Nova doutrina diplomática de Moscou aponta os EUA como fonte dos maiores riscos à segurança russa e à paz mundial e promete buscar o fim do domínio ocidental. Documento ainda destaca parceria com China e Índia.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, lançou nesta sexta-feira (31/03) novas diretrizes de política externa do país destinadas a conter o “domínio” do Ocidente e que identificam a China e a Índia como parceiras-chave para o futuro.
A nova doutrina diplomática, um documento de 42 páginas publicado no site do Kremlin, descreve o Ocidente como uma espécie de ameaça existencial e diz que a Rússia pretende “criar as condições para que qualquer Estado rejeite objetivos neocolonialistas e hegemônicos”.
A Rússia está cada vez mais isolada no cenário internacional e tem buscado fortalecer os laços políticos e econômicos com países da África e da Ásia, como a China e a Índia, que adotaram uma postura mais neutra em relação à ofensiva russa na Ucrânia.
A nova estratégia de política externa – uma espécie de manual para diplomatas russos – aponta os Estados Unidos como a maior ameaça enfrentada pelo país. O documento descreve os EUA como “o principal instigador, organizador e executor da agressiva política anti-Rússia do Ocidente”.
A política externa russa, de acordo com o documento, deve refletir que os EUA são “a fonte dos principais riscos à segurança da Rússia, à paz internacional e ao desenvolvimento equilibrado, justo e sustentável da humanidade”.
“A Federação Russa pretende dar prioridade à eliminação dos vestígios do domínio dos Estados Unidos e outros países hostis na política mundial”, diz o texto.
O termo “países hostis” foi usado para se referir aos países, particularmente europeus e norte-americanos, que condenaram a invasão russa da Ucrânia e impuseram sanções.
Parceiros estratégicos na Ásia
Enquanto rechaça o Ocidente, a doutrina destaca a China e a Índia como parceiros estratégicos da Rússia e argumenta que Moscou se posicionará em direção a outros países.
Putin falou recentemente sobre os laços com os dois países durante uma visita do presidente chinês, Xi Jinping, a Moscou neste mês. Além disso, a Rússia aumentou o fornecimento de energia para China e Índia após ter sido quase totalmente cortada de seus mercados europeus tradicionais.
O documento enfatiza a importância do “aprofundamento dos laços e da coordenação com os centros globais de poder e desenvolvimento soberanos e amigáveis localizados no continente eurasiático”.
O texto ainda descreve a Rússia como um “Estado-civilização” encarregado de defender o que chama de “mundo russo” e “valores espirituais e morais tradicionais” contra “atitudes ideológicas pseudo-humanistas e outras neoliberais”.
“Ameaças existenciais”
Ao apresentar a nova estratégia, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, reforçou em uma reunião televisionada do Conselho de Segurança da Rússia que o país enfrenta “ameaças existenciais” à sua segurança e desenvolvimento por parte de “Estados hostis”.
Segundo Lavrov, a guerra na Ucrânia, que Moscou chama de “operação militar especial”, deu início a “mudanças revolucionárias” em questões mundiais que agora precisam ser refletidas no principal documento de política externa da Rússia.
Putin, por sua vez, também disse que atualizações na estratégia da Rússia para engajamento no cenário global são necessárias devido a “mudanças radicais” no mundo.
ek (AFP, DPA, Reuters)