O Presidente da Autoridade Palestiniana deve, segundo Benjamin Netanyahu, “escolher entre a paz com Israel e a paz com o Hamas”. O nacionalista Avigdor Lierberman, ministro dos Negócios Estrangeiros e dirigente do partido extremista Yisrael Beitenu, vai mais longe, ao advertir Mahmud Abbas para o “vasto arsenal de medidas” de retaliação que o Estado hebraico pode acionar.
Em causa está o entendimento esboçado na quarta-feira por Hamas e Fatah. Na sequência de um encontro, no Cairo, com o chefe dos serviços de informações do Egito, o general Murad Muafi, foi anunciada a obtenção de um acordo entre as delegações dos dois movimentos palestinianos para a formação de um governo transitório “de independentes” até às próximas eleições presidenciais e legislativas, a realizar dentro de um ano.
Em declarações difundidas pela rádio militar, Lieberman considerou que Hamas e Fatah ultrapassaram “uma linha vermelha”. Daí que, na perspetiva do ministro israelita, quer o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, quer o primeiro-ministro Salam Fayyad possam agora ser submetidos a medidas como “a supressão do estatuto de VIP”, limites à “livre circulação” na Cisjordânia e até mesmo o “congelamento da transferência de impostos” para os cofres do poder executivo em Ramallah.
“A paz” ou “a colonização
Abbas responde à letra ao primeiro-ministro israelita. É sobre os ombros de Benjamin Netanyahu, devolveu entretanto o Presidente da Autoridade Palestiniana, que repousa a responsabilidade de “escolher entre a paz e a colonização” de territórios a abranger nas fronteiras de um futuro Estado palestiniano.
E é essa a meta que enforma o acordo acertado entre os líderes das delegações dos islamitas do Hamas, Mahmud Zahar, e dos seculares da Fatah, Azzam al-Ahmad. O primeiro-ministro da administração da Autoridade Palestiniana – confinada à Cisjordânia desde o conflito fratricida de 2007 – manifestou já a esperança de que o entendimento leve à “reunificação da nação, necessária para permitir que o povo decida o seu destino e para estabelecer um Estado independente na totalidade dos territórios ocupados desde 1967, com Jerusalém Oriental como capital”.
Nas últimas semanas, milhares de palestinianos manifestaram-se pelo “fim da divisão” entre a Autoridade Palestiniana e o Governo pária da Faixa de Gaza, liderado por Ismail Haniyeh. De resto, o próprio primeiro-ministro do Executivo do Hamas terá “saudado os esforços egípcios para realizar a reconciliação, restabelecer a unidade e pôr fim ao cerco” israelita. A posição de Haniyeh consta de uma nota divulgada após uma conversa entre o dirigente do Hamas e Mohammed Badie, "guia" da Irmandade Muçulmana do Egito.
“Mão de ferro”
Outra das vozes que se ergueram, em Israel, contra o acordo palestiniano é a do ministro da Defesa. O antigo primeiro-ministro Ehud Barak, que em janeiro abandonou as fileiras do Partido Trabalhista para fundar a formação política Ha Hatzmahout (A Independência), afirmou ver nos “últimos acontecimentos” a demonstração de que os responsáveis israelitas só podem “contar com eles mesmos”. Deixou também uma advertência: “O Exército e os serviços de segurança usarão uma mão de ferro para enfrentar quaisquer ameaças e quaisquer desafios”.
Por sua vez, Avigdor Lieberman acrescentou à ameaça de retaliação diplomática e financeira um apelo à “comunidade internacional” para que preserve “as condições” enumeradas pelo Quarteto (Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas). Mas somente aquelas que têm por destinatários os palestinianos: “O fim da violência, o reconhecimento de Israel e dos acordos concluídos no passado, sendo que o Hamas não aceita nenhuma dessas condições”.
Uma fórmula que encontrou eco no seio do Conselho de Segurança Nacional do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Numa primeira reação às notícias que saíram do Cairo, aquele órgão da Casa Branca disse-se favorável a “uma reconciliação entre os palestinianos”. Ao mesmo tempo, porém, deixou uma nota de inquietação perante a aproximação ao Hamas, sublinhando que “qualquer governo palestiniano” terá de “renunciar à violência, respeitar os acordos concluídos e reconhecer o direito de Israel à existência”.