(DW) Governo da região russa de Belgorod declarou “regime de operação antiterrorista” na área após registro de ataque armado. Ucranianos negam participação e atribuem ação a guerrilheiros russos que se opõem ao Kremlin
A Rússia afirmou nesta segunda-feira (22/05) que está combatendo um grupo de sabotadores ligado à Ucrânia. O governador da região russa de Belgorod, Viacheslav Gladkov, informou que pelo menos oito pessoas ficaram feridas em três localidades da região, que faz fronteira com o território ucraniano.
Segundo o governador, combates também danificaram três casas e um prédio administrativo local. A situação continua “extremamente tensa” na região, declarou Gladkov.
Pouco depois, o governo local colocou toda a região de Belgorod sob o “regime legal de uma zona de operação antiterrorista”. O regime permite a retirada de civis das zonas em causa, o aumento do controle das telecomunicações, a facilitação de intervenções por parte de forças antiterroristas ou verificações de identidade e reforço de patrulhas.
Este regime antiterrorista vigora há anos no Cáucaso russo, em particular na Chechénia, mas esta é a primeira vez que uma região russa é colocada sob este regime desde a ofensiva russa na Ucrânia, lançada por Vladimir Putin em 24 de fevereiro de 2022.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse aos jornalistas que o presidente Putin foi informado da incursão. Ele também reportou que essa operação é uma tentativa da Ucrânia de “desviar a atenção”, após a suposta perda do controle de Bakhmut.
“Legião da Liberdade para a Rússia”
A Ucrânia negou ter organizado a incursão armada andamento na região de Belgorod. O conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak disse que Kiev “não tem nada a ver” com o ataque e disse que os grupos guerrilheiros russos anti-Kremlin foram os responsáveis. “A Ucrânia está observando os eventos na região de Belgorod, na Rússia, com interesse e estudando a situação”, disse ele.
A operação foi oficialmente reivindicada no Telegram por um grupo que se apresenta como pertencente a uma certa “Legião da Liberdade para a Rússia”, ou de russos que lutam do lado ucraniano, que já havia afirmado estar por trás de incursões anteriores na mesma região.
“Chegou o momento de pôr fim à ditadura do Kremlin”, afirmou, em um vídeo divulgado no canal, um homem que, em dezembro, se apresentou à agência France-Presse como “César”, porta-voz do grupo. Segundo o canal, o grupo “libertou totalmente” uma vila da região de Belgorod e atacou um segundo local.
Nas últimas semanas, enquanto é preparada uma grande contraofensiva ucraniana, o território russo passou a ser alvo de um número crescente de ações de sabotagens e ataques, que Moscou atribui a Kiev. A Ucrânia nega participação. Em abril de 2023, um caça russo lançou acidentalmente uma bomba em Belgorod, danificando vários prédios na capital regional de mesmo nome.
A nova incursão ocorre depois de a Rússia ter reivindicado, no fim de semana, a tomada de Bakhmut, cidade no leste da Ucrânia que foi cenário da batalha mais feroz e sangrenta desde que o conflito começou, em fevereiro de 2022.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, desmentiu que suas forças tenham perdido a região e afirmou que seu exército ainda controla uma pequena faixa e que segue pressionando as tropas russas ao norte e ao sul da cidade.
O grupo mercenário russo Wagner afirmou, por sua vez, que suas forças preveem se retirar de Bakhmut entre 25 de maio e 1º de junho, cedendo suas posições ao exército regular.