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Rússia dá demonstração de força na Crimeia

A cena do beijo, fotografada na segunda-feira (03/03) na base militar de Perevalne, na Crimeia, irradia harmonia. Mas ao lado do soldado ucraniano e sua noiva estão homens armados e uniformizados de outro país.

Desde o último domingo, soldados cercam a base da 36ª brigada. Eles chegaram com cerca de 15 caminhões militares e um dezena de carros blindados; vestem uniformes da Rússia sem insígnias e possuem armas e veículos russos. Quando falam, se expressam perfeitamente em russo. Trata-se, claro, de tropas russas, ainda que Moscou negue estar planejando qualquer tipo de ataque.

A jovem em Perevalne pode ver o seu noivo só por pouco tempo. Indagada se não está preocupada com a situação, ela responde que não e deixa claro que não quer mais fazer comentários. Muitos soldados da base militar vivem perto dali e são de origem russa, ou seja, aqueles que Moscou diz que pretende proteger.

Dez mil homens

A exigência dos soldados russos ao Exército ucraniano: reconhecer a nova liderança na Crimeia, entregar suas armas e retirar-se – algo que o comandante da base em Perevalne não quer aceitar. "Esta é a nossa base. Não vamos embora", disse na segunda-feira um dos oficiais ucranianos, pouco antes de desaparecer atrás do portão.

Por volta de mil homens das tropas estrangeiras estão em frente à base militar. Regularmente fazem demonstrações de poder. A cada duas horas, um carro blindado se aproxima do portão de entrada, junto a 30 soldados, e a guarda no portão é substituída. Todas as armas estão prontas para disparar. No caminhão vê-se um atirador em posição de tiro.

Do outro lado, os ucranianos já se acostumaram um pouco com a situação. Eles não parecem tão tensos como no primeiro dia do cerco. As duas partes chegam a trocar palavras brevemente.

O clima na pequena praça em frente à base é carregado de emoções. Quando um caminhão militar se dirige ao portão, um homem usando uma jaqueta preta pula à sua frente. "Não, não ataquem! Nós somos ucranianos", responde o irritado motorista.

Os soldados sitiantes deixam o caminhão passar. O corajoso homem se chama Vitali, ele é russo, mas se opõe ao cerco. "Se a Rússia envia tropas para um Estado soberano, então não importa que vantagens isso nos traz. Assim não se pode fazer política. Isso simplesmente não é bom", afirma.

Uma mulher que se encontra na praça tem outra opinião. Ela se sente abandonada pelo governo em Kiev, diz estar contente com a "presença russa" e espera que Moscou restabeleça a ordem na Ucrânia. "A Rússia nos protege de pessoas como Muzychko e Yaroch", afirma ela, em referência aos líderes do grupo paramilitar nacionalista Setor Direito, que esteve em ação durante os protestos em Kiev.

As batalhas verbais entre os apoiadores e opositores das tropas russas na Crimeia não acontecem somente em Perevalne. Embora não identificados oficialmente, todas as evidências levam a crer que soldados russos cercaram e controlaram quase todos os pontos militares estratégicos da Ucrânia na península da Crimeia, entre eles uma base militar e dois centros de controladores de tráfego aéreo em Simferopol e Sebastopol – por volta de dez localidades.

Na segunda-feira, Denys Berezovsky falou na televisão local. Aparentemente, o chefe da Marinha ucraniana passou para o lado do governo pró-russo na Crimeia. Na TV, ele tentou convencer oficiais ucranianos a uma mudança de lado. Escuta-se também de outras fontes que intermediadores estão tentando atrair soldados e oficiais com diferentes ofertas: por exemplo, como a emissão de um passaporte russo ou de um soldo adequado no "Exército da Crimeia".

Deserções

Também o novo governo da Crimeia, com o primeiro-ministro Serguei Aksenov e o presidente do Parlamento Vladimir Konstantinov, já tentou convencer dessa maneira soldados e oficiais ucranianos em diferentes bases militares.

Alguns oficiais superiores da administração da guarda de fronteiras já mudaram de lado. O novo governo na Crimeia anunciou que cerca de 5 mil recrutas desertaram para o lado pró-russo. O Ministério da Defesa ucraniano rebateu essa afirmação. No momento, ninguém dispõe de números precisos. Acredita-se que vários depósitos de armas na Crimeia já caíram em mãos estrangeiras.

Controverso também foi o anúncio de que o comandante da frota russa do Mar Negro, Aleksandr Vitko, deu um ultimato às forças ucranianas até a manhã desta terça-feira. Se as unidades militares ucranianas não desistissem de sua resistência até aquela data então haveria um ataque.

Essa informação foi confirmada pelo porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano Vladislav Zelesnyov através do Facebook. Moscou, por sua vez, desmentiu claramente o fato, chamando-o de "um disparate absoluto".

Em algumas postagens na segunda-feira, Zelesnyov escreveu que ele ainda não podia compreender a situação: "No ano 2000, desfilamos com esses fuzileiros navais russos numa parada militar na cidade de Kerch. A gente se conhece, eles são OK. Eu não consigo entender o absurdo desta situação."

 

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