A tensão cresce em torno da crise na Ucrânia após separatistas pró-Rússia terem retido nesta sexta-feira (25/04) observadores da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), acusando um membro do grupo de ser espião. Com os Estados Unidos à frente, o Ocidente se prepara, agora, para aplicar novas sanções contra Moscou.
Os líderes de EUA, Alemanha, França, Reino Unido e Itália concordaram em conferência telefônica sobre a necessidade de se aumentar as retaliações contra Moscou devido à falta de cooperação do Kremlin, enquanto o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, acusa Washington de "querer incorporar" a Ucrânia.
Desconhecidos pararam o ônibus com sete observadores militares da OSCE nas proximidades da cidade de Slaviansk, detendo-os no edifício dos serviços de segurança local, tomado pelos insurgentes, segundo o Ministério do Interior ucraniano. Entre os passageiros estavam também cinco soldados ucranianos.
Os rebeldes reivindicaram falar com "autoridades competentes da Federação Russa", afirmou o Ministério do Interior. O líder da milícia em Slaviansk, Vyacheslav Ponomarev, acusou um ocupante do ônibus de trabalhar para as forças ucranianas e de ser um "espião".
Slaviansk é controlada há dias por milícias pró-Rússia. O Exército ucraniano fechou nesta sexta-feira os acessos à cidade, para impedir que mais milicianos separatistas entrem no lugar. No dia anterior, um ataque das forças ucranianas na cidade provocou cinco mortos entre os insurgentes, segundo Kiev.
Grupo sob comando alemão
O ministério do Exterior alemão afirmou que não estava conseguindo na sexta-feira contato com o grupo de observadores militares da OCDE em missão em Slaviansk, que está sob liderança alemã e é integrado, segundo Berlim, por três soldados alemães, um tradutor alemão e observadores militares de República Tcheca, Polônia, Suécia e Dinamarca.
Slaviansk é uma das dez cidades no leste da Ucrânia ocupadas há semanas por milícias pró-russas, que ocupam delegacias e prédios administrativos. O governo de Kiev e o Ocidente acusam a Rússia de apoiar os rebeldes com unidades especiais, para preparar uma anexação da região, como ocorreu com a península da Crimeia. Moscou nega e afirma que os homens armados são residentes locais que protestam contra o governo em Kiev.
Durante conferência telefônica, os chefes de Estado e de governo de EUA, Alemanha, França, Reino Unido e Itália cogitaram lançar novas medidas punitivas contra Moscou.
O presidente dos EUA, Barack Obama, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, o presidente francês, François Hollande, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, falaram sobre possível adoção de "novas sanções da comunidade internacional contra a Rússia", segundo comunicado do governo francês, apelando para que Moscou se abstenha de "declarações provocativas ou manobras de intimidação".
Merkel anunciou após encontro com o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, em Berlim, que os ministros do Exterior da UE devem se encontrar "o mais rápido possível" para discutir novas sanções. Além disso, ela disse ter avisado por telefone ao presidente russo, Vladimir Putin, que "sente falta de uma dedicação da Rússia em relação ao processo de Genebra". Ela afirmou que Moscou ainda não usou sua influência para "trazer os separatistas a uma via pacífica".
"Terceira Guerra Mundial"
Ucrânia e Rússia concordaram em 17 de abril, em Genebra, juntamente com a UE e os EUA, em contribuir para desarmar todos os grupos ilegais na Ucrânia e para desocupar prédios ocupados. O acordo se aplica tanto aos paramilitares pró-europeus como às milícias pró-russas no leste do país. No entanto, ambos os lados se recusam a respeitar o acordo. Moscou e Washington têm se acusado mutuamente de não fazerem o suficiente.
O primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, acusou nesta sexta-feira a Rússia de querer provocar uma Terceira Guerra Mundial ao tentar "ocupar política e militarmente" a Ucrânia. "O apoio aos terroristas na Ucrânia pela Rússia é um crime internacional e apelamos à comunidade internacional para, juntos, possamos reagir contra a agressão russa", disse o líder ucraniano.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, acusou o Ocidente de querer "incorporar" a Ucrânia e se queixou do tom "inaceitável e acusatório" dos Estados Unidos, acrescentando que a "propaganda dos EUA" quer "sujar" a Rússia e os protestos pró-russos. Ele alegou que os protestos se dirigem contra a "ação ilegal" do governo de transição em Kiev, que, segundo ele, proíbe o idioma russo e age contra a população de língua russa.