Mas o governo equatoriano, que decide nesta quinta se concede o asilo, já vinha ensaiando uma aproximação com o jornalista australiano havia algum tempo.
Em novembro de 2010, o ex-vice-ministro das Relações Exteriores equatoriano Kintto Lucas ofereceu a Assange residência no país, para que pudesse "divulgar livremente as informações que possui".
A oferta foi rapidamente retificada pelo governo do presidente Rafael Correa como sendo uma oferta feita por iniciativa própria de Lucas. À época, o líder do país chegou a criticar a WikiLeaks por divulgar documentos confidenciais.
Mas em abril de 2011, o Equador expulsou a embaixadora americana após revelações – feitas pelo WikiLeaks – nas quais ela sugeria que Correa estaria ciente de acusações de corrupção feitas contra um chefe de política promovido a comandante de uma força nacional.
Desde então, Assange tem mantido contato próximo com a embaixada do Equador em Londres.
Entrevista
Muitos apontam como um divisor de águas nesta relação a entrevista conduzida em abril por Assange com Correa para o canal em inglês, financiado pelo governo russo, Russia Today.
Durante os 75 minutos de entrevista, Correa elogiou o trabalho da WikiLeaks, defendeu a liberdade de expressão, criticou o papel negativo de alguns órgãos de imprensa e encerrou o encontro com uma saudação amigável para Assange:
"Bem-vindo ao clube dos perseguidos!", disse o mandatário sul-americano.
Na entrevista, Correa também disse que os documentos publicados pela WikiLeaks fortaleceram seu governo “porque as grandes acusações da embaixada americana eram que o governo do Equador promove um nacionalismo excessivo e defende sua soberania”.
"Sem dúvida somos nacionalistas e defendemos a soberania do país", disse Correa, que foi o único presidente latino-americano entrevistado pelo programa, que já recebeu personalidades como o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah e o presidente da Tunísia, Moncef Marzouki.
Estratégia
Nesta quinta-feira, o Equador decide se dá asilo político a Assange, que está refugiado na embaixada do país em Londres. O australiano luta contra a extradição para a Suécia onde enfrenta acusações de crimes sexuais.
Ele diz que as acusações têm motivação política.
Analistas consideram que a concessão de asilo para Assange pode ser uma medida inteligente do governo Correa, que deve tentar a reeleição no ano que vem. Ela pode ser uma oportunidade de mudar a percepção de que persegue a imprensa.
Correa se diz vítima da imprensa privada equatoriana, que ele acusa de ter historicamente servido aos interesses das elites econômicas do país.
No começo do ano, o presidente ganhou dois processos milionários contra jornalistas. O jornal El Universo foi multado em US$ 40 milhões e seus donos condenados a três anos de prisão.
Dois jornalistas investigativos foram multados em US$ 10 milhões por terem difamado a reputação do presidente em um livro que trouxe detalhes de contratos governamentais.
Após duras críticas internacionais, Correa perdoou os jornalistas.
O editor do jornal privado Hoy, Marlon Puertas, disse à BBC que "se há algum mérito que devemos reconhecer neste governo é que nunca toma uma decisão improvisada".
* Com informações de Matias Zibell e Irene Caselli