A morte, em Teerã, de Mostafa Ahmadi-Roshan foi o quarto ataque do gênero a cientistas locais em apenas dois anos.
As mortes ocorreram simultaneamente a um sofisticado programa de sabotagem cibernética e a duas misteriosas explosões em bases militares iranianas – uma delas, em novembro, matou o general considerado o “patrono” do programa de mísseis balísticos do país.
Ninguém assumiu responsabilidade por estes ataques, mas o Irã responsabiliza seus inimigos de longa data, Israel e, por vezes, os EUA.
Quem quer que seja o responsável, o Irã está claramente sendo alvo de uma campanha não declarada de ataques contra seu programa nuclear, que, segundo Israel e o Ocidente, serve de fachada para a obtenção de uma bomba.
Similaridade
Ahmadi-Roshan foi morto por uma bomba magnética, acoplada a seu carro por dois homens em uma moto. Ele era professor universitário e supervisor-chefe na usina de enriquecimento de urânio de Natanz.
O responsável claramente sabia sua rota, seu carro e seus horários.
O artefato, pequeno e profissional, foi projetado para matar sua vítima, mas causar apenas danos limitados em seu entorno.
A similaridade com outra bomba, usada em novembro de 2010 para matar o cientista nuclear Majid Shahriari, é notável.
Uma moto com uma bomba matou um professor de física no começo daquele ano e outro artefato por pouco não causou a morte do homem cotado para chefiar a agência nuclear iraniana.
Em um país tão pouco transparente como o Irã é difícil saber quanta diferença, se é que há alguma, sua morte significará para o programa nuclear, que muitos analistas ocidentais dizem já ter transposto muitos dos obstáculos para a construção de uma bomba.
Efeito
"É possível que (o assassinato) tenha impacto em retardar o programa", diz Mark Fitzpatrick, especialista em proliferação nuclear do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS na sigla em inglês) de Londres.
"Existem algumas poucas áreas técnicas fundamentais que o Irã ainda não domina, portanto uma estratégia de decapitação é uma medida eficiente para retardar o processo. Mas pode ser que o Irã esteja já além deste ponto."
Então quem estaria por trás desta campanha não declarada?
Ninguém assume publicamente, mas Israel não faz segredo de que aprecia qualquer retardamento no programa nuclear iraniano, que teme que se torne em breve uma ameaça para sua existência.
No passado, membros de seu governo já negaram participação em tais ataques ou se recusaram a comentá-los. Mas acredita-se que sua agência de inteligência no exterior, o Mossad, tenha uma das melhores redes de informantes do Oriente Médio.
Em 2011 um iraniano confessou ter sido recrutado pelo Mossad para assassinar um cientista, embora confissões forçadas sejam comuns no Irã.
Vírus
Acredita-se que o vírus de computador Stuxnet, introduzido no programa nuclear iraniano em 2009 e que prejudicou momentaneamente suas centrífugas, seja obra de especialistas israelenses, americanos e, possivelmente, britânicos.
Até agora o Irã não respondeu a estes ataques, a não ser condenando-os publicamente e prometendo seguir com seu programa nuclear.
Mas este último assassinato pode se provar a gota d’água, levando a poderosa agência de inteligência iraniana Etilaat e a Guarda Revolucionária a realizar ataques no exterior.
Se eles desejarem retaliar os EUA, têm agentes suficientes no Iraque e no Afeganistão para tornar a vida difícil para americanos lá.
Ataques contra cientistas nucleares israelenses podem ser mais difíceis. Acredita-se que eles sejam cuidadosamente protegidos e o serviço secreto israelense está preparado para algum tipo de reação.
Richard Dalton, embaixador britânico para o Irã de 2002 a 2006 e agora consultor do instituto britânico de pesquisa Chatham House, acredita que a campanha não declarada contra os cientistas nucleares iranianos esteja agora entrando em uma fase perigosa.
"O próximo passo é o Irã responder à altura", diz ele.
"Se um Estado está por trás disto, então é terrorismo estatal e pede resposta. Parece que acontecerá uma reação que vai gerar um possível confronto."