"A França está disposta a castigar quem tomou a decisão infame de gasear inocentes" na Síria, afirmou nesta terça-feira o presidente François Hollande, acrescentando que seu governo não vai fugir "à responsabilidade definida pela ONU de proteger os civis".
Hollande disse que a guerra civil na Síria "ameaça a paz no mundo" e defendeu a participação da França na coalizão internacional encabeçada pelos Estados Unidos que prepara atualmente uma intervenção contra o regime de Bashar al-Assad. "Amanhã, vou reunir o Conselho de Defesa e o parlamento será informado rapidamente sobre a situação", declarou o chefe de Estado socialista. Hollande fez essas afirmações durante uma declaração de política exterior para embaixadores franceses reunidos nesta terça-feira no Palácio do Eliseu, em Paris.
Os preparativos para uma intervenção militar na Síria evoluíram nas últimas horas, com vários governos aliados reafirmando ter a convicção de que o Exército sírio utilizou armas químicas, o que é proibido pelas convenções internacionais, num massacre no dia 21 de agosto nas proximidades de Damasco. Pelo menos 350 pessoas morreram envenenadas e outras centenas foram hospitalizadas com intoxicação.
Ontem, inspetores da ONU iniciaram a coleta de indícios do uso indevido dessas armas na Síria, mas o trabalho foi interrompido hoje, segundo dia da missão, por falta de segurança.
A classe política francesa observa as manobras para uma intervenção ocidental na Síria com preocupação. Jean-François Copé, secretário-geral do maior partido de oposição, UMP, não comenta o assunto. Já Alain Juppé, ex-ministro das Relações Exteriores de Nicolas Sarkozy, defendeu abertamente o apoio militar aos rebeldes, estimando que é preciso superar o impasse no Conselho de Segurança da ONU criado pelo bloqueio da Rússia e da China.
O político de centro François Bayrou vê desfilar diante dos olhos "um mecanismo implacável que lembra os preparativos para a guerra no Iraque, em 2003".
O partido Frente Nacional, de extrema-direita, rejeita o que qualifica de "diplomacia de cowboys" e pede a convocação de um debate parlamentar sobre o assunto.
O Partido Comunista considera que bombardear a Síria seria "juntar uma guerra a uma guerra, correndo o risco de incendiar toda a região". O aliado Jean-Luc Mélenchon, líder carismático de extrema-esquerda, recomendou aos dirigentes ocidentais que reflitam antes de agir e mantenham o sangue frio.