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Paraguai, ata ou desata

Eliane Cantanhêde

BRASÍLIA – Quase ninguém percebeu, mas o almoço para Barack Obama no Itamaraty serviu também a um outro propósito: articular a aprovação do projeto que triplica a remuneração (de US$ 3 para US$ 9 por megawatt/hora) que o Brasil paga ao Paraguai pelo excedente de energia de Itaipu.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro Paulo Bernardo (Comunicações), foi de mesa em mesa, ou melhor, de líder partidário em líder partidário, fazendo um apelo nesse sentido. E, ontem, telefonou para o vice Michel Temer pedindo os votos do PMDB.

O projeto é resultado de um acordo de setembro de 2009 entre os presidentes Lula e Lugo. Foi apresentado ao Congresso em novembro daquele ano e, apesar de tramitar em "regime de urgência", só vai ser votado no plenário da Câmara amanhã. Se passar, vai ao Senado, onde ainda será submetido à Comissão de Relações Exteriores antes de chegar ao plenário.

O Paraguai é tão pequeno e pobre quanto estratégico para o Brasil. Tem uma fronteira complicada, abriga mais de 300 mil brasiguaios e é alvo da cobiça de outros países, mais ou menos ostensiva. Já imaginou se cai de vez nas garras da China, dos EUA, dos árabes ou da Venezuela? E se servir de base militar para algum deles?

A questão é considerada importante pelo governo, que teme três adversários na votação de amanhã: a oposição, porque é oposição; governistas que não deram sustos no salário mínimo e podem achar que agora é hora; e, enfim, discursos preconceituosos sobre o Paraguai.

Enquanto isso, Dilma não conseguiu visitar os vizinhos antes de todos os demais, como gostaria. Ela já foi à Argentina, mas embarcou ontem para Portugal sem ter ido ao Paraguai porque a diplomacia desaconselhou. Fazer o que lá? E dizer o quê? Que o Brasil não consegue aprovar um acordo fundamental para eles depois de um ano e meio de promessas vazias?

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