 65 anos, poderá receber aposentadoria.
Enquanto pensa no futuro, o terrorista leva a vida em Higienópolis, um dos bairros mais charmosos de São Paulo. Desde que saiu da cadeia, está hospedado no apartamento do amigo petista Luiz Eduardo Greenhalgh, que também é seu advogado. Battisti ocupa um dos cinco quartos do imóvel, onde o advogado mora com a mulher e a filha.
De início, saía pouco, por temer o assédio da imprensa e a reação dos vizinhos. Agora, já caminha confiante pelas ruas arborizadas do bairro – livre e à vontade como um inocente. Apesar dos boatos recorrentes, o senador Eduardo Suplicy, do PT paulista, nega que pretenda contratá-lo como assessor em seu gabinete. "Não, não. Ele está propenso a escrever um novo livro, contando sua história, para provar sua inocência". O Brasil e os petistas são mesmo uma mãe para Battisti.