O premiê Recep Erdogan, vitorioso na eleição ontem, alcançou popularidade inédita no mundo árabe, historicamente desconfiado dos turcos que comandavam o antigo Império Otomano.
Segundo o instituto Pew, dos EUA, sua aprovação passa de 50% nos territórios palestinos, chegando a 78% no Egito. Mas só 25% dos franceses, britânicos, alemães e espanhóis o apoiam; em Israel, esse número cai para 9%.
O contraste ilustra os percalços enfrentados por Erdogan no objetivo de consagrar a Turquia como ponte entre Ocidente e Oriente Médio.
Até o fim do século passado, o país tinha Israel como maior aliado a seu leste, e, antes da Revolução Islâmica (1979), também o Irã. Como membro da Otan, uma de suas funções na Guerra Fria era conter a influência soviética nos países árabes.
A mudança começou antes da ascensão dos islâmicos moderados do AK, guiada por interesses comerciais e econômicos. Ela se aprofundou, porém, com a política de "problema zero" com os vizinhos concebida pelo chanceler Ahmet Davutoglu.
A nova orientação não rejeitava o Ocidente; coincidiu, ao contrário, com reformas internas necessárias ao ambicionado ingresso na União Europeia. Sua meta era estabelecer a Turquia como mediadora e interlocutora privilegiada entre os dois lados.
O tamanho do desafio à ambição turca já ficara claro com o ataque de Israel a Gaza em 2008 -que enfureceu Erdogan e estancou negociações mediadas por Ancara- e a rejeição ocidental ao acordo nuclear com o Irã, em iniciativa turco-brasileira.
Com as revoltas árabes, a Turquia se vê diante da contradição de combinar as boas relações com ditadores como Muammar Gaddafi e Bashar Assad e o apoio ao que chama de "expectativas legítimas dos povos" por democracia. Por ora, seus apelos a esses regimes por moderação não foram bem-sucedidos.