Jamil Chade
O governo dos EUA pediu a colaboração do Brasil na investigação de transações em nome de empresas e cidadãos iranianos que poderiam ter usado o sistema financeiro brasileiro para driblar sanções americanas e europeias. A informação foi passada ao Estado por diplomatas americanos que pediram anonimato.
Um telegrama publicado pelo site WikiLeaks mostra que, em 2010, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério da Fazenda, foi acionado pelos americanos por causa de quatro empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária. Elas seriam suspeitas de ser o braço financeiro de atividades terroristas. O principal alvo das medidas é o general Rostam Qasemi e as quatro empresas de construção que ele comandava. Todas são companhias ligadas à Khatam Al-Anbiya, empresa acusada pelos americanos de estar envolvida na fabricação de armas no Irã e de ser um canal de distribuição de recursos a atividades terroristas. Para o Tesouro americano, a empresa serve de meio de comunicação da Guarda Revolucionária com outros países e indivíduos fora do Irã.
Washington entregou uma lista de suspeitos ao governo brasileiro na esperança de obter informações sobre eventuais movimentações financeiras dessas empresas no Brasil ou com companhias nacionais. O pedido americano foi feito diretamente ao Coaf, sem passar pelo Itamaraty. O Coaf disse ao Estado que não se manifestaria sobre um caso específico, para não ferir o sigilo bancário dos envolvidos.
Washington e Bruxelas usam sanções para convencer o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, a desistir de seu programa nuclear e cortar seu financiamento. Membros e empresas ligadas à Guarda Revolucionária Iraniana, considerada a base de poder de Ahmadinejad, são alvos das sanções. O Brasil não é obrigado a seguir sanções impostas unilateralmente pelos EUA, nem mesmo a colaborar com as investigações. Mas empresas ou bancos brasileiros que tenham negócios com os alvos dessas medidas podem sofrer retaliações comerciais nos EUA.
Washington pretende garantir uma cooperação para congelar a ação financeira dos iranianos. A Suíça, por exemplo, fechou a operação de seus bancos em Teerã depois de anos de pressão dos EUA. Bancos brasileiros têm sofrido para garantir empréstimos para exportadores no comércio bilateral, justamente por causa da pressão que sofrem de Washington.
As autoridades americanas suspeitam que iranianos têm diversificado suas ações para garantir acesso a recursos e manter uma certa liquidez na economia. Para europeus e americanos, não basta apenas fechar o acesso dessas instituições e empresas iranianas ao sistema financeiro de alguns países, já que elas podem simplesmente mudar de local.