Konstantin Bogdanov
O Senado dos EUA proibiu o Pentágono de fazer negócios com a empresa russa Rosoboronexport, a única exportadora autorizada de armas e equipamentos militares do país. A decisão, adotada em julho de 2012 pela Câmara dos Representantes, foi aprovada no Senado por unanimidade.
Será que isso significa que os EUA suspenderam a cooperação técnico-militar com a Rússia? Não. O embargo imposto pelo Senado pode ser vetado pelo presidente Barack Obama. Por outro lado, Moscou e Washington não mantêm uma cooperação técnico-militar muito importante. Em segundo lugar, as sanções foram aplicadas em relação a um concorrente e não a um determinado tipo de atividade. Isso deixa a possibilidade de corrigir o cumprimento de contratos extremamente importantes.
A decisão do Senado não traz nada de especial. Não é a primeira vez que empresas russas ligadas a armas e equipamentos militares se tornam alvo de sanções americanas. A última vez que a Rosoboronexport sofreu sanções foi em 2008, após a guerra na Geórgia. Na primavera de 2010, as sanções foram levantadas.
O motivo evocado desta vez pelos senadores foi a cooperação da Rosoboronexport com o "regime sangrento" de Bashar Assad na Síria. No que diz respeito à cooperação, isso é verdade, porque a Rússia continua cumprindo os contratos concluídos com o governo legítimo do país.
O escândalo em torno da Rosoboronexport chegou a essa dimensão depois que, em 2011, militares americanos decidiram comprar da Rússia 21 novos helicópteros Mi-17V5 para a Força Aérea do Afeganistão. Antes, o Afeganistão havia recebido helicópteros Mi-8 usados, comprados por empresas intermediárias semilegais em países do terceiro mundo por preços comparáveis ao custo de aeronaves novas. O dado curioso é que, no relatório do Senado, os argumentos a favor do embargo baseados em histórias padronizadas sobre os sofrimentos do povo sírio são seguidos por uma tese bem clara de que as aeronaves para a Força Aérea Afegã devem ser de fabricação norte-americana.
Seja como for, o Pentágono será aquele que mais sofrerá com as sanções impostas pelo Senado. Os helicópteros russos Mi-8/Mi-17 são extremamente necessários no Afeganistão para equipar as forças de segurança do país. Por isso, a compra dos mesmos tem sido defendida pelos militares norte-americanos, apesar da pressão por parte do lobby armamentista no Congresso. A parte russa, em primeiro lugar a holding Helicópteros da Rússia, pode perder pelo menos US$ 375 milhões.
Na verdade, a questão é saber como reagirá o presidente americano à resolução do Senado. Se Obama vetar o documento apresentado como emenda à lei do orçamento militar, a papelada retornará à câmara alta e as coisas ficarão como estão agora, ou seja, os helicópteros serão fornecidos ao Afeganistão através do Pentágono. Se as sanções acabarem por ser aprovadas, o contrato afegão será reestruturado e envolverá empresas não abrangidas pelo regime de sanções.
Existe ainda uma terceira opção: o contrato pode ser bloqueado. Isso pode acontecer se as forças interessadas conseguirem quebrar uma fortíssima resistência do Pentágono, que está resolvendo no Afeganistão seus problemas e os de boa parte da atual administração Obama interessada em manter, na medida do possível, relações construtivas com Moscou.
Reação de Moscou
A intenção dos EUA de desfazer o contrato com o maior exportador de armas da Rússia, a empresa Rosoboronexport, vai contra as relações bilaterais, disse o chanceler russo, Serguêi Lavrov, em uma reunião com secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Anders Fogh Rasmussen.
"Eu não gostaria de fazer previsões agora. Essa emenda ainda não é uma lei, é a opinião do Senado, que ainda não passou por todas as fases necessárias. Estamos seguros de que, na fase do Executivo, os EUA verão que a ideia do Senado vai contra os interesses nacionais do país, o desenvolvimento da cooperação com a Rússia e as metas que tentamos atingir dentro e em torno do Afeganistão", disse Lavrov, citado pela agência RIA Nóvosti.
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