Em linha com a estratégia do governo de ampliar a oferta de etanol no país, a Petrobras Biocombustíveis (PBio) anunciou ontem com o grupo paulista São Martinho, seu parceiro em projetos de bioenergia no Centro-Oeste, que investirá R$ 520,7 milhões para transformar uma usina de Goiás na maior produtora de etanol de cana-de-açúcar do mundo. Além da dimensão inédita, o projeto também tem a ambição de ser o primeiro de um novo ciclo de investimentos em usinas alcooleiras no país. Com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros estímulos oficiais ainda em fase de definição, a expectativa é que esse novo ciclo de fato ganhe força no curto prazo.
Pertencente à Nova Fronteira Bioenergia, joint venture criada em 2010 pelas duas companhias, a usina que será ampliada é a Boa Vista, localizada no município de Quirinópolis. A atual capacidade de moagem de cana da unidade é de 3 milhões de toneladas por safra – no ciclo atual (2011/12) serão processadas 2,3 milhões -, mas a partir dos aportes previstos deverá atingir 8 milhões de toneladas em 2014/15, destinadas exclusivamente à produção de etanol.
A pedra fundamental será lançada em setembro. A expectativa é que a Boa Vista seja a primeira indústria de etanol a receber do BNDES condições de financiamento ainda não disponíveis pelo segmento no país. "Vamos iniciar uma agenda específica com o banco para definir recursos e modelo do financiamento", afirma Fábio Venturelli, presidente da Nova Fronteira. O executivo reitera que a empresa não tem nada acertado com o BNDES até o momento.
O presidente da PBio, Miguel Rossetto, evita entrar na seara política quando é questionado sobre quais estímulos governamentais estão à caminho. Mas afirma que o anúncio da Boa Vista deixa evidente a confiança de que o etanol está na agenda definitiva do governo. "Nossa expectativa é de que a política pública que virá trará estímulo para que a oferta do biocombustível cresça substancialmente". A Boa Vista conta com incentivo fiscal de ICMS do governo de Goiás no valor total de R$ 3 bilhões.
Do previsto investimento de R$ 520 milhões (indústria e mecanização), R$ 400 milhões (76,9%) deverão ser financiados, basicamente pelo BNDES. Segundo Venturelli, que também é CEO da São Martinho, o restante (cerca de R$ 120 milhões) virá de capital próprio
"Esse dinheiro já está em caixa", afirma Rossetto. Até agora, a PBio já investiu na Nova Fronteira cerca de R$ 250 milhões. Até o fim do ano, aportará mais R$ 170 milhões para completar os R$ 420,8 milhões acordados no acordo que prevê que a estatal assuma 49% da joint venture.
Na última semana, a estatal divulgou que investirá entre 2011 e 2015 US$ 1,9 bilhão para crescer na produção do biocombustível, dos quais 70% em novas usinas. Rossetto deixa claro que "a maior parte" da expansão esperada – dos atuais 1,5 bilhão de litros de etanol para 5,6 bilhões de litros em quatro anos – virá da região Centro-Oeste, via Nova Fronteira.
Somente na Boa Vista, a produção de etanol crescerá de 210 milhões de litros neste ciclo para 700 milhões de litros em 2014, distribuídos igualmente entre anidro e hidratado. A cogeração de energia, atualmente em 220 mil Megawatt-hora (MWh), avançará para 600 mil MWh.
Além da Boa Vista, já em operação, a joint venture tem planos de construir outra indústria de etanol, mas em Bom Jesus de Goiás, vizinha à Quirinópolis, região que já está no trajeto do etanolduto e da infraestrutura multimodal (ferrovia e hidrovia) desenhada pela Logum, empresa de logística para biocombustíveis da qual a Petrobras tem 20% de participação. Segundo Rossetto, o projeto de Bom Jesus de Goiás pode, sim, participar do cronograma de investimentos 2011-2015 da estatal.
O projeto da Boa Vista, explica Venturelli, vem sendo classificado como "usina nova", pois o crescimento de 3 milhões para 8 milhões de toneladas não pode ser caracterizado como simples aumento de capacidade já existente. Mas, ainda assim, os investimentos, garante o executivo, serão bem menores do que o de uma usina nova e devem ficar próximos de US$ 70 por tonelada de capacidade de moagem instalada.
O aporte divulgado ontem não inclui a produção da cana-de-açúcar adicional que será moída na Boa Vista. O montante da parte agrícola ainda não foi dimensionado, porque se buscará parceria no fornecimento de cana com produtores de Goiás, diz o executivo.
Até agora, 100% dos 2,350 milhões de toneladas da matéria-prima processada em Quirinópolis são de cana própria da Nova Fronteira, que ontem também lançou sua nova marca. "Nosso plano agora é atingir 8 milhões de toneladas com equação final de 30% a 40% da cana sendo fornecida por produtores parceiros", afirma Venturelli.