O grupo militante somali Al-Shabab ameaçou o Quênia com ataques suicidas nesta segunda-feira, dizendo que os arranha-céus de Nairóbi serão destruídos e sua indústria de turismo arruinada. Esse alerta foi emitido um dia depois de tropas quenianas terem entrado no país africano.
Ali Mohamud Rage, porta-voz do Al-Shabab, afirmou em uma coletiva de imprensa concedida em Mogadíscio na segunda-feira que o Quênia deveria retirar suas tropas da Somália. "Caso contrário, lembrem do que aconteceu na capital da Uganda", disse. O Al-Shabab realizou diversos ataques suicidas em Kampala em julho de 2010, deixando 76 mortos. Na época, o grupo militante disse que o atentado era uma retaliação à presença das tropas do país na Somália, como parte das forças de paz da União Africana.
Centenas de soldados quenianos entraram na Somália no fim de semana, devido aos sequestros de quatro europeias no território do Quênia, próximo à fronteira somali. Autoridades de Nairóbi disseram que o país tinha o direito de se defender do grupo militante, embora Rage tenha negado o envolvimento do grupo nos raptos.
"Nós dissemos ao Quênia: vocês consideraram as consequências dessas invasões? Nós entendemos de luta mais do que vocês e derrotamos outros invasores antes", ameaçou Rage. "Seu ataque significa que seus arranha-céus serão destruídos, seu turismo desaparecerá. Nós infligiremos em vocês o mesmo dano que vocês nos infligiram. Vocês tem que ver o que aconteceu com os outros invasores, como (o presidente da Uganda, Yoweri) Museveni e seu país quando nos invadiram. Nós atingimos seu país."
Rage afirmou que as tropas do Quênia entraram cerca de 100 km além da divisa. Um porta-voz da força militar queniana, major Emmanuel Chirchir, se negou a afirmar quantos soldados foram enviados para a Somália. "Nós temos um efetivo suficiente", afirmou.
Chirchir disse que cinco militares foram mortos em um acidente de helicóptero no domingo. Essas mortes são as pimeiras confirmadas desde o avanço das tropas. Somalis afirmaram à Associated Press que jatos e helicópteros tem cortado o céu do país desde o fim de semana.
Testemunhas na cidade de Dhobley, na Somália, afirmou que cerca de 40 veículos militares quenianos entraram na cidade na segunda-feira.
No sábado, autoridades do Quênia disseram que enviariam tropas à Somália. A declaração veio dois dias depois de duas espanholas que trabalhavam no grupo Médicos Sem Fronteiras terem sido sequestradas no campo de refugiados Dadaab, que abriga cerca de 450 mil refugiados.
Em 1º de outubro, somalis armados sequestraram uma idosa francesa em um resort de Lamu, além de ter raptado uma britânica também em um resort da costa do Quênia em setembro. Seu marido foi morto no ataque.
A Somália, um país sem lei nem governo efetivo, está afundada desde 1991 em uma série de episódios de confrontos civis, o que abre espaço para a pirataria, as milícias armadas e os rebeldes extremistas. O Al-Shabab, vinculado à Al-Qaeda, controla boa parte do sul da Somália e trava intensos combates com as milícias locais somalis apoiadas pelas tropas quenianas ao longo da zona fronteiriça entre os dois países.
Apesar de ser acusado por Nairóbi de estar por trás dos raptos, o Al-Shabab até agora não reivindicou nenhum deles.
Com AP e AFP