Mark Mazzetti e Thom Shanker
WASHINGTON. Um exercício de guerra simulado neste mês para medir a capacidade americana de reagir a um possível ataque israelense ao Irã mostrou uma perspectiva sombria: uma guerra regional que arrastaria os Estados Unidos e poderia matar centenas de americanos.
Os jogos de guerra não eram o ensaio de uma ação militar, destacaram oficiais americanos, ressaltando, ainda que os resultados do exercício não eram a única possibilidade em caso de um conflito real. A simulação, no entanto, desperta temores de que, para os EUA, pode ser impossível prever ou impedir um envolvimento em caso de confrontação com o Irã, disseram os funcionários. No debate entre estrategistas políticos, cresceu também o medo de que tal cenário possa dar mais voz àqueles que dentro da Casa Branca, do Pentágono e da comunidade de inteligência alertaram contra o ataque, perigoso para os EUA.
Os resultados foram perturbadores principalmente para o general James Mattis, comandante de todas as forças americanas no Oriente Médio, Golfo Pérsico e Sudeste da Ásia. Ele teria dito ao término do exercício que uma ação israelense teria consequências terríveis em toda a região e para as forças dos EUA lá.
Durante duas semanas, o exercício intitulado "Olhar Interno" simulou uma situação na qual os EUA são arrastados para a guerra depois que mísseis iranianos afundam um navio de guerra americano no Golfo Pérsico matando cerca de 200 pessoas. Os EUA, então, retaliavam promovendo seus próprios ataques contra as instalações nucleares iranianas.
Teste de comunicação interna para os EUA
A ação israelense inicial visava a retardar o programa nuclear do Irã em pelo menos um ano, e os ataques americanos subsequentes não atrasavam os iranianos em mais do que dois outros anos. Mas, outros especialistas em planejamento do Pentágono disseram que o arsenal dos EUA de bombardeiros de longo alcance, aeronaves de reabastecimento e mísseis de precisão poderiam infligir muito mais danos ao programa nuclear iraniano – se o presidente Barack Obama decidisse por uma retaliação em larga escala.
O exercício foi projetado especificamente para testar as comunicações militares internas e a coordenação entre as equipes de combate do Pentágono, em Tampa, sede do Comando Central, e no Golfo Pérsico logo após o suposto ataque israelense.
O "Olhar Interno" é um dos exercícios de planejamento mais significativos do Comando Central e ocorre duas vezes por ano para averiguar como as bases, os funcionários e todas as unidades de comando da região estão preparadas para reagir em situações verdadeiras.
Ao longo dos anos, foi usada para preparar diversas guerras no Oriente Médio. De acordo com o site Globalsecurity.org, estrategistas militares durante a Guerra Fria usavam o "Olhar Interno" para preparar uma manobra para o caso de a União Soviética tomar os campos de petróleo iranianos. À época, o plano de guerra americano determinava que o Pentágono mobilizasse quase seis divisões do Exército ao Norte do Golfo Pérsico para as montanhas Zagros, no Irã.
Hoje, muitos preveem que o Irã tentaria administrar cuidadosamente a escalada após um suposto primeiro ataque de Israel para evitar que os EUA tivessem uma justificativa para atacar com as suas forças, muito superiores. Uma das alternativas de reação seria acionar aliados para detonar carros-bomba em capitais do mundo ou prover explosivos a insurgentes no Afeganistão para atacar tropas da Otan.