O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou nesta quinta-feira (08/10) que os membros da aliança militar concordaram em adotar as medidas necessárias para fortalecer a sua defesa coletiva. Stoltenberg concedeu entrevista em Bruxelas depois de um encontro de ministros da Defesa da Otan.
Segundo ele, o Conselho do Atlântico Norte, órgão de decisão política da Otan, deu sinal verde para o plano de fortalecer a força de resposta rápida da aliança militar. Ela terá seu tamanho ampliado para 40 mil soldados, e a "Spearhead Force" poderá entrar em ação em até 48 horas.
Esta força poderá ir aonde for necessário para defender países-membros e aliados de ameaças, acrescentou Stoltenberg. Ele disse que a decisão reforça a segurança nas fronteiras leste e sul, incluindo a Turquia.
"A Turquia é um aliado muito forte e capaz, mas é claro que a Otan está sempre pronta para fortalecer e apoiar", declarou Stoltenberg. "Estamos em constante diálogo com a Turquia para ver se é necessário fazer mais."
A Otan também vai instalar duas forças de integração na Eslováquia e na Hungria para complementar as seis unidades já existentes na Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Bulgária e Romênia.
Stoltenberg reiterou que a aliança considera inaceitáveis as violações do espaço aéreo turco pela Rússia. "Vemos uma ampliação da atividade militar russa na Síria", disse Stoltenberg. "E os ministros concordam que a escalada militar russa na Síria cria sérias preocupações."
"Ampliamos nossa capacidade de apoiar e ajudar nossos aliados, mas é claro que isso também inclui aqueles que estão realmente próximos da violência, próximos dos distúrbios que vemos no sul – nesse caso, a Turquia. Se necessário, vamos enviar", disse o chefe da Otan.
"Tudo isso envia uma mensagem clara para todos os cidadãos da Otan: a Otan vai defender vocês. A Otan está presente. A Otan está pronta", disse Stoltenberg.
Rússia e EUA disputam avanço militar contra EI na Síria
Segundo os meios de comunicação da Rússia, em apenas alguns dias a Força Aérea do país teria avançado mais na luta contra a milícia terrorista do "Estado Islâmico" (EI) na Síria do que a aliança militar liderada pelos Estados Unidos em mais de um ano.
"Isso é estranho", comenta Steven Pifer, especialista em Leste Europeu do Brookings Institute de Washington, ressaltando que apenas uma pequena parcela das ofensivas aéreas russas na Síria se dirigiu contra o EI.
Michael O'Hanlon, seu colega do instituto, afirma que o procedimento russo contra os jihadistas é "altamente ineficaz". Do ponto de vista de Moscou, acrescenta, só se pode considerar os ataques aéreos bem sucedidos se a meta era reforçar a posição do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Na opinião de Stephen Blank, do American Foreign Policy Council, a versão divulgada pelo noticiário seria "típica ostentação russa". Para ele, é impossível "conseguir com algumas bombas, em poucos dias, aquilo para que foram precisos meses".
Ofensiva de solo à vista?
Há mais de um ano a coligação militar sob comando americano vem enviando ofensivas aéreas contra o EI. Segundo Washington, grande parte dos voos se realiza em território iraquiano. O Pentágono registrou, até o fim de setembro, mais de 7 mil bombardeios, dos quais 4.500 contra as forças do EI no Iraque.
A Rússia só iniciou no fim de setembro seus ataques aéreos – oficialmente também contra a milícia terrorista islâmica –, até o momento restritos apenas à Síria. Contudo, veículos de comunicação internacionais e russos especulam sobre uma extensão das operações ao território iraquiano.
O Ministério da Defesa em Moscou registra cerca de 20 ataques da Força Aérea nacional por dia, desde o início de sua operação. Na quarta-feira (07/10), pela primeira vez, a Rússia mobilizou navios de guerra no Mar Cáspio, para lançamento de mísseis contra alvos na Síria.
O especialista do Brookings Institute Michael O'Hanlon acredita que a intenção primária de Moscou é proteger Assad e sua base marítima no porto sírio de Tartus. Ele não descarta a possibilidade de uma ofensiva de solo das tropas russas, que, no entanto, não seria em grande escala. Enquanto a mídia ocidental já fala de preparativos para uma operação de solo, o Kremlin tem repetidamente desmentido qualquer plano nesse sentido.
Alvo incerto
Alexandra de Hoop Scheffer, da sucursal do German Marshall Fund em Paris, especula que o presidente Vladimir Putin também poderia enviar à Síria assim chamados "voluntários" – tática já adotada por ocasião da anexação da península ucraniana da Crimeia, em março de 2014.
Scheffer calcula que uma ampliação da presença militar russa na Síria permitirá ao Kremlin "definir melhor os alvos de suas ofensivas, obtendo uma significativa vantagem tática em relação à coalizão encabeçada pelos EUA".
No entanto, "ainda é controverso" quem, exatamente, os russos estão atacando, ressalva Hans-Georg Ehrhart, do Instituto de Pesquisa da Paz e Política de Segurança da Universidade de Hamburgo.
Enquanto o governo Putin declara que a intenção é investir contra o EI, o Ocidente afirma que também estão sendo bombardeados postos do Exército Livre Sírio – alegação que Moscou nega, por sua vez. Ehrhart, contudo, se diz seguro de que a Rússia está estabilizando as regiões dominadas por Assad na Síria – o que vai contra as intenções da comunidade internacional.
Hesitação americana é chance para Putin
Com as notícias de êxito militar na Síria, a Rússia quer mostrar que as possibilidades das forças americanas são limitadas, explica Alexandra de Hoop Scheffer. "Essa avaliação é, em parte, correta. O cansaço de guerrear e a indefinição dos EUA possibilitaram que Putin entrasse no jogo e assumisse a iniciativa diplomática e militar."
Os especialistas consultados pela DW são unânimes em apontar que a mobilização russa na Síria torna ainda mais complicada a situação na região. "A aliança sob comando americano não quer nem uma guerra indireta com a Rússia, nem permitir que Moscou desvie os EUA e seus aliados da luta contra o EI", diz Scheffer, do German Marshall Fund.
Assim, a fim de evitar uma desestabilização ainda maior na região, Washington buscará uma cooperação política e militar com a Rússia no Oriente Médio, calcula a especialista da agência em Paris.
Em relação às reais intenções russas ao intervir na Síria, Stephen Blank, do American Foreign Policy Council, parte do princípio que Moscou pretende fortalecer sua posição militar e política no Oriente Médio – como na época da União Soviética.