Um eventual governo Ollanta Humala deve aprofundar o relacionamento do Peru com o Brasil. "O Brasil pode ser o primeiro país que eu irei visitar, se for eleito", disse o candidato em entrevista à Folha na sexta-feira.
Humala afirmou que deseja transformar o Peru em "sócio estratégico" do Brasil e cogita a entrada do país no Mercosul. Mesmo assim, os investimentos brasileiros no Peru, que ultrapassam os US$ 20 bilhões, podem enfrentar dificuldades.
Líderes de Puno (sul) anunciaram que vão decretar uma greve geral nesta quarta-feira contra a construção da hidroelétrica de Inambari, um projeto da Eletrobras, Furnas e da empreiteira OAS.
As comunidades locais se opõem ao danos ambientais que o projeto poderia causar à região.
Inambari é parte de um projeto da Eletrobrás para construir cinco hidroelétricas no Peru ao custo de US$ 16 bilhões.
Humala afirmou que vê com bons olhos os projetos brasileiros, mas admite que os conflitos sociais podem prejudicá-los.
Ele também afirmou à Folha que o gás produzido no Peru será vendido prioritariamente no mercado interno e que ele pode restringir exportações. A Petrobras é uma das empresas que explora gás no país.
Cresce no Peru uma resistência ao suposto imperialismo brasileiro no país. A atuação do Brasil na busca de recursos naturais em países da região é comparada ao novo colonialismo chinês.
Tanto Humala quanto sua rival Keiko Fujimori declararam que irão rever licenças ambientais e exigir consultas aos indígenas para prosseguir com as obras de hidrelétricas tocadas por empresas brasileiras.
"Se as comunidades não estão de acordo com projetos que podem afetar o ambiente e o desenvolvimento das populações, como o projeto da hidrelétrica de Inambari, essas obras não serão realizadas", disse Humala.
"Há uma sensação de que empresas brasileiras, como a Odebrecht, estão cada vez mais presentes no Peru, e isso gera resistência", diz Patrício Navia, professor da Universidade de Nova York. "Mas, por enquanto, essa expansão brasileira ainda é vista com bons olhos."
Humala afirmou que pretende mudar a Constituição peruana para que o Estado possa ter um papel mais ativo na economia.
Um de seus modelos é o BNDES e o papel que o banco desempenha no Brasil, ele afirmou. "Precisa aumentar o papel do Estado, para que possa ser sócio de empresas estrangeiras", disse.