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Rússia bombardeia Ucrânia após deixar acordo de grãos

Putin acusou o Ocidente de “chantagem” e listou demandas para exportação de alimentos e fertilizantes russos. Navios na rota do Mar Negro a partir das 0h desta quinta serão tratados como inimigos, anunciou o Kremlin.

(DW) Após o bombardeio de uma ponte que liga a Rússia a Crimeia na segunda-feira (17/07), o Kremlin anunciou sua retirada do acordo para permitir a passagem de grãos ucranianos pelo Mar Negro, lançando na sequência, a título de “vingança” – nas palavras de emissários do Kremlin –, uma série de ataques aéreos contra a infraestrutura portuária ucraniana nas cidades de Odessa e Mikolaiv ainda nas primeiras horas da terça-feira.

Os ataques – “infernais”, nas palavras de autoridades ucranianas – continuaram pela quarta-feira e teriam destruído 60.000 toneladas de grãos, armazéns e infraestrutura portuária, danificando ainda áreas residenciais e deixando ao menos 12 civis feridos.

Ministro da Agricultura ucraniano, Mykola Solskyi disse que parte “considerável” da infraestrutura de exportação estava inoperável.

Na quarta, 2.200 moradores da Crimeia, território ucraniano sob ocupação russa, tiveram que ser evacuados após um ataque a um depósito de munições operado por Moscou.

O Ministério da Defesa russo declarou que qualquer embarcação rumando para portos ucranianos a partir das 0h de quinta-feira (horário de Moscou) seria tratada como potencial fornecedora de equipamento militar e os países sob cuja bandeira naveguem serão considerados, portanto, parte do conflito.

Ao recuar do acordo em vigor desde julho do ano passado, o presidente russo Vladimir Putin acusou o Ocidente de perverter a “essência humanitária” do tratado em benefício próprio, usando-o como instrumento de “chantagem” e de enriquecimento de “corporações transnacionais e especuladores”.

“Em vez de ajudar países realmente necessitados, [o Ocidente] usou o acordo de grãos para fazer chantagem política”, disse Putin.

Chefe de gabinete do governo ucraniano, Andriy Yermak rebateu afirmando que a saída do acordo e o ataque a Odessa – o pior em 17 meses – provam que a Rússia “precisa de fome e problemas nos países do Sul Global. Eles querem criar uma crise de refugiados para o Ocidente”.

Rússia quer negociar retomada do acordo

O líder russo queixou-se sobre o desrespeito a condições que teriam sido combinadas paralelamente ao acordo de grãos em benefício de seu país, e sinalizou disposição de retomada “imediata” caso elas sejam cumpridas: i) A readmissão do Banco Rural da Rússia (Rosselkhozbank) ao sistema de pagamento SWIFT; ii) A retomada das exportações à Rússia de maquinário para agricultura e peças avulsas; iii) O fim de restrições ao seguro de embarcações e cargas russas; iv) O acesso de navios russos aos portos; e v) O desbloqueio de contas de empresas russas de fertilizantes.

Países do Ocidente reagiram afirmando que a Rússia já tem passe livre para exportar alimentos e acusaram Moscou de tentar contornar sanções financeiras.

Impactos da suspensão do acordo

O acordo do Mar Negro foi mediado pelas Nações Unidas (ONU) e Turquia no ano passado em resposta à crise global de alimentos que surgiu na esteira da pandemia, mas que acabou agravada pelo bloqueio a portos ucranianos após a invasão da Ucrânia – o Mar Negro é a única rota marítima da qual o país dispõe.

A iniciativa contribuiu para a queda e a estabilização dos preços dos alimentos. Mais de 30 milhões de toneladas de grãos e outros produtos alimentícios foram exportados até maio de 2023 graças ao acordo.

Os países mais pobres receberam cerca de 65% do trigo, enquanto o milho foi exportado quase igualmente para países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em março, porém, vários meios de comunicação informaram que cada vez menos grãos estavam sendo enviados da Ucrânia.

As exportações totais de alimentos viabilizadas pelo acordo diminuíram em cerca de três quartos em maio, em comparação com outubro do ano passado – fenômeno atribuído em parte aos riscos da rota, mas também a regulamentações rígidas.

A ONU – a quem a Rússia deu prazo de três meses para atender às condições – alertou que a suspensão do acordo deve provocar aumento de preços e aumentar a fome ao redor do mundo, impactando especialmente nações mais pobres. Mensagem semelhante partiu do Fundo Monetário Internacional.

Ministra alemã do exterior, Annalena Baerbock reagiu aos bombardeios russos acusando Putin de atingir os mais pobres, que seriam privados dos alimentos ucranianos.

O fechamento da rota do Mar Negro também desencadeou reações de países europeus vizinhos, que pedem à União Europeia o banimento de importações ucranianas por temerem ser inundados com grãos baratos.

Na terça, os Estados Unidos anunciaram apoio de 250 milhões a fazendeiros para ajudá-los com rotas alternativas de exportação – a Ucrânia já anunciou uma rota alternativa temporária pela Romênia.

ra (AP, AFP, Reuters, ots)

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