IGOR GIELOW
Um dia após o presidente Barack Obama apontar que houve apoio interno à presença de Osama bin Laden no Paquistão, o premiê do país, Raza Gilani, disse que novas ações como a que matou o terrorista trariam "risco de sérias consequências".
Em resposta, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou que os EUA levam em conta os problemas apontados pelo governo paquistanês, mas "não pediriam desculpas" pela ação que matou Bin Laden, em 1º de maio.
Gilani prometeu investigar como o terrorista ficou cinco anos em Abbottabad, a minutos da academia do Exército, até ser morto, mas negou "incompetência" ou "cumplicidade" do Paquistão.
Os paquistaneses querem evitar novas ações unilaterais americanas, como Obama já sugeriu. O alvo seria o número 2 da rede Al Qaeda, o egípcio Ayman al Zawahiri.
O premiê falou ontem ao Parlamento, mas sua ameaça foi contemporizada pelo óbvio: o Paquistão precisa dos cerca de US$ 20 bilhões que chegaram em ajuda ao país desde a aliança pós-11 de Setembro.
E Obama precisa do Paquistão na equação regional de seus interesses.
Assim, Gilani disse que tinha em alta consideração sua relação com os EUA -no que foi retribuído pelo porta-voz da Casa Branca.
Em sinal de distensão, autoridades americanas disseram sob anonimato que o Paquistão permitirá o acesso às mulheres de Bin Laden que mantém sob sua custódia -reivindicação dos EUA.
A guerra de versões continua. Ontem, a Folha ouviu de um militar paquistanês que a localização de Bin Laden era um segredo compartilhado por Paquistão e EUA.
Segundo ele, o monitoramento de telefonemas em árabe dos mensageiros durou dois anos, até chegarem a Abbottabad, e parou aí.
Ainda assim, não há explicação crível para o conjunto da operação. Dos vizinhos de Bin Laden em Abbottabad aos porteiros de Islamabad, é clara a falta de credibilidade das autoridades militares.
O real papel de Bin Laden na chefia da Al Qaeda também é alvo de polêmica. Os EUA dizem que ele estava firme e forte. O Paquistão suspeita que os americanos só queiram justificar sua ação.