Alex Ribeiro
Numa cerimônia discreta em Bagdá, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, declarou ontem formalmente o fim da guerra no Iraque, um conflito que durou quase nove anos e custou pelo menos US$ 800 bilhões aos cofres americanos. O presidente Barack Obama cumpre uma promessa eleitoral de 2008, mas o seu plano de ganhar um segundo mandato no ano que vem fica vulnerável a uma eventual escalada nos conflitos num Iraque não totalmente pacificado.
Mais do que uma escolha de Obama, a retirada americana se deve à falta de entendimento com o governo do Iraque sobre a manutenção de tropas. Hoje, ainda existem duas bases e cerca de 4.000 soldados americanos no país, que devem ser reduzidos a apenas algumas centenas até o fim do ano.
Simbolicamente, a retirada foi marcada pela baixa da bandeira do Exército americano em cerimônia ao lado do aeroporto de Bagdá. "O Iraque será testado de hoje em diante por terroristas e por aqueles que procuram dividir", disse Panetta. As bases e comboios militares dos EUA sofrem ataques quase diários, e ainda há sérias dúvidas sobre a capacidade do governo do Iraque de manter a segurança interna por si mesmo. Mas existe a possibilidade de um novo acordo em 2012 que traga os americanos de volta ao país.
Os americanos invadiram o Iraque em 2003 dentro da chamada guerra contra o terror. Segundo o então presidente George W. Bush, o líder iraquiano Saddam Houssein desenvolvia armas de destruição em massa e mantinha relações com organizações como a Al Qaeda. Embora a guerra tenha inicialmente ganho apoio entre os americanos, nos anos seguintes ela se tornou cada vez mais impopular, à medida em que ficou claro que o Iraque não desenvolvia armas de destruição em massa e que não tinha vínculos com a Al Qaeda.
Cerca de 4.500 soldados americanos morreram nos conflitos, e mais de 32 mil ficaram feridos, num combate em que no seu auge mobilizou 170 mil combatentes em mais de 500 bases. Não há contagem exata das vitimas entre os iraquianos, mas o levantamento mais citado indica mais de 100 mil mortes, das quais cerca de 80% seriam civis.
Obama foi eleito em 2008, em parte, porque se colocou como crítico à guerra do Iraque, beneficiando-se da impopularidade de Bush. Seu discurso era que os Estados Unidos deveriam concentrar os esforços no Afeganistão e na fronteira com o Paquistão, onde estavam as forças ligadas à Al Qaeda. Graças a essa estratégia, Obama conseguiu se diferenciar da pré-candidata democrata Hillary Clinton, que havia votado em favor da invasão do Iraque como senadora.
"Quando assumi o governo, quase 150 mil soldados americanos estavam no Iraque, e eu me comprometi a terminar essa guerra, com responsabilidade", disse Obama, em cerimônia ao lado primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, na segunda-feira em Washington. "Hoje, apenas alguns milhares de soldados permanecem lá, e há mais voltando para casa."
A saída do Iraque, porém, deverá ter efeitos limitados nas eleições presidenciais em fins do ano que vem – e representa um risco político, no caso da piora da situação no país. Depois da morte de Osama bin Laden, em maio, a popularidade de Obama subiu, mas nos meses seguintes voltou a recuar porque a principal preocupação da população americana hoje é o alto desemprego.
Pré-candidados republicanos a presidência, como Mitt Romney e Newt Gingrich, deram declarações ambíguas sobre a saída dos soldados do Iraque, dizendo ao mesmo tempo que ela é bem-vinda e que os Estados Unidos não podem baixar a guarda diante do risco de novos conflitos.
No princípio, a guerra do Iraque parecia caminhar para uma solução rápida, com a captura de Saddam Hussein. Mas, entre 2006 e 2007, o país chegou perto de uma guerra civil, com disputa entre diferentes grupos étnicos e religiosos. O reforço militar americano no Iraque conteve a escalada dos conflitos, mas não foi capaz de eliminá-los completamente.