A sua opinião é apenas uma das muitas que foram emitidas nestes dias durante as discussões que decorrem no país (Alemanha) e no estrangeiro a propósito dos fornecimentos de armamento e material militar por parte dos consórcios de defesa da Alemanha aos países que não são membros da OTAN nem da União Europeia, e nem sequer são seus parceiros.
O motivo de todas essas emoções exaltadas de políticos e especialistas foram os contratos em em andamento para o fornecimento de armas a países como a Arábia Saudita, o Qatar, Israel e a Indonésia.
De acordo com informações a que a imprensa teve acesso, a Arábia Saudita enviou, já no ano passado, um pedido ao governo alemão para a aquisição de mais de 200 dos novos tanques Leopard-2, assim como de várias centenas de carros blindados de transporte Boxer na sua última versão. O Conselho de Segurança tinha aprovado esse negócio em princípio.
Se tornou conhecido que, até ao fim do ano 2012, a Indonésia espera receber da Alemanha 100 carros de combate Leopard e 50 blindados de infantaria do sistema Marder. Também foi aprovado o negócio de fornecimento a Israel de uma remessa de lança-granada perfurante, assim como de bombas de grande poder de destruição de bunkers subterrâneos.
Na opinião dos peritos, estas poderão ser usadas, por exemplo, em caso de ataques a instalações nucleares do Irã. No total, em 2011, o gabinete de Merkel aprovou exportações de armamento no valor de 5,4 bilhões de euros. Desse montante, 42 por cento correspondem a países terceiros como, além dos já referidos, os Emirados Árabes Unidos, a Argélia, o Iraque e Singapura.
Estes dados estão contidos no relatório governamental apresentado a 14 de novembro sobre os resultados das exportações de armamento em 2011. O próprio fato do aparecimento de um relatório desse tipo no final deste ano foi recebido com indignação pelos deputados do Bundestag, pelos representantes da oposição e pelos especialistas.
Um dos mais importantes elementos da estratégia de segurança, dizem eles, é apresentado à opinião pública como um fato consumado, ainda por cima passado um ano.
É claro que, de acordo com a legislação, sendo a exportação de armamento regulada por vários mecanismos legislativos, o parlamento não pode controlar essa área da atividade governamental. Isso, em princípio, também é o que está consagrado na legislação dos outros países exportadores de armamento, recorda o vice-diretor do Instituto de Análise Política e Militar Alexander Khramtchikhin.
“Quem e como organiza as suas exportações é, no geral, de um assunto interno de cada país, neste caso – da Alemanha. Por isso, realmente, isso é um assunto alemão.”
O especialista em assuntos de armamento Marc von Boemken, do Centro de Conversão Internacional de Bona (BICC), considera, no entanto, em vários casos excessiva a falta de divulgação ao público das decisões governamentais relativas à exportação de armamento e se manifesta a favor de uma maior transparência nessa matéria.
“Todas as decisões são tomadas pelo chamado Conselho de Segurança Federal, que reúne à porta fechada. Por isso, nós desconhecemos tanto as decisões tomadas, como a sua fundamentação e se há sequer uma fundamentação. Em geral, nós temos um grande problema com a transparência nessa esfera, por isso consideramos que eles deviam participar mais ativamente nas discussões que decorrem na sociedade.”
Claro que as leis são as leis, e o lucro é o lucro, mas ainda há os motivos políticos, consideram os peritos.
As mídia têm citado ultimamente as palavras de Angela Merkel que a exportação de armas para países com regimes “amigos” é um “instrumento de paz”. Segundo o já citado Jan Grebe do Centro de Conversão Internacional de Bona, os Leopards e os Marders, que “fogem” para os países de regiões explosivas, pelo contrário – desestabilizam uma situação que já é tensa, o que terá um efeito bumerangue contra a própria Europa. Segundo um dos comentários, Berlim já se “enrolou na embrulhada do Oriente Médio”. Será que ainda se pode parar a fuga das feras blindadas?