A Rússia acusou a Otan nesta quarta-feira de violar suas fronteiras e buscar mudanças no equilíbrio estratégico de poder, forçando Moscou a tomar medidas para proteger seus interesses e segurança.
Os comentários do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ocorreram um dia após a Rússia e o Ocidente trocarem acusações de colocar a segurança global em risco, aumentando as tensões por conta do conflito na Ucrânia, no qual separatistas pró-Rússia tomaram territórios no leste após a anexação da Crimeia por Moscou em 2014.
"Não é a Rússia que está se aproximando da fronteira de outros. É a infraestrutura militar da Otan que está se aproximando das fronteiras da Rússia", disse Peskov a repórteres.
Peskov disse que o Ocidente tem cada vez mais recorrido a retóricas "não construtivas e confrontacionais" de estilo da Guerra Fria, e que a Rússia nunca quis conflito.
O principal assessor político de assuntos internacionais do presidente Vladimir Putin também disse nesta quarta-feira que a Rússia não seria carregada para uma corrida bélica com o Ocidente, já que isso prejudicaria a economia.
"A Rússia não está entrando em uma corrida bélica. A Rússia está tentando reagir de algumas maneiras para certas ameaças, mas nada mais que isto. Não estamos entrando em uma corrida bélica porque isto iria prejudicar nossas capacidades da esfera econômica", disse Yuri Ushakov.
Alemanha acusa Putin de mostrar reflexos da Guerra Fria
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está agindo com reflexos da Guerra Fria, disse o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, nesta quarta-feira, depois que Moscou decidiu acrescentar mais de 40 mísseis balísticos intercontinentais a seu arsenal nuclear.
“O anúncio do presidente Putin de aumentar o arsenal de mísseis estratégicos da Rússia é desnecessário e certamente não contribui para a estabilidade e o alívio da tensão na Europa”, afirmou Steinmeier ao portal alemão de notícias Spiegel Online.
Autoridades russas repudiaram um plano de Washington de posicionar tanques e armamento pesado em países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Leste Europeu, na fronteira russa ou em suas proximidades, o que disseram ser a manobra norte-americana mais agressiva desde a Guerra Fria.
O porta-voz do governo alemão também criticou as declarações de Putin. “Elas não são uma maneira útil de superar as dificuldades presentes que existem na relação entre a Rússia e a Europa ou a Rússia e os Estados Unidos”, disse Steffen Seibert em coletiva de imprensa de rotina em Berlim.
Steinmeier acrescentou que o mundo mudou desde o final da Guerra Fria em 1989, “mas os antigos reflexos daquela época evidentemente estão mais vivos do que pensávamos até o ano passado”. “Só posso alertar para que não se ceda a tais reflexos e se entre em uma espiral rápida de escalada nas palavras e depois nos atos”, afirmou.
A tensão entre a Rússia e o Ocidente se agravou em função do papel de Moscou no conflito da Ucrânia. Forças separatistas pró-Moscou ocuparam boa parte do leste ucraniano depois que a Rússia anexou a Crimeia, península da Ucrânia, em março de 2014.