Ebrahim Raisi voltava da inauguração de represa na fronteira com o Azerbaijão. Político linha-dura, ele era apontado como possível sucessor do aiatolá Ali Khamenei. Ministro do Exterior também morreu na queda.
(DW) O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, morreu na queda de um helicóptero que o transportava neste domingo (19/05) por uma região montanhosa do país, afirmou a mídia estatal iraniana nesta segunda-feira.
“O presidente da República Islâmica do Irã, Ebrahim Raisi, sofreu um acidente enquanto servia e cumpria seu dever para o povo do Irã e foi martirizado”, disse a agência de notícias Mehr, alinhada a outros relatos da mídia local.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, decretou cinco dias de luto por Raisi. “Anuncio cinco dias de luto público e ofereço minhas condolências ao querido povo do Irã”, disse Khamenei em um comunicado nesta segunda-feira. Ele nomeou o vice de Raisi, Mohammad Mokhber, como presidente interino do país.
Além de Raisi, o ministro iraniano do Exterior, Hossein Amirabdollahian, viajava na mesma aeronave e também morreu. Para seu cargo, foi nomeado como substituto Ali Bagher, que conduzia as negociações internacionais sobre o programa nuclear iraniano.
Ambos voltavam de uma visita à província iraniana do Azerbaijão Oriental, onde inauguraram uma represa acompanhados do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, na fronteira entre os dois países. O helicóptero sumiu do radar na tarde de domingo e os esforços de busca começaram imediatamente. Os destroços foram localizados nesta segunda-feira, sem nenhum sinal de vida de seus ocupantes.
Segundo a Constituição do país, um conselho composto pelo vice-presidente, pelo presidente do Parlamento e pelo presidente do Judiciário deve convocar uma eleição para a escolha do novo presidente iraniano em até 50 dias.
Quem era Raisi?
O político iraniano tinha 63 anos e havia sido eleito para o cargo em 2021, após outros rivais conservadores e moderados terem sido desqualificados para o pleito.
Nascido em uma família muito religiosa na segunda maior cidade do país, Mashhad, Raisi passou por um extenso treinamento teológico e detinha o título de Hujjat al-Islam, que significa “autoridade no Islã”. Na hierarquia religiosa do país, o cargo só fica abaixo do de aiatolá.
Sua carreira começou aos 20 anos de idade, após a Revolução Islâmica de 1979, quando ele foi nomeado procurador-geral de Karaj, um subúrbio de Teerã. Posteriormente, foi vice-procurador em Teerã durante os julgamentos encenados de prisioneiros políticos em 1988, que ficaram conhecidos como “comissões da morte”. Embora o número de pessoas mortas em todo o país nunca tenha sido confirmado, grupos de direitos humanos estimam, no mínimo, cerca de 5 mil vítimas dos expurgos.
Nos últimos anos, Raisi vinha sendo apontado como um dos favoritos para suceder Khamenei como líder supremo do Irã.
Sua presidência foi marcada por um impasse nas negociações internacionais sobre seu programa nuclear e por distúrbios em grande escala em todo o país no final de 2022, após a morte de Jina Mahsa Amini sob custódia depois de ter sido detida pela polícia da moralidade por supostamente usar indevidamente um hijab.
Durante o mandato de Raisi, o Irã também intensificou seu enriquecimento de urânio e apoiou a Rússia na decisão de invadir a Ucrânia. O país também fortaleceu seu apoio ao chamado “eixo da resistência”, uma aliança regional criada e financiada pelo Irã que inclui o Hamas, o Hisbolá e os rebeldes houthis. Diversos países do Ocidente, inclusive os Estados Unidos e a Alemanha, consideram o Hamas e o Hisbolá organizações terroristas.
No mês passado, o Irã lançou um ataque com mísseis e drones contra Israel em meio ao conflito em em Gaza, que foi repelido com eficácia com o apoio de países aliados de Israel e até de alguns países árabes. No início deste mês, Raisi disse que “o Irã apoia a defesa legítima da nação palestina”, ao mesmo tempo em que elogiou os esforços de “resistência” do Hamas.
Repercussão internacional
Líderes de diversos países expressaram condolências ao Irã pela morte de Raisi. O presidente da China, Xi Jinping, afirmou por meio do porta-voz do Ministério do Exterior que Raisi havia “dado importantes contribuições para manter a segurança e a estabilidade do Irã, promovendo desenvolvimento nacional e prosperidade e conduzindo esforços positivos para consolidar e expandir a ampla parceria estratégica entre a China e o Irã”. “Sua morte infeliz é uma grande perda para o povo iraniano, e o povo chinês também perdeu um bom amigo”, afirmou.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse em um comunicado que se lembrará de Raisi “com respeito e gratidão” e elogiou seus “esforços pela paz do povo iraniano e de nossa região durante seu período no no cargo”. As autoridade turcas enviaram um drone na noite de domingo para ajudar a localizar os destroços do helicóptero.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse em um comunicado que a morte de Raisi era uma “grande tragédia” e uma “perda difícil e irreparável”. “Como um verdadeiro amigo da Rússia, ele deu uma contribuição pessoal inestimável para o desenvolvimento de boas relações de vizinhança entre nossos países e fez grandes esforços para para levá-las ao nível de parceria estratégica”, afirmou.
O Líbano, onde fica o grupo Hisbolá, apoiado pelo Irã, declarou três dias de luto oficial pela morte de Raisi. Líderes de outros países da região também expressaram pesar, como o presidente da Síria, Bashar Assad, que também declarou três dias de luto oficial, e do Azerbaijão, Ilham Aliyev. O Hamas, o Hisbolá e os rebeldes houthis também manifestaram pesar pela morte de Raisi.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou em um post no X que a União Europeia expressava suas “sinceras condolências” pela morte de Raisi e de Abdollahian, assim como a de outros membros da delegação que estavam na aeronave. “Nossos pensamentos estão com suas famílias.” A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, disse na televisão que expressava sua “solidariedade e a solidariedade da Itália ao governo iraniano e ao povo iraniano”.
Um grupo de membros da oposição iraniana que vivem no exílio, representados pelo Conselho Nacional da Resistência Iraniana (CNRI), afirmou que a morte de Raisi “significa um golpe estratégico monumental e irreparável para o líder supremo dos mulás, Ali Khamenei, e para todo o regime, notório por suas execuções e massacres”. “Isso desencadeará uma série de repercussões e crises dentro da tirania teocrática, o que estimulará os jovens rebeldes a agir”, disse Maryam Rajavi, líder do CNRI, em um comunicado.
bl (AP, Reuters, AFP, DW)