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SNIPER – Foto foi usada em pedido para abater suspeito

Nota DefesaNet

Ver a matéria da Folha de São Paulo

SNIPER pediu aval para “abater” suspeito durante a abertura da Copa Link

O editor

Kleber Tomaz
Do G1 São Paulo


Uma foto foi usada no pedido feito por um policial civil para "abater" um suspeito armado durante a partida de abertura da Copa do Mundo em São Paulo, em 12 de junho, de acordo com agentes de segurança ouvidos nesta sexta-feira (27) pelo G1. A equipe de reportagem obteve a imagem com exclusividade (veja acima).

O atirador de elite estava na cobertura da Arena Corinthians e identificou o homem armado perto das autoridades na Tribuna de Honra. Ele pediu autorização para atirar, o que foi negado por seus superiores. Após averiguação, identificou-se que quem estava na área restrita era um policial militar que foi retirado de lá posteriormente.

A fotografia foi feita por um membro do Grupo Especial de Resgate (GER), da Polícia Civil. Ele pensou que homens vistos na imagem pudessem se tratar de invasores. Entretanto, ele registrou dois policiais militares do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATEe).

A equipe de reportagem apurou que houve uma falha de comunicação entre os agentes da Polícia Civil e os da Polícia Militar (PM). A confusão teria ocorrido porque membros do esquadrão de bombas do Gate entraram sem autorização em espaço restrito do estádio. Segundo relato de envolvidos na operação, eles tinham acabado de receber a informação de que uma mala suspeita havia sido deixada na arena (veja foto da mala acima).

A equipe de reportagem teve acesso a parte das informações dos relatórios dos policiais civis e militares envolvidos no episódio. Os documentos seriam entregues à Secretária da Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP).

A pasta admitiu ter havido "erro" de comunicação entre as polícias, mas alegou que isso não colocou em risco a segurança da presidente Dilma Rousseff (PT), chefes de estado e autoridades da Fifa – entidade que regula o futebol mundial – presentes na arena (veja íntega da nota abaixo).

Policiais civis

Segundo o relato dos atiradores do GER, como o representante da PM no Centro de Controle de Comando (CCC) não confirmava pelo rádio a presença de policiais militares no setor sul das arquibancadas, um dos snipers fotografou os PMs (um deles aparece em primeiro plano e outro está atrás) e enviou para análise de seus superiores.

Diante das vaias e da hostilidade da torcida contra a Dilma e do fato de que um policial militar do Centro de Controle não reconhecia os homens com a farda do Gate que apareciam na foto como sendo da corporação, representantes da Polícia Civil passaram a considerar que estavam diante de uma ameaça.

A informação que chegava aos policiais civis era de que os 15 PMs do Gate estavam de sobreaviso no subsolo da arena e ninguém havia saído de lá. Portanto, a dupla vista na marquise era suspeita.

Ao saber disso, a outra dupla, a de snipers (um atirador com um fuzil e um observador com binóculo), pediu autorização para agir. Um dos especialistas em tiro solicitou permissão para "abater" um suspeito que estava à distância (não informada) no seu primeiro plano. O termo que deveria ter sido empregado seria "neutralizar", mas diante da tensão instalada, o policial civil acabou falando a palavra anterior.

Em tese, o sniper estava preparado para "usar força letal", atirar, diante do fato de os suspeitos estarem armados. Mas a resposta de um outro policial civil que estava no centro de comando foi para aguardar e fazer a segunda checagem.
Foram quase 15 minutos de dúvida até que veio a confirmação da sala de controle de que os homens armados com roupa do Gate eram mesmo policiais militares. Enquanto isso, transcorria o segundo tempo da partida entre Brasil e Croácia. A presidente Dilma permaneceu no local. Ela não teria sido comunicada da ameaça que não se confirmou.

Policiais militares

Segundo apuração do G1, pelo relato feito pelos policiais militares, a dupla do GATE tinha ido ao setor sul da arquibancada do estádio para checar a denúncia de que uma suposta bomba poderia ter sido deixada na Arena Corinthians.

Câmeras de monitoramento da Venue Operation Centre (VOC ou centro de operação local, numa tradução do inglês para o português) da FIFA flagraram mala suspeita abandonada perto de lixeira ao lado do estádio. Essa informação teria sido repassada para o centro de controle.

Um representante da PM então acionou o GATE, que estava de stand by no subsolo, para cumprir a missão de localizar a mala para checar se dentro dela poderia ter uma bomba. A equipe de reportagem também teve acesso a imagem do objeto e o mostra ao lado.

Apesar de não ter autorização para estar naquele setor, os policiais militares consideraram que aquele era o caminho mais rápido para se chegar à mala. Por conta desse objeto, além dos dois policiais militares do GATE que foram pela marquise, outros três saíram de carro da arena para dar a volta e entrar por outro caminho no estádio.

Quando a dupla do Gate passava pelo setor sul avistou os dois snipers do GER e os 15 policiais federais do Comando de Operações Táticas (COT). Em seguida, cumprimentou os atiradores de elite da Polícia Civil informando que estavam ali para checar a suspeita de uma ameaça de bomba.

Ao caminharem pela marquise em direção à mala, passaram por um corredor estreito – embaixo estava um setor da imprensa e torcedores – quando ao virarem as costas perceberam que tinham sido fotografados pelo celular por um dos snipers. Ao questionarem o policial civil, ouviram dele que não era foto, mas que mexia no aparelho na tentativa de pegar sinal para fazer uma ligação telefônica.

Além do integrante da Polícia Civil, um membro da PM também recebeu a foto e questionou a dupla do Gate se havia tido algum problema com o GER. Enquanto isso, os policiais do Gate foram orientados a deixar a marquise. A mala foi localizada e a sua dona também. Uma artista que havia participado da abertura do show da Copa a tinha esquecido ali. Dentro, apenas roupas do figurino usadas para trocas. Enfim, nada de bomba.

PC x PM

Historicamente, policiais civis e militares reclamam de rixas que voltaram à tona agora com o episódio ocorrido em Itaquera. No caso do GER e do GATE, o motivo seria uma disputa operacional. Antigamente, o Grupo Especial de Resgate cuidava de mais casos de sequestro em andamento e bombas, mas essas atribuições teriam sido retiradas dele e repassadas ao Grupo de Ações Táticas Especiais.

Policiais civis e militares ouvidos pelo G1 sob a condição de que seus nomes fossem mantidos em sigilo comentaram que o episódio visto no dia 12 de junho entre as duas polícias não é novo, é até corriqueiro, mas a repercussão dele foi negativa para as duas instituições. E por pouco não se tornou um incidente diplomático já que em ‘jogo’ estava também a segurança da presidente do país e outros chefes de estado e autoridades da FIFA.

Para policiais a segurança no estádio mostrou que ficou clara a cisão entre a Polícia Civil e a PM em São Paulo. Policiais civis contaram que neste Mundial estão mais alinhados com o Exército, enquanto policiais militares têm mais apreço pela parceria com a Polícia Federal (PF).

Procurado para comentar a confusão ocorrida na Arena Corinthians, o delegado Guilherme de Castro Almeida, coordenador Regional de Segurança da PF para Grandes Eventos, evitou polemizar a rixa entre policiais civis e militares. Preferiu comentar sobre a atuação dos policiais federais.

“O COT estava presente no estádio em razão de ter realizado a escolta do comboio dos 12 chefes de estado e não havia policial do COT em posição tática de pronto emprego e nem sniper do COT em posição”, disse o coordenador Regional de Segurança da PF.

Secretaria critica alarmismo

Veja abaixo a íntegra do posicionamento da SSP:

"Nota à imprensa

A Secretaria da Segurança Pública reafirma que, no episódio envolvendo policiais paulistas durante a abertura da Copa, houve um erro de comunicação que foi rapidamente sanado, sem maiores consequências. Ao contrário do que vem sendo divulgado por alguns veículos de comunicação, em nenhum momento foi colocada em risco a segurança das autoridades e ou torcedores. Prova disso é que o protocolo para que o sniper pudesse atuar sequer foi colocado em prática.

Este protocolo pressupõe três etapas.

1. Autorização para o atirador carregar a arma, que por razões de segurança está desmuniciada.
2. Autorização para que o snipper coloque o alvo na alça de mira.
3. Autorização para atirar.

Nenhuma destas três etapas foi deflagrada porque o erro de comunicação foi rapidamente corrigido. Afirmar que quase houve morte nesta situação é causar alarmismo."

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