Por Franz-Stefan Gady – Texto do The Diplomat
Tadução, adaptação e edição – Nicholle Murmel
No dia 20 de janeiro, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e o ministro da Defesa iraniano, Hossein Dehghan, assinaram em Teerã um acordo intergovernamental de cooperação militar “multifacetada e de longo prazo”.
É a primeira vez em 15 anos que um chefe da pasta da Defesa russo visita o Irã e reforça os laços militares e diplomáticos crescentes entres as duas nações, unidas pela oposição em comum à política externa dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio e outras regiões.
De acordo com o portal de notícias russo Sputnik News, o ministro Dehghan teria falado durante as conversas bilaterais sobre “a importância de desenvolver a cooperação entre a Rússia e o Irã na luta conjunta contra a interferênciade forças externas em questões regionais”. O minisro iraniano teria dito ainda que ambas as partes percebem especificamente a política americana que “interfere nos assuntos domésticos de outros países” como uma das grandes razões da deterioração da segurança no Oriente Médio e no resto do mundo atualmente.
Segundo a agência de notícias Associated Press, Dehghan teria enfatizado também que “Irã e Rússia são capazes de conforontar a intervenção expansionista dos Estados Unidos através de cooperação, sinergia e acionando potenciais capacidades estratégicas… Como países próximos, Irã e Rússia têm pontos de vista comuns acerca de questões regionais e globais”.
Por exemplo, os dois países permanecem apoiando o regime do presidente Bashar al-Assad na Síria.
Até o momento, há dois grandes obstáculos no aprofundamento dessa parceria militar. Primeiro, Moscou tem que convencer Teerã a retirar o processo no Tribunal de Conciliação e Mediação da Organização para Segurança e Cooperação na Europa. Em 2007, a Rússia concordou em vender cinco sistemas de mísseis superfície-ar S-300PMU-1/SA-20 Gargoyle (40 lançadores ao todo) para o Irã por 800 milhões de dólares.
Porém, como resultado de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas de junho de 2010 impondo sanções ao Irã – incluíndo a proibição de venda de armamentos – por conta do controverso programa nuclear, Moscou suspendeu a entrega dos mísseis e toda a colaboração militar e técnica. Em resposta, Teerã exigiu 4 bilhões de dólares como compensação.
Em segundo lugar, cooperação militar propriamente dita entre Irã e Rússia só pode acontecer uma vez que as sanções impostas pela ONU sejam suspensas. E isso depende fortemente na boa vontade de Teerã em chegar a um acordo mutuamente aceitável na rodada de negociações do P5+1 sobre o programa nuclear. Só então a venda e aquisição de armamentos pode ser retomada. Em outubro de 2001, Moscou fez sua última venda publicamente conhecida de armas para Teerã – uma estação de interferência contra radares.
No ano 2000, o Irã era o quarto maior importador de equipamentos militares russos – junto com China, Índia e Emirados Árabes – somando 6,1% das exportações de armamentos da Rússia. O portal Sputnik News cita dados do Center for the Analysis of World Arms Trade, em Moscou, estimando que a indústria de defesa do país perdeu cerca de 13 bilhões de dólares em vendas de equipamentos militares por conta das sanções impostas ao Irã pela ONU.
Por enquanto, o acordo de parceria militar assinado ontem se concentra em aprofundar a cooperação na área de contraterrorismo, intercâmbio de militares para treinamento e aumento no número de visitas a portos pelas Marinhas dos dois países. A postura da Rússia diante do Irã está diretamente ligada às relações atuais do país com o Ocidente. Caso a situação de Moscou com a OTAN se agrave, haverá ainda mais empenho em fazer a parceria com Teerã dar certo.
Nota
Leia: O caso RQ-170 Sentinel (link) – onde foi usado o Sitema radioeletrônico de fabricação russa Avtobaza pelo Irã para "sequestrar" o drone norte-americano.