RODRIGO CRAVEIRO
"Não queremos mais retórica. O país pede ações claras de paz." Assim, o presidente Juan Manuel Santos reagiu ontem à carta escrita na véspera por Timoleón Jiménez (o Timochenko) — comandante do Estado-Maior Central das forças armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) — e endereçada a ele. Por meio de sua conta no microblog Twitter, Santos refutou o diálogo e instou os guerrilheiros esquerdistas a "esquecerem um novo Caguán".
O mandatário se referia à zona desmilitarizada criada em San Vicente del Caguán, no departamento de Caquetá, que serviu de abrigo seguro para as Farc entre 1998 e 2002. Em sua mensagem, Timochenko afirma o interesse em tratar de vários assuntos em uma "hipotética mesa de conversações". "Colocar em questão as privatizações, a desregulação, a liberdade absoluta de comércio e de investimentos, a depredação ambiental, a democracia de mercado, a doutrina militar", escreveu o líder das Farc. "Retomar a agenda que ficou pendente em Caguán", emendou.
Em entrevista ao Correio, o colombiano Carlos Nasi Lignarolo, cientista político da Universidad de Los Andes (em Bogotá), admitiu que o comunicado de Timochenko é confuso e carece de realismo político. "Ao propor sobre Caguán, as Farc ignoram que têm sofrido golpes duríssimos, com a morte ou a captura de boa parte de seus dirigentes históricos, que estão bastante enfraquecidas militarmente e que não têm crebilidade perante a sociedade", explica. Segundo ele, a carta é desprovida de novidades. "Não houve um gesto de paz autêntico da guerrilha. As Farc não estão em posição de pretender negociar sobre qualquer tema imaginável, dado seu isolamento político", acrescenta.
Para o ex-senador Luis Eladio Pérez Bonilla, refém das Farc entre 2001 e 2008, a mensagem de Timochenko não passa de um "sofisma de distração". "Não existe vontade política por parte das Farc. Enquanto não libertarem os sequestrados e não cessarem as hostilidades, será impossível falar de diálogo", afirmou ao Correio.
Por sua vez, Vicente Torrijos, professor de ciência política e relações internacionais da Universidad del Rosario (em Bogotá), acredita que as Farc pretendem transmitir a mensagem de que o Estado não pôde derrotá-las militarmente durante a última década e, portanto, precisam ser reconhecidas como um interlocutor político.
"As Farc compensam o enfraquecimento com o enorme apoio que recebem de governos vizinhos, tanto que conservam suas capacidades terroristas e querem arraster o governo a um embuste de diálogo, para refundar o Estado", observa. "A pergunta agora é se o presidente cairá na tentação de iniciar uma conversa exploratória. No entanto, parece-me que Santos conhece bem as técnicas de manipulação dos guerrilheiros e de seus associados", comentou Torrijos, por e-mail.