As revoluções e revoltas no mundo árabe, que em poucos meses tomaram conta de dois continentes, têm se revelado inspiradoras para muitos porque oferecem um novo senso de identidade nacional baseado no conceito de cidadania.
Mas nas últimas semanas, o espectro das divisões tem ameaçado as revoltas que antes pareciam prometer resolver questões que têm atormentado o mundo árabe desde a época do colonialismo.
Dos becos fétidos de Imbaba, o bairro no Cairo onde cristãos e muçulmanos travaram batalhas de rua, aos campos da Síria, onde a repressão particularmente agressiva levantou temores de resoluções sectárias, a questão da identidade pode ajudar a determinar se a Primavera Árabe dará flores.
Poderão as revoltas encontrar uma alternativa para lidar com a variedade de clãs, seitas, etnias e religiões do mundo árabe?
"Eu acho que as revoluções, de certa forma, de uma forma distante, estão esperando recuperar" esse sentimento de identidade nacional, disse Sadiq al-Azm, um proeminente intelectual da Síria que atualmente vive em Beirute.
Em um arco de revoltas e revoluções, essa ideia de cidadania mais ampla está sendo testada conforme o silêncio forçado da repressão dá lugar à cacofonia da diversidade.
Segurança e estabilidade eram as justificativas dadas pelos poderosos do mundo árabe para sua repressão, muitas vezes com sanções dos Estados Unidos. A essência dos protestos da Primavera Árabe é que as pessoas possam imaginar uma alternativa a isso.
"Medo" é como Gamal Abdel Gawad, diretor do Centro Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos no Cairo, explicou a questão – a maneira que os autocratas ganham apoio porque as pessoas "ainda têm medo de seus concidadãos".
Síria
Em nenhum outro lugar isso talvez seja mais verdadeiro do que na Síria, onde há levante popular contra quatro décadas de domínio de uma família e um agravamento da tensão entre a maioria muçulmana sunita e as minorias de cristãos e muçulmanos heterodoxos, os Alawites.
Mohsen, um jovem alawite na Síria, contou sobre um slogan que foi cantado em alguns dos protestos no país: "Os cristãos para Beirute e os alawites para o caixão".
Mas apesar da onda de repressão, perseguição e guerra civil, a esperança e o otimismo ainda permeiam a região.
Em Beirute, destruída por uma guerra sobre a identidade do país e até agora a salvo das rajadas de mudança, os ativistas organizaram um pequeno protesto que já dura dois meses para pedir algo diferente.
"Nós não somos ‘nós’ ainda", reclamou Tony Daoud, um dos ativistas. "O que queremos dizer quando dizemos 'nós'? ‘Nós’o quê? Uma religião, uma seita ou nós seres humanos?"
*Por Anthony Shadid e David D. Kirkpatrick