O suposto complô para assassinar o embaixador saudita em Washington vai retomar a tensão entre Arábia Saudita e Irã e terá repercussões na região, onde os dois países tentam influir nas revoltas populares que sacodem os países árabes, afirmaram analistas. O procurador-geral americano, Eric Holder, anunciou na terça-feira o suposto envolvimento de dois iranianos em um plano para assassinar o embaixador Adel Al Jubeir, conselheiro do rei Abdullah da Arábia Saudita.
Nesse complô estariam envolvidas as Brigadas Al Qods, comandos ligados à Guarda Revolucionária, tropa de elite da República Islâmica do Irã. O Irã reagiu acusando na quarta-feira os americanos de "tratar de criar uma nova crise artificial". "Temos relações normais com a Arábia Saudita e não há nenhuma razão para que o Irã cometa tais atos absurdos", declarou o presidente do parlamento Ali Larijani.
Os analistas não dividem essa avaliação do estado das relações entre Arábia Saudita e o Irã. "A tensão entre os dois países é latente e suas relações viverão um período mais difícil", afirmou Mustapha al-Ani do Centro de Pesquisas Estratégicas do Golfo. "Se esse complô se confirmar, isso levará a mais tensões entre os dois países, em especial onde os interesses divergem, como no Bahrein", afirmou por sua vez Ibrahim Charquia, do Brookings Institute de Doha.
As relações ficaram mais complicadas após o apoio do Irã aos protestos dos xiitas no Bahrein, reprimidos com o apoio de Riad, e porque os sauditas acreditam que o Irã está envolvido nas reivindicações às vezes violentas de sua minoria xiita instalada no leste petroleiro do reino. Além disso, o "Irã teme perder seu aliado sírio e os grupos onde tem influência, e que inclui o Hezbollah libanês xiita e o Hamas" palestino, completou Ani.
Esse especialista em assuntos de terrorismo não descarta nesse contexto que haja "tentativas de desestabilização do Irã para atenuar a pressão sobre a Síria", cujo regime é questionado com força nas ruas. "O Irã poderá dessa forma abrir novas frentes no Golfo", como na província oriental da Arábia Saudita, afirmou Ani. A Arábia Saudita já acusou veladamente o Irã de ter orquestrado os distúrbios que afetaram a cidade xiita de Awamiya (leste) há uma semana.
Para outro analista, o saudita Anwar Eshhki, do Centro de Oriente Médio para Estudos Estratégicos, o Irã teria buscado com esse ato "provocar uma crise entre a Arábia Saudita e os Estados Unidos, cuja aliança não parou de denunciar". "O Irã parece recorrer a manobras baixas para afetar as relações entre sauditas e americanos", completa um responsável saudita que pediu para não ser identificado.
"Recorre para isso a células dormentes como já fez no Bahrein e no Iraque", assegurou. Para Ani, os dois países podem continuar "se enfrentando", mas não diretamente. "O Irã combateu sempre por procuração, ao não ser capaz de apoiar uma guerra direta", explicou.
A Arábia Saudita, que se diz profundamente preocupada com o programa nuclear iraniano, acredita cada vez mais que são "extremistas que controlam a política regional do Irã", completou. Isso tornaria mais difícil, segundo ele, a melhora nas relações entre as duas potências regionais, pois a Arábia Saudita se considera a guardiã da ortodoxia sunita enquanto o Irã assume a versão revolucionária, o xiismo.