DERRY, New Hampshire
Aos pares ou em grupos maiores, as pessoas vão chegando à entrada do ginásio onde, na noite fria de domingo, o pré-candidato republicano Newt Gingrich é esperado para um town hall meeting, a mais antiga instituição democrática da Nova Inglaterra, berço da colonização e da independência dos Estados Unidos. Derry é uma cidade de cerca de 30 mil habitantes, que encaram uma temperatura de 2 graus negativos com galhardia e casacos leves: um inverno sem neve balança até a convicção do mais empedernido dos republicanos sobre a "fraude" do aquecimento global.
No espaçoso ginásio com teto de madeira, cerca de 350 pessoas se juntam para ouvir Gingrich e desfrutar da oportunidade que a campanha em New Hampshire oferece: encontrar-se cara a cara com os candidatos. Gingrich, que aos 68 anos é um dos políticos mais conhecidos do país, entra acompanhado da terceira mulher, Callista, de 45 anos, uma loura platinada.
Rapidamente o alvo dos ataques vira o presidente Barack Obama. Coadjuvante, o Brasil. Gingrich mostra irritação com o fato de Obama ter afirmado à presidente Dilma Rousseff, em visita ao Brasil em março do ano passado, que os EUA tinham interesse em garantir a compra de US$2 bilhões das reservas de petróleo do pré-sal (por meio de acordo para financiamento da exploração das reservas).
– Queremos que o presidente dos Estados Unidos viaje o mundo para vender produtos e serviços americanos, não para comprar. Pegar dinheiro emprestado dos chineses para pagar aos brasileiros é um modelo que não funciona.
E o Brasil continua na berlinda, com mais uma reclamação: o político republicano tampouco aprova a compra, por US$355 milhões, de 20 aviões A-29 Super Tucano, caças da Embraer, em detrimento da concorrente americana, Hawker Beechcraft.
– Por que não uma empresa americana?
Durante 45 minutos de discurso, ele descreve Obama como um presidente fraco e despreparado, insistindo nas comparações com Jimmy Carter (1977-1981).
– Uma coisa é a Casa Branca não saber jogar xadrez. Agora, não saber jogar damas… – cutuca, provocando risos e aplausos.
As piadas cedem lugar a um discurso apocalíptico, no qual as eleições do dia 6 de novembro são as mais importantes dos nossos tempos, e a última chance para salvar o país do declínio.
Terminado o discurso, o candidato abre a guarda para as perguntas dos eleitores, numa variação dos debates no modelo town hall que já foram considerados a versão do Novo Mundo para a democracia direta de Atenas.
– Esse tipo de evento é uma parte muito importante da tradição política de New Hampshire. É a chance de se julgar o caráter, a personalidade da pessoa, algo que não se consegue ver na TV – diz Linda Dupere, moradora de Derry e veterana voluntária de campanhas republicanas. (F.G.)