Chanceler alemão discursou no canteiro de futura fábrica de munições da Rheinmetall. Política de “paz através da dissuasão” também é endossada por Macron, que vê chance para indústria bélica da UE.
(DW) Ao participar nesta segunda-feira (12/02) de evento que marcou o início da construção de uma fábrica de munições da Rheinmetall, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, defendeu o aumento massivo e urgente da produção de armamentos na Europa sob o argumento de que a Europa “não vive tempos de paz”.
Aludindo explicitamente à invasão da Rússia pela Ucrânia, que já dura dois anos, Scholz afirmou que as “ambições imperiais” de Moscou são um “grande perigo” para a paz no continente, e sugeriu que armar-se pode ser um meio eficiente de desencorajar ataques.
“Quem quer paz tem que assustar potenciais agressores”, afirmou o social-democrata no canteiro de obras, ao lado do ministro da Defesa Boris Pistorius e da primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen. “Devemos passar da fabricação à produção em massa de armamentos.”
Ecoando as palavras de Scholz, Frederiksen escreveu posteriormente no X (antigo Twitter) que é preciso “fortalecer nossa indústria de defesa para continuar apoiando a Ucrânia e fornecer uma forte dissuasão e defesa europeia contra a ameaça da Rússia”.
Fábrica deve ficar pronta em 2025
A fábrica da Rheinmetall em Unterlüß, no estado da Baixa Saxônia, deve ser concluída em 2025 e produzir 200 mil munições por ano para diferentes tipos de armamentos, incluindo obuses de fabricação alemã entregues a Kiev, explosivos e peças de artilharia para foguetes.
“No front, no leste da Ucrânia, são disparadas atualmente milhares de munições – por dia, vale salientar. Isso mostra o quão importante é a produção própria e contínua dessas munições”, disse Scholz.
As declarações de Scholz vêm em um momento de estagnação da contraofensiva ucraniana e incerteza sobre a solidez do apoio americano a seus parceiros no Ocidente.
Os Estados Unidos são o maior financiador militar da Ucrânia, mas a ajuda tem sido questionada internamente, com republicanos bloqueando o repasse de dólares no Congresso em ano de eleição à Casa Branca.
No último sábado (10/02), o ex-presidente americano e pré-candidato Donald Trump sugeriu que, se voltar ao cargo, os EUA podem deixar aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) à mercê da Rússia em caso de um eventual ataque.
Contratos bilionários
Presidente do conselho administrativo da Rheinmetall, Armin Papperger elogiou o governo alemão em entrevista ao jornal Tagesspiegel, afirmando que contratos públicos responderam no ano passado por 10 bilhões de euros (R$ 53 bilhões) em receitas à empresa, valor que deve passar a cerca de 15 bilhões de euros (R$ 80 bilhões) em 2024 – o que representa aproximadamente 20% do volume de negócios da Rheinmetall.
Segundo Papperger, o objetivo é ajudar a garantir a “soberania estratégica da Alemanha no campo de munições de grande calibre”, em um momento em que a Otan pede o aumento da produção de armas na Europa.
“Temos que restaurar e expandir nossa base industrial mais rapidamente para poder aumentar os suprimentos à Ucrânia e reabastecer nossos próprios estoques”, disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em entrevista ao jornal Welt am Sonntag publicada no sábado. “Isso significa passar de uma produção lenta em tempos de paz para uma produção acelerada em tempos de conflito.”
Tom semelhante foi adotado pelo presidente francês Emmanuel Macron, que em encontro com o primeiro-ministro polonês Donald Tusk pregou mais cooperação europeia na área de defesa. Segundo Macron, tudo que a União Europeia faz para ajudar militarmente a Ucrânia deve servir também para reerguer a indústria bélica do bloco. “Isso nos ajuda a aumentar nossa capacidade produtiva e fazer da Europa uma potência da defesa que complemente a Otan.”
ra (AFP, EFE, Reuters, ots)