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Para EUA, demonstrar apoio a revoltas no mundo árabe prova dificuldade

Depois de seis meses de lutas internas na Casa Branca para conciliar os interesses dos Estados Unidos nas revoltas árabes com os valores americanos, na quinta-feira o presidente Barack Obama procurou retratar a revolta da região como a Revolução Americana e o movimento dos direitos civis.

Mas, mesmo enquanto Obama apelava ao povo da região para que abrace a autodeterminação como o caminho para a paz e a prosperidade, ele deixou em aberto quanto os Estados Unidos poderão complementar o seu entusiasmo com apoio financeiro concreto para uma transformação contínua, em uma região onde a repressão tem sido muitas vezes senhora da pobreza e da frustração.
 

O modelo a ser seguido, o presidente sugeriu a certa altura, é o da integração da Europa Oriental com o Ocidente após a queda do comunismo, pedindo ao Congresso que crie "fundos para o empreendedorismo" que serão investidos na Tunísia e no Egito, e provavelmente em outros lugares onde os ditadores ainda estão por cair. "Uma bem-sucedida transição democrática depende de uma ampla expansão do crescimento e da prosperidade", disse.

Mas não estamos em 1989. Na política mundial, como na vida, o momento é fundamental. O Oriente Médio e os países do norte da África agora em vários estágios de perturbação chegam à democracia em uma época de orçamentos apertados nos Estados Unidos e de crise econômica na Europa.

O valor oferecido ao Egito no discurso do presidente – US$ 1 bilhão em alívio da dívida ao longo de vários anos e US$ 1 bilhão em empréstimos para financiar melhorias de infraestrutura – não é um Plano Marshall, como os egípcios deixaram claro em conversas privadas com Washington. "A realidade é que simplesmente não há muito dinheiro em torno desse projeto", reconheceu um dos oficiais de alto escalão de Obama após o seu discurso.

"Essa é obviamente uma quantia muito pequena", disse Steven A. Cook, um pesquisador sênior de Estudos do Oriente Médio do Conselho de Relações Estrangeiras, depois do discurso de Obama.

O Egito, ele observou, tem uma dívida externa superior a US$ 30 bilhões e uma economia em queda livre. "Mas é isso que a nossa política pode fazer atualmente", disse.

Complexidade

O problema se torna mais complexo porque não há instituições no mundo árabe semelhantes à União Europeia, por exemplo. A perspectiva de adesão ao bloco europeu se tornou o farol que levou muitos dos Estados da antiga União Soviética a adotar as instituições do capitalismo democrático. Para muitos, até mesmo histórias de sucesso como a Polônia, isso levou anos. Mas geralmente o objetivo de se integrar com o Ocidente encerrava todos os debates políticos sobre como proceder.

Assim, Obama e outros líderes ocidentais, quando se encontrarem na França na próxima semana, estarão competindo para criar alguma solução.

A ideia agora é convencer os sauditas e outros países ricos em petróleo a garantir o êxito da transição para a democracia. Não é algo fácil na capital saudita, Riad, onde o rei Abdullah está indignado com o fato de Obama ter abandonado o presidente Hosni Mubarak. (Ele disse a Obama que precisava apoiar o líder egípcio, mesmo se os manifestantes na Praça Tahrir fossem alvejados.) A vontade da Arábia Saudita agora é deter a ameaça aos governos estabelecidos – até mesmo enquanto Obama busca parceiros para ajudar a integrar o novo Egito na economia mundial.

'Plano Marshall'

A equipe econômica de Obama, no entanto, acredita que não há necessidade de um Plano Marshall para o Egito. "É uma economia que se desenvolveu da maneira errada, e não uma economia destruída como a dos países da Europa após a Segunda Guerra Mundial", disse um dos principais assessores econômicos do presidente. "Eles precisam privatizar e abrir a economia ao comércio para criar empregos".

A ajuda que Obama descreveu é largamente simbólica, ele admitiu, um esforço para mostrar que os Estados Unidos estão dispostos a contribuir com a mudança econômica assim como estiveram dispostos no passado a ajudar Mubarak.
 

Obama fez seu discurso com cuidado para deixar claro que o apoio econômico depende do florescimento da democracia – palavras que escondiam um aviso de que se a Irmandade Muçulmana se tornar a força dominante no país, a cooperação econômica pode ser suspensa. Mas isso é mais do que apenas uma tentativa de atrair o povo egípcio.

Seis meses após um mascate tunisiano chamado Mohamed Bouazizi ter ateado fogo ao próprio corpo em protesto, dando início ao ciclo de revoltas e revoluções, o presidente está compreensivelmente ansioso para preencher qualquer vazio existente na região.

Com o destino da Líbia, Síria e Iêmen ainda em jogo, seus assessores sabem que ele precisa se alinhar mais com as vozes que pedem mudança e equiparar a sua revolução com aquela pela qual a América passou há 235 anos atrás.

Ele fez isso, declarando: "Os Estados Unidos da América foram fundados sobre a crença de que as pessoas deveriam governar a si mesmas. Agora, não podemos hesitar em ficar do lado daqueles que estão buscando seus direitos, sabendo que seu sucesso trará um mundo mais pacífico, mais estável e mais justo”.

Tal uso dos valores tradicionais americanos contém ecos deliberados do discurso de Obama no Cairo em 2009, a sua melancólica convocação para um reinício entre o mundo muçulmano e os Estados Unidos. Mas naquela época, era uma questão teórica.

Agora, Obama tem escolhas difíceis a fazer. Ele deve encontrar uma forma de apoiar os manifestantes no Bahrein sem derrubar o governo que abriga 5 ª Frota da Marinha americana. Ele deve encontrar uma maneira de manter a Arábia Saudita do lado dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que apela por reformas que alguns membros da Família Real saudita veem como suicídio assistido. E, principalmente, ele deve encontrar formas de ajudar os Estados em processo de democratização – algo bastante difícil em tempos normais, e muito mais difícil na era da austeridade.

*Por David E. Sanger

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