Denise Rothenburg
Pequim — A presidente Dilma Rousseff desembarcou no fim da noite de ontem (pelo horário de Brasília) — cerca de 10h30 de segunda-feira pelo horário local — em Pequim para uma visita de seis dias com um olho voltado à ampliação do portfólio de exportações brasileiras com produtos de maior valor agregado, e o outro focado na afinação do discurso com os chineses em vários temas da agenda internacional. No comunicado conjunto que ela assinará amanhã com o presidente chinês, Hu Jintao, estarão mencionados temas delicados, como o conflito na Líbia, a necessidade de reforma no Conselho de Segurança da ONU e ainda a preocupação com as mudanças climáticas e o combate à miséria.
Sinuosa pela falta de liberdade de expressão no país comunista, a questão dos direitos humanos constará do texto final, mas as autoridades brasileiras avisam que não será foco importante da visita. “O tema não é proibido na pauta entre os dois países, tanto é que entrará na discussão”, pondera uma fonte do Itamaraty. Em que termos isso será colocado ainda não se sabe e os diplomatas de ambas as nações correm contra o tempo para tentar chegar a um consenso. A ideia é que saia uma citação mais geral sobre o assunto, sem entrar em casos específicos, como o número de presos políticos da China.
Dilma estará mais voltada à agenda econômica e científica. Seu primeiro compromisso oficial é a abertura do Diálogo de Alto Nível Brasil-China em Ciência, Tecnologia e Informação, no Complexo Diaoyutai, a Casa de Hóspedes do governo chinês. Até 2009, Diaoyutai acomodava os chefes de Estado em visita ao país. Em 2004, por exemplo, Lula ficou hospedado lá. O palácio começou a ser construído em 1958 e terminou em 1959, para abrigar os ilustres convidados para a festa de 10 anos de governo do Partido Comunista que governa a China até hoje. Hoje, o complexo é usado mais para eventos e hóspedes dispostos a pagar algo em torno de US$ 6 mil, a diária de uma das suítes presidenciais, valor que será acrescido em 15%, a título de taxa de serviço.
Dilma ficará em Diaoyutai menos de uma hora. De lá, vai para o China World Summit Wing, um centro de convenções onde encerrará o seminário empresarial Brasil-China. Depois do almoço que a comitiva brasileira oferece ao empresariado chinês numa grande amostra dos vinhos nacionais, carne e iguarias da culinária baiana, ela segue para o Palácio do Povo para assinatura de declaração conjunta. O dia termina com um banquete oferecido por Hu Jintao à presidente.
Aviação e energia
Nos encontros, Dilma reforçará a intenção do Brasil de diversificar a sua pauta de exportações. Entre os acordos, destaca-se a compra dos aviões Embraer 190 por empresas chinesas. Há ainda memorandos na área de energia, entre a Eletrobras e a State Grid, que deseja entrar pesado no setor de linhas de transmissão.
A Petrobras assinará contratos com a Sinochem (a empresa química) e também com a Sinopec, maior petrolífera chinesa, que, em outubro, comprou 40% do capital da Repsol do Brasil. A visita a Pequim termina no dia 13, com um encontro de Dilma com o presidente da Assembleia Popular nacional, Wu Bangguo, e com o primeiro-ministro Wen Jiabao. Por volta das 17h, a presidente segue para a ilha de Hainan, onde participa da reunião de cúpula dos Brics, no dia seguinte.